quinta-feira, 29 de março de 2007

Amores Dissecados no Satyros

De 2 de junho à 29 de julho estaremos apresentando o espetáculo Amores Dissecados em São Paulo pela primeira vez. E qual lugar irá abrigar nossa querida peça? O Espaço dos Satyos Dois, é claro.

Vamos ocupar o teatro durante dois meses, no horário nobre, para contar e recontar essas histórias de amor que já emocionam tantos há mais de um ano. Quem ainda não viu vai ter a oportunidade de conhecer o trabalho em um lugar apropriadíssimo. Aqueles que já viram poderam conferir a apresentação neste novo espaço, além de ver todas as novidades que andamos aprondando para a peça nos últimos meses.

O serviço é o seguinte:

O que: "Amores Dissecados"

Quando: 02 de junho à 29 de julho - Sábados às 21h e Domingos às 20h30

Onde: Espaço dos Satyros Dois

Endereço: Praça Roosevelt, 124 - São Paulo - SP

Ingresso: R$ 20 (R$ 10 meia)

Lugares limitados!

Informações: (11) 3258-6345

Para saber mais da nossa agenda, dê um pulo no nosso site oficial. Qualquer novidade que surgir será colocada aqui no blog, também.

O avarento Autran

Se tivéssemos que denominar o rei do teatro brasileiro (como fizemos com a dama aqui) esse rei seria o grande Paulo Autran. Na quinta-feira, fui assistí-lo no Teatro Cultura Artística, em O Avarento. Ele, como sempre, esplêndido. Dispensa comentários.

O Avarento é uma peça escrita pelo francês Moliére, em 1668. Grande conhecedor da aristocracia francesa da época, por onde transitava com sua companhia, o dramaturgo pincelava retratos cáusticos muito precisos dos "nobres", utilizando a comédia como instrumento principal. Fazendo do riso sua arma, Moliére atraía platéias e ainda conquistava amizade com os nobres retratados que, vistos através da comicidade, não se davam conta da crítica contida nas entrelinhas.

Hoje, O Avarento é uma peça que demonstra a mesma acidez. Sua simplicidade reside no fato de retratar algo que seja muito ligado à época em que foi escrita, mas que revela como a avareza não mudou nada desde aqueles tempos. Baseado nisso, Felipe Hirsch, diretor da Sutil Companhia de Teatro ficou incumbido de dirigir Autran como o avarento Harpagon. Felipe, com um time ótimo de atores - entre eles, estavam Elias Andreato, Gustavo Machado e Cláudia Missura- consegue o efeito cômico e o público se afeiçoa ao espetáculo muito rápido. Autran oferece grandes momentos de riso e segura tudo, ponta a ponta.

A peça funciona. Sim. Mas artisticamente, faltam coisas. A cenografia de Daniela Thomas é apenas cenário, utilizado na peça apenas no início. De resto, funciona como porta de entrada e saída de personagens. Desperdício. Ainda porque come o espaço de um grande palco, reduzindo a uma boca de cena estendida. A trilha sonora, nem se ouve direito. A iluminação: pobre. Alguns sobe-e-desce de luz e uns focos aqui e acolá em solilóquios de Autran. E, além disso, o texto é seguido do início ao fim, sem nenhuma vírgula trocada. É L'Avare da época de Moliére, apenas. Há certo destaque para a personagem que destoa: o filho de Harpagon, que usa um tênis All-Star, provavelmente uma dica do próprio ator.

Hirsch, um diretor com grande inventividade, prendeu-se ao feijão-com-arroz. Mas não estava de todo errado. Pois parece que colocou-se à serviço do grande ator. Ao menos. E a platéia é levada por ele. Quem tem tantos anos de teatro, com tanto esmero e técnica, coloca fácil o público nas palmas das mãos. São 84 anos. Bem vividos. Bem encenados. Até agora, não me livrei do encanto de ver Paulo Autran em cena. Toda vez que o vejo, me orgulho da arte de ser ator.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Mostra na Cinemateca

Começou hoje na Cinemateca Brasileira Leituras Russas, uma mostra que pretende projetar filmes que dialoguem com a literatura russa (tão rica, né?), de varias maneiras que só o cinema nos passa. Desde o expressionismo alemão, ao cinema moderno e a forma de adaptar uma obra literária para o cinema. A mostra não pretende projetar somente filmes russos, há por exemplo a adaptação de O Idiota (Dostoievisk) por Akira Kurosawa (Japão) e do mesmo livro por Ivan Pyriev (russo).

Enfim, é uma mostra com uma abordagem diferente e que pode se tornar interessante se você estiver disposto a entrar na literatura russa, não pelo seu olhar, mas pelos de cineastas malucos e com visões diferentes uns dos outros!

Pra maiores detalhes, acesse a programação no site.

Dave Matthews Band

A banda é esta. Formada em 1991 por iniciativa do vocalista e violinista Dave Matthews, na Virginia. A banda tem cinco integrantes, entre eles Leroi Moore responsável pelo sax e outros instrumentos de sopro (incluindo flauta, vejam só) . A graça dele dentro da banda é mais notável nos shows. Ao vivo o cara arrasa absurdos com solos de três, quatro minutos no sax. É o ápice do espetáculo e o momento em que a banda convence qualquer um de serem "músicos".

DMB tem oito álbuns mas uma porção de discos ao vivo e coletânias. Entre os maiores sucessos da banda (e os que eu indico) tem Crash Into Me, #41, Dreamgirl. Nesse último a atriz Julia Roberts faz um bico no clipe contracenando com todos os integrantes da banda, dos quais a atriz é amiga e o trabalho foi diversão para os dois lados.

Muitas músicas com letras e arranjos bons e é por isso que a banda conquista. É música de qualidade, na letra e na melodia, e sustenta o tempo que tem (em média 5 ou 6 minutos os grandes sucessos). #41, por exemplo, termina com versos sinceros que me ganham, denovo e denovo, toda vez que ouço no mp3:

"I'm only this far
And only tomorrow leads my way

Why won't you run

Into the rain and play?
And let the tears splash all over you."
No momento a banda faz shows e divulda seus álbuns ao vivo e as coletânias. O ultimo foi Stand Up em 2005. Desde então o último lançamento foi The Best of Whats Around.

É uma pena, a banda é muito capaz. Porém, ainda mais para os fãs de longe que talvez nunca assistirão um show é importante que lancem músicas novas. O ponto bom é que a dicografia é grande. Dá pra passar bons tempos ouvindo ela.

Sem medo de ser velho

Com três dias de atraso eu encontro tempo para falar sobre um dos melhores shows que já vi. E posso dizer isso ao lado de experientes sessentões que dividiam a platéia comigo. A segunda vinda de Roger Waters, ex-baixista e fundador do Pink Floyd, ao Brasil foi fenomenal.


O Estádio do Morumbi lotado pôde acompanhar uma das maiores representações da palavra show atualmente. A turnê The Dark Side Of The Moon veio ao país apoiada na execução completa, na íntegra e na ordem do tal terceiro álbum mais vendido da história. Mas a apresentação, de 2h45 cravados, trouxe muito mais.

Excursionando com a mesma banda há mais de uma década, Waters tem todo o apoio que precisa. Um guitarrista fenomenal, outro competente, um baterista inspirado, um conjunto de backing vocals ótimo e um tecladista melhor do que o próprio Richard Wright (que, verdade seja dita, nunca foi dos geniais). Isso tudo evidenciado pelo som de 360º quadrifônico, como jamais ouvido por aqui, que transformou o estádio em uma imensa concha acústica.

O show serviu de refúgio àqueles que não podem ver (e certamente não verão) o atual Pink Floyd ao vivo, com seus espetáculos imensos e cheios de efeitos. Waters não fez por menos - provando porque é o autor do conceito do show-evento, criado na turnê The Wall - e apresenta à platéia um telão com projeções de todos os tipos: imagens psicodélidas, curtas-metragens, histórias em quadrinhos, fotografias, imagens clássicas. O palco pega fogo (intencionalmente) pelo menos duas vezes. Sem contar o já clássico porco inflável gigante com dizeres de injustiça social, que passeia pela platéia e depois é solto ao prazer do vento, para sumir na escuridão na noite.

Tudo isso para embalar execuções irretocáveis de sua carreira solo, como Perfect Sense e Leaving Beirut e imortais de sua banda como Wish You Were Here, Shine On Your Crazy Diamond, Another Brick In The Wall, Sheep, Brain Damage e Eclipse. Estas últimas, aliás, marcam o momento mais fantástico do show - não só por serem do meu top 5 do Floyd - mas por tornar a platéia de 45 mil pessoas um imenso coral, embalado pela nostalgia enquanto vê o prisma da capa do disco ser projetada em três dimensões com lasers em movimento bem à sua frente.

Depois de 34 anos, finalmente Dark Side of The Moon ao vivo. E eu, que nunca imaginei presenciar isso, não pude deixar de notar como nada ali parecia velho. Parecia, aliás, que tempo algum havia passado. Pelo contrário, 34 anos ou 2h45 pareceram curtos demais.

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Blog de Ian Ritchie (saxofonista da banda de Roger Waters)

segunda-feira, 26 de março de 2007

Cinema para brasileiro não ver

Toda vez que entrevisto algum artista aqui para a revista, faço a clássica pergunta: Você gosta de cinema? Sonha em fazer algum dia?. E a resposta é sempre a mesma: A-do-ro! Já fiz diversos filmes... Pois aí eu te pergunto, se todo mundo adora e todo mundo já fez, porque o panorama do cinema brasileiro me parece tão escasso? Onde essas dezenas de longas e centenas de curtas foram parar? Uma semaninha de exibição no Unibanco ou no HSBC e adeus.

Se for da Globo Filmes até dura mais do que uma semana, mas o público é exatamente o mesmo que acompanha as novelas e vão ver os filmes somente como uma extensão do que já vêem na telinha. Nesse caso, não faz diferença ser cinema ou não, entende? Desde que tenha a Juliana Paes ou o Lázaro Ramos (óteeeemo, mas que já deu, né?). E são milhões de Reais gastos ao léu pela Ancine e cia. com películas e ousadias cinematográficas que ninguém vai ver, mas que todo mundo se vangloria de ter feito. E as coisas realmente boas e criativas também se perdem no buraco negro do cinema nacional e você acaba sem nunca ter visto filmes bacanas que jamais sairão em DVD.

E para os que insistem na procura por produções nacionais, a dica é o manjado, porém utilíssimo Porta Curtas, da Petrobrás. Por lá você encontra desde curtas estranhíssimos do insano diretor Nilson Primitivo, até os ótimos, porém batidos curtas de Jorge Furtado, como Ilha das Flores (obrigatório!).

Aliás, descobri o site quando meu namorado antenadíssimo me apresentou o soturno curta Império das Pelúcias, do Primitivo, com (pasme!) Rodrigo Amarante do Los Hermanos e sua esposa Karine Carvalho (que acaba de estrear o filme Brasília 18%). Enfim, um site para fuçar naquelas horas vagas em que o trabalho está um tédio.

Agora a pergunta que não quer calar: O Cheiro do Ralo vale os milhões gastos nele? Assista e me responda você.

sexta-feira, 23 de março de 2007

Veja bem

Julian Beever é um artista inglês que decidiu fazer algo diferente. Inspirado por antigos mestres da pintura e pela cultura do grafitti, levou seus conceitos de ilusão tridimensional para as ruas. Literalmente.

O resultado são essas imagens do post. Todas feitas só com giz sobre o chão de ruas comuns. Vistas em um determinado ângulo, elas ficam incompreensíveis... Mas olhando do lado certo, cria-se um efeito fantástico que dá volume à imagem.

Graças à internet, suas obras explodiram, dando visibilidade até aos seus trabalhos mais tradicionais. Mais que isso, abriram diversas portas, e ele já foi contratado para criar peças publicitárias para grandes marcas.



O homem soube usar a rede para se mostrar, divulgando aquilo de mais interessante em seu trabalho. Milhões de artistas por aí devem estar coçando as cabeças com seus pincéis, "porque diabos EU não pensei nisso antes?!".

quinta-feira, 22 de março de 2007

Across The Universe

Aproveitando a bola que a Tsuji levantou no título dela, dê uma olhada no trailer a seguir, do filme Across The Universe, de Julie Taymor (Titus, Frida)

Não sou fã de musicais, mas este me deixou curioso. É todo baseado em composições dos Beatles, inclusive o enredo. Dá para ouvir um pouco de Girl, With A little Help From My Friends, All You Need is Love, Helter Skelter, I Want You (She's So Heavy), Hey Jude e Across The Universe, além de inúmeras referências visuais. E isso tudo só no trailer. Tem estréia prevista para setembro, nos EUA.

Obs: Destaque para Bono, do U2, na marca de 1:45. No filme ele é o Dr. Robert e canta I Am The Walrus.

Take a sad song and make it better...

Quando estou triste, saio em busca de algo que acalente meu coração e me ponha para dormir mais calma. Confesso que nesses 23 anos, muitas músicas, peças, filmes e livros me acalmaram os nervos e me pegaram no colo.

Sabe aquela música que faz você se debulhar de chorar, mas que instantaneamente te devolve a crença na humanidade? Ou mesmo aquela comédia romântica boboca, que assistida no dia certo, te faz acreditar no amor eterno? Talvez já tenha até acontecido de uma canção no rádio te animar depois de um tombo ou mesmo de um livro mudar a sua vida. Pois é aí que eu quero chegar. Por alguma razão a arte cura nossos males, complementando as tristezas, as alegrias ou nos dando esperança.

Um churrascão não existe sem um samba bacana, assim como um pé na bunda não é o mesmo sem uma música brega para você molhar o travesseiro.

Queremos que uma música conte nossa história, que o livro nos ensine a viver, que a peça nos inspire a amar. E se todos pensamos assim, então só me resta acreditar que a arte é o que dá liga ao sentimento de universalidade. Você e uma menina lá do Alabama choraram juntas escutando Hey Jude, eu e um menino australiano nos sentimos seres iluminados depois de ler Cem anos de Solidão. Com certeza alguém voltou a acreditar no amor depois de Casablanca.

Estamos todos ligados por esse placebo gigantesco chamado arte. Alivia a alma, afasta a solidão, descomplica a vida. Tente em casa!

Obs: A foto bacana é do filme Embriagado de Amor. Um desses que serve de remédio.

Blogs de teatro e cinema

+ Iniciativa brilhante da Folha Online: na linha de seus blogs que falam de temas variados, temos agora um log dedicado ao teatro. Cacilda é o nome. Blog de Nelson de Sá, crítico de teatro de tempos atrás na Folha de São Paulo, que volta a falar a respeito das artes teatrais. Também escreve no blog Lenise Pinheiro, repórter fotográfica da Folha, excelente iluminadora e diretora de arte. O blog nasceu há poucos dias. Veremos no que vai dar.

+ Quem curte críticas de teatro poéticas, podem encontrá-las no Na Moita, blog do crítico Sérgio Sálvia Coelho, também da Folha de São Paulo. Ultimamente o blog inflamou de visitas depois da crítica de Coelho a respeito da peça "Inocência", dos Os Satyros, havendo debates entre o crítico e atores da peça (Ivam Cabral e Alberto Guzik). Outra polêmica alimentada no blog ocorreu quando Coelho deixou a peça Os Sertões, do Teatro Oficina, no meio da apresentação. Zé Celso enviou e-mail à FSP, reclamando da atitude do crítico e Sérgio respondeu através de seu blog.

+ Para não dizerem que só falei da FSP, agora indico um endereço de cinema no Estadão. É o blog do Luiz Carlos Merten. Merten participa de muitos festivais mundo afora e nos atualiza com o que acontece. Além disso, o crítico, nas entrevistas com diretores e atores, diz suas opiniões sobre seus filmes. Na última entrevista com Alejandro González Iñarritú, diretor de Babel, Merten discutiu com o cineasta por ele emitir sua opinião sobre a película. Ele também fala muito do que acontece no cinema brasileiro e, logicamente, como todo cinéfilo, fala muito a respeito de clássicos e filmes referenciais na história da 7ª Arte.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Pretextos e revelações

Nunca é tarde para recomendar um dos melhores CDs do ano passado. Aliás, porque não, o melhor CD do ano passado. Pois, em época de críticas fáceis à política dos EUA e a George W. Bush, qualquer um se diz capaz de discursar revolução política. Ficou fácil ser crítico porque dá para ver crítica em tudo.


Mas o bom é mais sutil. A banda britânica Muse conseguiu passar por cima da lógica simplista e criou um álbum crítico e sonoramente irrepreensível. Black Holes And Revelations amarra batidas dancantes com letras polidas e políticas. Leva o interesse social para as pistas de dança e para as rodas de mosh.

O apontar de dedos é evidente em trilhas como Soldier's Poem e Exo-Politics. Mas o forte vem dos golpes sorrateiros. Mesmo em letras que parecem mais inocentes, como na ótima Supermassive Black Hole, Matthew Bellamy canta versos sinuosos:

"Oh baby dont you know I suffer?
Oh baby can you hear me moan?
You caught me under false pretences
How long before you let me go?"

("Oh baby, você não sabe que eu sofro?
Oh baby, você não me ouve gemer?
Você me acapturou sob falsos pretextos
Em quanto tempo você me deixará partir?")

Escolado em seu quarto disco, o trio afina muito bem suas influências de Queen (com vocais em coral e trechos quase epopéicos) e Radiohead (em seus experimentalismos eletrônicos), mas trabalha muito mais aquilo que já trazia desde o primeiro trabalho: o barulho pesado e elaborado. É de se ouvir alto, bem alto. Obra bem-amarrada, que sobrevive à muitas audições, sempre ganhando força.

Nunca há de tocar nas rádios brasileiras, nem de ter seus clipes passados na TV, mas em era de internet, não há download que não resolva problema desse.

terça-feira, 20 de março de 2007

A grande atriz

Dizem que Fernanda Montenegro é a dama do teatro. Que nada. É uma grandissíssima atriz, mas há anos que a Fernandona não pisa em um palco. Ultimamente o negócio dela é cinema. Quem, ao meu ver, ainda representa a classe mesmo depois de ida é Cacilda Becker. Porque ainda permanece nas memórias de quem faz teatro, tanto pela força como atriz como pela atitude de quem parecia ser a mãezona de todos os atores de sua época.

No palco, uma grandeza. 68 peças, nada menos. Irmã de Cleyde Yáconis, outro ícone do teatro brasileiro, Cacilda fez a carreira decolar no TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), em São Paulo. Dez anos depois montou sua própria companhia, o Teatro Cacilda Becker. Em seu currículo, clássicos como Longa Jornada Noite Adentro, de Eugene O' Neill, e Quem Tem Medo de Virginia Woolf, de Edward Albee.

Notável e pequena. Não era Carmem Miranda, mas ela ousava. Voz ela não tinha para cantar e, numa dessas ocasiões, ela disse:

"Vou cantar e ponto final. Sou Cacilda Becker e quando finjo que estou cantando, todo mundo acredita."
Dizem que à época da ditadura, um censor quis interromper o show de Maria Bethânia, Tempo de Guerra, no TBC, e Plínio Marcos - o incrível dramaturgo, mas um grande boca-dura - desacatou o militar. Foi em cana. Deu-se o quiproquó. Confusão. Atores, músicos, todo mundo queria que soltassem Plínio, mas ninguém conseguia. Até que abriu-se um corredor. Triunfante, a pequena apenas disse:

"Solte este homem! Amanhã nós iremos até a delegacia esclarecer o que aconteceu aqui e o senhor, por favor, esteja lá!"
Ao que o guarda respondeu:

"Sim senhora, a gente explica direitinho."
Em 1969, em outra antológica de suas peças, Esperando Godot, de Samuel Beckett, contracenando com seu marido, Walmor Chagas, no intervalo, ela passou mal. Teve um derrame cerebral. E foram-se 38 dias de agonia, internada, até a incrível atriz partir.

A maior atriz brasileira. Nenhuma equiparável. Quem dera os atores de hoje pudessem se espelhar nessa figura. Grande Cacilda. Eu mesmo sinto saudades dessa senhora, apesar de nunca tê-la visto. É um daqueles mitos que não se pode negar.

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segunda-feira, 19 de março de 2007

Alhos to Bugalhos

"Suddenly the walls of the room are gone and the bed is on the beach. Clementine glances up.

CLEMENTINE - Look. Look where we are!
"
Na sexta-feira assisti pela décima vez Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. Um dos meus favoritos, mas que, assim como O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, caiu no gosto do povo. Isso não invalida o quão bacana os dois filmes são, mas faz parecer um pouco banal indicá-los, afinal, você já deve ter visto e adorado também. Pois bem. A dica então é dar uma olhadela no roteiro original (em inglês) de Brilho Eterno e de outras centenas de filmes no site do Cinema em Cena (que você, cinéfilo amigo, já deve conhecer e adorar também).

A Malvada, Cidadão Kane, A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971), passando pelo confuso Amnésia e até obras de Woody Allen, tem tudo lá. Não me pergunte como eles conseguiram reunir todos esses roteiros, só sei que fiquei encantada. Devorei o Brilho Eterno e agora pretendo ler o do O Labirinto do Fauno. Uma boa dica para aprofundar ainda mais o interesse no seu filme preferido.

Desde que aprendi a escrever os roteiros das cenas que fazemos no teatro, nunca mais deixei de fazê-los. Funciona muito bem como uma marcação mental, ainda mais quando você escreve e atua.

Fico pensando também em como as idéias surgem do nada, se materializam no papel e só depois viram realidade. E me espanto em como algumas delas já surgem cinematográficas. Às vezes, quando estamos fazendo cenas no teatro, de repente surge uma idéia que apesar de ser ótima, concluímos que só ficaria adequadamente exposta no cinema, com sua infinidade de cortes de edição e recursos. Leio também muitos roteiros de novela e é incrível como as cenas, talvez pela repetição e falta de originalidade, são facilmente visualizadas.

Enfim, é uma maravilha como um roteiro bem escrito te permite distinguir se uma história é um filme, uma peça, uma novela ou mesmo um clipe. Por isso, que digo e repito: É preciso seguir o instinto do roteiro para não criar obras deconexas. E tenho dito!

domingo, 18 de março de 2007

Quem quer ser artista?

Eu estava em casa no domingo à noite, logo depois da vitória do meu Corinthians, que não está sendo algo muito freqüente, infelizmente. Enfim, eu estava feliz.

No entanto, resolvi entrar na internet e logo na página inicial eu vejo uma notícia: “BBB7: Íris e Flávia podem virar atrizes da Globo.” Eu juro que não estou mentindo, pois veja.

Não quero discutir se estar na Globo é bom ou ruim, se o Big Brother Brasil é interessante ou não, eu apenas quero levantar perguntas. Que são basicamente duas, pois quero ser breve neste post. E as perguntas são:

1. O que torna uma pessoa de fato um artista?

2. Se eu fosse uma “celebridade” e quisesse me tornar neurocirurgião, seria me oferecida uma vaga num hospital e uma cirurgia para eu realizar?

Eu não quero neste momento e neste post entrar em questões profundas, mas quem quiser pode mandar o e-mail que eu entro em contato e a gente discute.

É só um desabafo. Desculpa se é inadequado, mas eu precisava escrever sobre isso, pois eu sou ator, iluminador e psicólogo porque eu estudei, estudo, trabalho, amo, e mais uma série de outras coisas que me tornaram o profissional que eu sou.

E é uma agressão, um insulto, dói muito na minha alma e no meu corpo ver que pessoas são anunciadas ou se anunciam atores sem nunca terem lido Shakespeare ou Sófocles e nunca terem exercitado o corpo cenicamente, e vou ficar só nesses exemplos para me ater apenas na profissão de artista e não falar das outras.

Existe a técnica e o talento, mas uma pessoa nunca será artista se não possuir as duas coisas. E para isso é necessária formação, que é constante e trata da alma e do corpo.

Enfim... é só um desabafo, talvez confuso e sem muitos desdobramentos.

sábado, 17 de março de 2007

Movimentos exploratórios

Ontem eu pus os pés no palco do Teatro Municipal. Mas pouco importava isso. Ao entrar, já se via onde a Cia. 2 do Balé da Cidade de São Paulo queria chegar. A proximidade com o público, para eles, era urgente. A imensidão do palco do Municipal é algo que eles queriam vencer. E o ângulo que precisavam do público, o ângulo pessoal e o ângulo cenográfico, pediam uma aproximação. Foram três coreografias: Dois Corpos Que Caem, Óptica e Um Outro Corpo. Poucos intérpretes em cada uma.

Dois Corpos Que Caem trazia dois homens (Aguinaldo Bueno e Osmar Zampieri), numa luta simbólica: um era o que comandava; o outro, o comandado. Cenografia belíssima e limpa. Folhas brancas ao chão formando um mosaico, um paletó, dois banquinhos, um poste móvel de luz, dois apitos e um acordeón. Tocado por um dos intérpretes, inclusive. O homem-ditador impunha ritmo, força, passava na frente do outro, mexia nele como uma marionete. Alguns ecos no conto homônimo de João Silvério Trevisan.

Poderosíssimo. Principalmente pela força dos intérpretes. Rápidos, mexiam-se como gatos, evocando símbolos, como num Esperando Godot misturado com Liberdade, Liberdade. Destaque para a cena do poste móvel de luz, que girava enquanto eles se esquivavam, um jogando o poste contra o outro.

Óptica era o mais fraco. Mas não menos bonito. Um sólo. A marionete (Andréia Maia), novamente, com nariz de palhaço e um vestido que se despedaçava em plumas. Ganhava forma na dança, querendo ser gente. E acabava se apaixonando pelo palhaço de brinquedo, que tocava como uma caixinha de música. Bonito, sim. Mas não entusiasmava.

Por outro lado, a última coreografia, Um Outro Corpo, também trazia um sólo, mas melhor construído. As irritações de uma mulher (Cláudia Palma) desesperada por amor, carinho e companhia. Uma figura desenhada no chão por fitas transfigurava a prisão da qual ela não poderia sair. Espasmos, giros, quedas, tensões, planos alterados, textos fragmentados. A intérprete inclinada quase sempre. E quando em equilíbrio, não se contentava. Uma expressão vivaz, dança-teatro na mais pura energia.

A Cia. 2 é a verve exploratória da dança contemporânea de São Paulo. Vale sempre o ingresso.

* A Cia. 2 segue com apresentações neste final-de-semana, no Teatro Municipal. São apenas 110 lugares. Então a dica é: compre antes.

sexta-feira, 16 de março de 2007

Luz, Câmera, Push Start

Parece que a discussão do momento é cinema X videogames. Ou mesmo arte X videogames. O blog da Ilustrada cantou a bola. Com a estréia nos EUA de 300, filme de Zack Snyder baseado nos quadrinhos de Frank Miller, a crítica se divide (que novidade): o trabalho é videogame demais e filme de menos ou a influência dos videogames no cinema apenas tornou-se evidente, pois já existia há uns bons anos. Não tendo visto o filme (aqui só chega no dia 30 deste mês), posso dar apenas um dedo na conversa.

O game é a mídia mais cinematográfica que surgiu desde o próprio cinema (a TV não conta com um fator fundamental: atenção e envolvimento totais do espectador). Geralmente o rótulo “filme que parece videogame” se restringe apenas ao uso de efeitos especiais e exageros narrativos. Mas a influência dos games na sétima arte é das antigas. Não apenas em adaptações suspeitíssimas como Super Mario Bros. (1993) e Street Fighter: O filme (1994). A fascinação com o universo virtual vem desde Tron (1982), o clássico nerd com Jeff Bridges.

Mas foi além. Em filmes como os da série Matrix, os irmãos Wachowski não se acanharam nos movimentos de câmeras típicos de cut-scenes (aquelas cenas entre as telas dos jogos, em que não é possível controlar o que acontece), ou mesmo vindos de títulos agitados da geração 3D – caso da cena da Freeway, em Matrix Reloaded (2003).

Em uma cena fantástica do excelente Oldboy (2003), o protagonista caminha por um corredor enfrentando brutalmente com um martelo dezenas de vilões. A câmera se posiciona lateralmente, como em um jogo de luta de plataforma, movimentando-se apenas na horizontal e sem cortes. Isso sem falar nos filmes de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez.

Essas inserções são saudáveis, um intercâmbio natural. O cinema toma emprestado a percepção da interatividade para aproximar o espectador da situação, utiliza uma noção desenvolvida previamente. Ruim só é quando são ignorados os limites do meio. O erro mais freqüente são os abusos desses recursos sem levar em conta a percepção participativa do espectador.

O protagonista de um videogame é formado 50% pelo jogo e 50% pelo próprio jogador. A personagem é um amálgama das limitações de um e das escolhas do outro – mesmo quando as escolhas são pré-definidas, há a noção de que o caminho até a escolha foi trilhado por quem joga. O cinema morre antes disso, impossibilitado de transmitir as sensações reais de participação, como perda, culpa, satisfação.

Game é arte, sim. Mas muito mais jovem que o próprio cinema. Nasceu e desenvolve-se em um meio criado para lucrar financeiramente. Embora as comparações sejam inevitáveis, ainda há de se deixar tudo apenas no campo das influências. Cada um em seu cada um. Com seus Cidadão Kane e O Poderoso Chefão ou seus Metal Gear Solid e Half-Life 2.

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Trailer do filme 300 (em inglês)

quinta-feira, 15 de março de 2007

Estamos endurecidos!

Quando assisti O Mágico de Oz, fui surpreendida no meio do espetáculo por um cheiro agradável de flores. Pareceu algo como um bouquet de jasmim, baunilha e um toque refrescante cítrico. Uma delícia. O musical não era lá um primor, mas essa lembrança olfativa me marcou. Confesso que na hora que inalei esse perfume, até passei a gostar mais da peça. É o famoso um toque a mais, sabe?

Agora não é mais novidade, mas esse teatro ligado às sensações é a cara do homem atual. É a resposta da arte para a anestesia do humano. Talvez porque, em consenso geral, percebemos que as pessoas enrijeceram. Falta sensibilidade, falta sentir o ambiente, falta tempo e saco para aguçar os sentidos.

A Sutil Cia de Teatro usou água aos montes em sua Avenida Dropsie (foto), a peça Jardim das Delícias se muniu do cheirinho da comida para mexer com o estômago e as lembranças do espectador, Zé Celso usa até de boquetes para incluir o público na cena e nós, do Teatro Insano, convidamos as pessoas a entrar no palco e sentir as nossas energias. São só exemplos e é claro que o teatro sempre buscou mexer com os sentidos, a diferença é que isso nunca foi tão promissor quanto agora.

As pessoas estão dispostas a ficar à flor da pele.

*Isso surgiu na minha cabeça depois de ler uma matéria no portal G1, que não tem nada a ver com teatro, mas que me remeteu aos sentidos. A banda de grindcore The County Medical Examiners, que nunca escutei e nem quero, encartaram em seu novo CD um selo, que quando raspado, exala um cheiro de carne podre. Apesar de extremamente nojento e de mau gosto, me fez pensar sobre como os artistas, de uma maneira geral, buscam instigar seu público-alvo. Adoro experimentações e apoio, mas no caso desse disco... não contem comigo!

quarta-feira, 14 de março de 2007

O Labirinto do Fauno

Eu só assisti no último final de semana. Eu sei que já era pra ter visto desde o ano passado quando estreiou. Mas dinheiro é coisa complicada. Posso dizer que a expectativa era muito grande. Não só pelos prêmios no Oscar (Melhor Direção de Arte, Melhor Maquiagem e Fotografia) ou pelas indicações de amigos. Existia expectativa mesmo.

O filme me tocou, realmente. De verdade, eu quase me derramei em lágrimas. E no final também, um pouco. Não há quem resista a combinação da imagem, da doçura de Ofelia (Ivana Baquero) e da trilha sonora (feita por Javier Navarrete) doce e misteriosa.

Agora, que a verdade seja dita. Várias coisas estavam no filme à toa. E isso não me agrada. Por exemplo, no episódio em que Ofélia recebe uma ampulheta do fauno e é alertada que, após entrar pela pequena porta que desenhou em seu quarto, teria que sair necessariamente quando o tempo da ampulheta acabasse. O tempo acabou, ela desenhou outra porta e pronto. E aliás, na mesma cena, porque raios ela come as uvas? Ah, me perdi nisto daí.

Acho que a espectativa era porque eu e os outros três que foram comigo esperávamos um filme muito mais sobre o bendito LABIRINTO do que sobre o malvado capitão, a briga pelo território e etc. Não que seja ruim, mas foi como quando lançaram A Vila (M. Night Shyamalan) e a propaganda foi de um filme de terror, quando no muito este oferecia suspense e um tapinha na cara.

Indico, afinal, por tudo o que eu disse lá em cima. Mas cuidado com o que espera da fantasia que o filme oferece.

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Trailer do filme (em inglês)

terça-feira, 13 de março de 2007

Ponha os pés no palco do Teatro Municipal!!!

Pra quem curte dança contemporânea e está em São Paulo, uma super opção é assistir ao Balé da Cidade de São Paulo. Os espetáculos são sempre lindos e incluem um quê de balé clássico, pelo menos na meia-ponta dos bailarinos e em alguns rodopios. Mas não é balé. É dança contemporânea.

O que tem nesse fim-de-semana é algo interessante, principalmente pra quem ainda não pisou os pés no belíssimo Teatro Municipal de São Paulo. A Cia. 2 do Balé da Cidade, que investe muito em experimentalismo com a dança, vai dançar (óbvio) no palco (óbvio) e o público estará no palco também (!). Isso mesmo. Oportunidade única de pôr os pés no palco do Teatro Municipal e ver os bailarinos de perto realizando suas proezas.

Serão apenas 110 lugares por apresentação. E os lugares serão localizados em pontos estratégicos do palco. Ou seja, vá assistir, mas corra, porque vai ter muita procura.

Balé da Cidade de São Paulo - Cia. 2
Quando: Dias 15 e 16 de março, às 21h; 17 de março, às 21h, e dia 18, às 17h.
Onde: Teatro Municipal de São Paulo - pça. Ramos de Azevedo, s/nº, Centro - tel. (11) 3222-8698.
Quanto: R$ 15, à venda também pela Ticketmaster no telefone (11) 6846-6000.

segunda-feira, 12 de março de 2007

"Eu tenho tanto pra lhe falar..."

Como uma pequena ferida na pele, tentando liberar a imensidão de sangue que corre nas veias. Deve ser por isso que sou uma comunicadora, self-called journalist. Uma vontade de falar, falar, falar sobre tudo. Dessa vez, vou me render às famosas listinhas à la Nick Hornby.

Dois filmes toscos

- Anjos do Sol (2006) - Dirigido por Rudi Lagemann, o filme foi o grande ganhador de Gramado de 2006. Apesar do mote bacana da história, o filme erra já na primeira cena. O ótimo Chico Diaz encarna um "recrutador de putas" que dói de tão caricato. Óculos grossos, paletó acima do tamanho, tropeçando nas próprias pernas e ainda por cima gago. Acho que vi um personagem assim no filme do Castelo Rá-Tim-Bum! Sabe aquilo que, no teatro, a gente foge igual diabo na cruz? Estereótipos, pois é. E o filme é cheio deles. O cafetão gordo, folgado e beeem malvado. A puta revoltada, a puta boa, a puta triste. Só se salva a meio novata Mary Sheila. Enfim, bomba de primeira qualidade. Alguns diretores brasileiros falam com tanto preconceito das novelas, investem em fazer um produto refinado e competitivo no exterior, mas tudo que conseguem é ser um folhetim. E dos mais baratos.

-Casa do Lago (2006) – Refilmagem do coreano Siworae, o filme insiste na combinação Bullock-Reeves para encantar os americanos. Cheio de cortes, parece um clipping de imagens tolas. Entendo a dificuldade de passar uma história oriental, sempre tão cheia de sutilezas e características próprias, para um roteiro americanizado, sempre tão cheio de imagens óbvias e signos fáceis, mas tudo tem limite. Se é para fazer mal feito, melhor esquecer o roteiro e partir para Miss Simpatia 3.

Um absurdo

Alguém ouviu falar aí da Conservapedia? Pois sim, parece piada, mas é a versão cristã do Wikipedia. Um grupo da direita religiosa norte-americana decidiu criar o site por achar que as respostas do Wiki eram muito liberais e pouco cristãs. O site conta com mais de 4000 verbetes e o layout é exatamente igual ao seu antagonista. Exemplinho básico: no verbete homossexualidade consta (em inglês):

"Levítico 20:13 - Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão; o seu sangue será sobre eles."

Óteeeemo, hein?

sexta-feira, 9 de março de 2007

Passa o lenço...

Homem também chora vendo filmes. Eu, particularmente, já me derreti feito uma moça no cinema. Claro que eu não fiquei soluçando e suspirando alto, que aí já é dar bandeira demais, mas eu tive meus momentos emotivos.

O site Today listou sete filmes que fazem um homem pedir o lenço. Mas pedir feito macho, claro: Sociedade dos Poetas Mortos, Gladiador, Lendas da Paixão, Diário de Uma Paixão, Rudy, O Resgate do Soldado Ryan e Titanic.

Nota-se que geralmente "os caras" choram em filmes que envolvam honra, a luta por um ideal ou a luta por um amor. Neste último, é importante o homem ter papel decisivo no triunfo deste amor, ao contrário das mulheres, que geralmente choram quando há mais igualdade e amizade no relacionamento dos personagens.

Eu arrisco aqui listar alguns filmes que me deixaram de olhos marejados, seja pelo enredo ou por alcançarem algum sentimento pessoal: Edward Mãos-de-Tesoura, O Labirinto do Fauno, Menina de Ouro, Peixe Grande, Dolls, Brokeback Mountain, O Jardineiro Fiel, Rocky II.

Tá bom, Rocky II não é verdade, mas precisava dar uma masculinizada na lista. E você? Admita, em que filmes chorou?

De graça é melhor

Como já mencionei noutro post sobre as conseqüências da internet (ter praticamente qualquer coisa para baixar de graça), vou aproveitar para fazer um complemento. E este é para aqueles que só não baixam filmes na internet com medo de serem processados (em dólares).

O Public Domain Movie Torrents oferece arquivos de centenas de filmes para download. O melhor é que todos são de domínio público. Pode pegar sem dor na consciência. Tem clássicos desde A Pequena Loja dos Horrores (1960), de Roger Corman - com um Jack Nicholson ainda novinho - passando por The Last Man on Earth (1964), com Vincent Price, e o meu favorito: A Noite dos Mortos Vivos (1968), terror de crítica social de George A. Romero.

Procurando direitinho você acha até curtas metragens com Buster Keaton, a estréia de Jane Russel no cinema em The Outlaw (1948), de Howard Hughes e todos os episódios da série original do Flash Gordon (1936). São várias as versões de definição, incluindo para iPod e PSP. E se você não quiser fazer download, é possível assistir no próprio site, num esquema meio You tube. Melhor que isso, só em DVD.

quarta-feira, 7 de março de 2007

Teatro não é instrumento a serviço da literatura

Anatol Rosenfeld é um judeu que deixou a Europa durante o nazismo e estabeleceu-se no Brasil; estudou filosofia e aqui lecionou palestras e escreveu ensaios teatrais influenciando muitos teatrólogos. O texto que eu li é de uma palestra onde Anatol fala da essência do teatro e do personagem e como esta essência nasce justamente quando o ator se transforma em personagem.


"A essência do teatro é, portanto, o ator transformado em personagem. O texto é um bloco de pedra que será enformado pelo ator (diretor). O texto contém apenas virtualmente o que precisa ser atualizado e concretizado pela idéia e forma teatrais. A atualização é a encarnação, a passagem de palavras abstratas e descontínuas para a continuidade sensível, existencial, da presença humana".

É uma questão que a gente costuma se perder. Falar da cena é fundamental inclusive para encontrar argumentos que a fundamente mais, porém existe um abismo entre "falar cena" e "fazer cena". Ouvi milhares de vezes "é teatro, e teatro não fica só na fala, tem que ir pro palco, tem que ir pra cena, tem que fazer pra ver". E é puramente real, é aí que mora a diferença de teatro e literatura.

O teatro e a literatura serão simplesmente literatura até a hora que passarem a ser encenados, a partir daí existem escolhas feitas especialmente para aquele texto e a responsabilidade é muito do ator que, dentro daquele contexto, preenche as lacunas que a história deixa em branco. "O texto deixa indeterminada uma infinidade de momentos" e é neste momento precioso que vale mais que um diamante que a arte teatral se estabelece como viva e pulsa, caso contrário a identificação do público com esse personagem não acontece. E não acontecer faz o canal que é o teatro falhar, se este é troca e "o homem, de fato, só se torna homem graças à sua capacidade de separar-se de si mesmo e identificar-se com o outro".

Site novo

Todo o trabalho está rendendo frutos.

Agora o Teatro Insano tem um domínio oficial. Você pode acessar nosso site pelo endereço www.teatroinsano.com. Coloque em seus favoritos.

O nosso blog (este mesmo que você lê) pode ser acessado em blog.teatroinsano.com. E o fotolog passa para o endereço fotolog.teatroinsano.com.

Muitas outras novidades em breve.

terça-feira, 6 de março de 2007

Volta

De islandeses em geral, quase ninguém se lembra. Aliás, da Islândia, aquela minúscula ilha? Islândia?!? Em inglês é Iceland. Terra do Gelo. Ostracismo geral. A capital? Se chama Reykjavík, por sinal. Ninguém sabe dos habitantes daquela ilha, mas de uma em especial você já deve ter ouvido falar. E o nome dela não é tão fácil assim: Björk.

Tão excêntrica como sua terra natal, Björk é um daquelas que não se contenta com pouco. Ela não é apenas uma cantora. É uma música. Não canta apenas. Quer fazer música, experimentar, arranjar, produzir. E a excentricidade se derrama por ali. Seus álbuns transpiram Arte.

Björk tem raízes clássicas. Começou no piano, aos 11. Na adolescência, punk rock e jazz. Mais velha, formou-se em Música e passou ao rock gótico. Dali para o sucesso com os Sugarcubes. E foi com a desintegração dos Sugarcubes que ela experimentou. Apoiada no ex-produtor do Massive Attack, ela lançou Debut e instaurou-se o seu pop melódico e aberto a definições.

Com o segundo álbum, Post, a islandesa pairou entre a música eletrônica e o pop, com melodias dançantes e letras inspiradas em seus relacionamentos. Logo depois veio Homogenic, um álbum muito mais experimental, num vai-vem adagio-presto, conceitualmente falando de sua terra natal, evocando paisagens. A essa altura, seu interesse pelo experimental aumentava e harpas, caixinhas de música, coros e orquestra vieram em Vespertine, literalmente o vespertino, como se corais de anjos cantassem enquanto o sol se põe - o oposto de Post, denso, introvertido.

A viagem para dentro foi mais intensa no próximo álbum: Medúlla. De dentro do corpo, uma experiência gutural. Björk utilizou sons primariamente vocais para produzir tudo em suas músicas, com hiperventilações, coros distorcidos e beatbox.

Além de tudo isso, ela ainda compôs as trilhas sonoras dos filmes Dançando no Escuro, de Lars Von Trier, no qual ela protagoniza, e Drawing Restraint 9, filme de seu marido Matthew Barney.

O sucesso deste fênomeno é paradoxal. Seria provável que, com tanta experimentação, ninguém a ouvisse. Mentira. Ela tem uma horda de fãs mundo afora. E que aguardam ansiosamente seu próximo lançamento: Volta, que chegará às lojas em 7 de maio.

Depois do pop à alegria, da canção patriótica à viagem interior, o que Björk nos traz agora? O que sabemos é que em Volta teremos uma legião de convidados. De Timbaland (produtor de R&B e hip-hop), Anthony Hegarty (vocalista da banda Anthony & The Johnsons) às velhas parcerias de Sjón (letrista) e Mark Bell (produtor desde o álbum Homogenic).

Vamos aguardar...

Achados perdidos

O mp3 é realmente uma coisa fantástica. Dá para ter a discografia completa do Creedence Clearwater Revival ou o primeiro álbum do Roberto Carlos com alguns cliques, e de graça. E, se antigamente havia algum sentimento de culpa pela sensação de estar saqueando o bolso de meus ídolos, o crescente preço dos CDs faz eu me sentir cada vez mais justiceiro quando abro o meu Shareazaa. É corrigir a injustiça social.

Mas tem algo de delicioso em revirar as gôndolas de R$ 9,90 da Neto Discos ou das Lojas Americanas e encontrar a trilha sonora de LavourArcaica, ou os primeiros discos da Nara Leão e do Tim Maia. Ainda é mais caro do que de graça, mas tem aquela emoção do achado físico que não dá pra transferir. É a arqueologia artística.

Talvez seja só assim, mesmo, algumas pessoas carregam o gene do antiquário no sangue. E eu achava que estava abraçando a nova era quando me desfiz da minha coleção de discos... mal sabia.

segunda-feira, 5 de março de 2007

Lost in translation

Como eu me descobri japonesa através da literatura

García Márquez, Jostein Gaarder, Saramago, Safran Foer, Woody Allen, Guimarães Rosa, Hilda Hilst, Salman Rushdie, Nick Hornby. Todos eles passaram pela minha vida, mas eu estou sempre em busca de mais. Eles voltam, remexem aqui dentro, nunca são esquecidos e fazem parte do que sou, mas hoje, no meu post de estréia, vou falar sobre um autor que nem ao menos figura entre os meus livros preferidos, mas que me fez entender muitas coisas sobre mim. Vou te explicar porquê.

Minha vida inteira briguei para me livrar desse estigma de japonesa. Tudo que se referia à cultura oriental era repudiado, do alto da minha ignorância juvenil, achava que era muito óbvio gostar do que meus conterrâneos gostavam. Digo ignorância, porque de fato era. Era conhecer o raso, achar que cultura oriental se resumia a mangá e j-pop. Foi então que ele surgiu. Um japonês intrincado, soturno, pornográfico, diria até um pouco doentio. E com ele, descobri o lado B do Japão. E o pior (ou melhor): assim como eu, tantos jovens orientais também se sentiam perdidos dentro da própria cultura.

Haruki Murakami fala sobre renegar o Japão tradicional, sobre fugir a vida inteira dos estigmas e acabar descobrindo que não tem como escapar do que somos. Nascido em Tokyo, ele se engajou na luta contra guerra do Vietnã, formou-se em dramaturgia e fugiu (ele também!) para os Eua e Europa. Ganhador de vários prêmios, Murakami tornou-se um dos maiores escritores japoneses e um dos preferidos dos jovens. Em seus livros tudo é contemporâneo e recheado de signos. Eu, japonesa paraguaia que sempre fui, só fui entender o teor de sua obra depois de ir morar no Japão pela segunda vez. É um livro tão cotidiano, tão cotidiano, que talvez só faça mesmo sentido para quem já morou por lá.

É o andar de bicicleta na neve, o telhado curvado das casas antigas, o cheiro das compotas de nabo, a melancolia das colegiais de saias plissadas. O moderno com cheiro de antigo. O ranso da guerra, da bomba, do orgulho ferido de uma nação e das implicações disso nas gerações de agora. Tudo misturado com referência à filmes americanos, livros estrangeiros e músicas dos Beatles, Radiohead...

Estou lendo atualmente Norwegian Wood, mas já li Caçando Carneiros, Dance Dance Dance e Minha Querida Sputnik (o melhor dele) todos lançados no Brasil. A tradução se perde um pouco pelo caminho e simplifica algumas passagens, mas não chega a atrapalhar.

Por coincidência, Bravo! também está sugerindo Haruki Murakami na edição deste mês. Eu, particularmente, não indico a leitura para ninguém, porque não é um livro poético, inspirador e não tem um enredo muito envolvente. É um livro melancólico para poucos. E quando eu digo isso, não se sinta ofendido. Quero dizer que é um daqueles livros que, diferente de García Márquez e Saramago, tem um público-alvo muito restrito. Leitores curiosos podem se interessar também, claro, mas para os japoneses da minha geração é como se alguém traduzisse as dúvidas em letras. Se tenho mais clareza desse ranso que me invade hoje, devo grande parte à Murakami e seu pessimismo crônico, mas carregado de luz.

sexta-feira, 2 de março de 2007

Motocontínuo

É um recomeço. Porque já tínhamos um blog, que nos servia muito bem, mas não era mais o suficiente. E decidimos começar uma coisa nova. Nova para nós e para você, leitor.

Esperamos que goste do nosso novo espaço. O Motocontínuo. O nome é inspirado em uma máquina mítica: a máquina de movimento contínuo. Ela desafia a ciência, sendo capaz de produzir a energia que consome. Superando as limitações físicas, pode funcionar para sempre, independente de ajuda externa. E se a ciência não é capaz disso, bem, quem sabe a arte não consiga?

Aqui você vai encontrar não apenas informações sobre o Teatro Insano, mas também sobre arte, cultura e entretenimento em geral. E, lembre-se sempre, o blog não é só nosso. É seu, também. Opine, escreva, comente, interfira. Crie com a gente. A Internet é uma maravilha, mesmo.

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Moto contínuo (wikipédia)
Teatro Insano