segunda-feira, 30 de julho de 2007

Posso abrir?

"Eu tenho tanto pra te falar....", e os primeiros versos da canção do Rei vieram cortantes, direto no peito. Amor pode não doer, mas terminar a temporada de Amores Dissecados doeu. Muito. Como nunca antes. Ontem foi o último dia. A gente se apega, depois fica difícil ir embora.


A cada troca de roupa eu sentia uma pontadinha, a cada BO, um pedacinho indo embora. A cada levantar da cadeira, um pesar que ficava enterrado pra sempre naquele porão. A cada grito, um pouco de mim perdendo-se ali. Deve ser por isso que os fantasmas não vão embora. É aquela vontade de se agarrar ao que você gosta muito.

Tantas coisas deram erradas. Calça e camisa esquecidas, vestido perdido, foto que desaparecia, garrafa derrubada. Flores entregues em cena, gritos, muito gritos. Carros quebrados, guinchos, baratas, espinhos de rosa cravados na palma da mão. Dias ruins (que ninguém é de ferro), incensos queimados, público frio, atores frios, erros, gaguejadas, Claras trocadas por Fernandas. Dor de barriga, luzes acesas quando se buscava a escuridão. Escuridão quando se buscava luz interna.

Muita coisa acontece em dois meses. De nascer a morrer, a gente viveu. E pra um grupo novo como o Teatro Insano, tudo é aprendizado. No final, depois que o desespero passa, tudo vira piada. E orgulho também. Que a gente sabe que não é fácil. Sair do ABC, ir pra festival, fazer nome, conquistar....é quase desbravar! Mas sonhamos grande. O Satyros foi a conquista merecida, a vontade de ir além, a certeza de que trabalho de verdade traz retorno.

Encrustradas. Cada uma das 18 apresentações grudadas na memória. E todas as dificuldades do terceiro parágrafo, viram só lembrança boa, que me custa muito deixar pra trás. Combinada com as conversas se maquiando, se aquecer dividindo canções, a cumplicidade de cena (e fora dela), o depois do espetáculo, as mãos apertadas no escuro. O último abraço na cochia. Apertado, choroso.

Quando a luz acendeu, as palmas carregavam uma certeza cega de que dá para ir mais longe se a gente quiser. Depois de dois anos fazendo essa peça, eu sei que não foi a última temporada, mas algo mudou.

Hoje sobra a ressaca artística. Que venham as próximas temporadas, as próximas peças, as próximas, as próximas...Mas agora, me dá licença, que vou ali vivenciar o luto.

"Lua vai..."

quarta-feira, 25 de julho de 2007

O melhor do mundo, agora

O White Stripes é a melhor banda do mundo, agora. Ou talvez o mais certo seja: o Jack White é o melhor músico do mundo, agora. Não basta o rapaz ter feito com o Raconteurs o (ótimo) disco Broken Boys Soldiers ano passado, agora lança o novo trabalho do duo, Icky Thump. Também ótimo. Hiperbólico, mesmo. Jorra blues por todos os lados, elétrico, descompassado, energético.

Dizem que a Meg é péssima baterista, eu concordo. Mas não no White Stripes. Ela funciona, não tem ego, o que dá espaço para a gigante pretensão de Jack. O resultado é uma base sólida e simples para que ele possa praticar sua improvisação desenfreada. E dá-lhe. Uma guitarra sempre ótima, precisa. Sua voz quase adolescente é como uma segunda guitarra, rondando os acordes, seja gritando ou só falando.

É o sexto e provável melhor disco da banda. Pra mim, sim. Vai de política em letras ótimas ("Well you can't be a pimp / And a prostitute too", "Você não pode ser um cafetão / E uma prostituta também") em Icky Thump, ao garagem sujo em Catch Hell Blues. Ou o genial, em Rag and Bones (onde Jack e Meg interpretam mercadores pedindo doações de coisas usadas). Tem também 300 M.P.H. Torrential Outpour Blues, uma viagem por praticamente todos os estilos de blues já criados.

Um CD divertido e essencialmente político. Trata do tal muro que os Estados Unidos pretendem construir, separando-os do México. Por isso, muitas das músicas têm inspirações mexicanas. Jack encarna o mariachi para demonstrar a importância da cultura latina para a própria formação cultural norte-americana. Acerta em cheio. E tem só 32 anos.

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Clipe da música Icky Thump

terça-feira, 24 de julho de 2007

Fenômeno Harry Potter

  • Filme: Harry Potter E A Ordem da Fênix - mais voltado a quem já leu ou acompanhou os quatro filmes anteriores; este não contextualiza. É seu maior defeito. De resto, é um filme com um ritmo acelerado e que cortou muito da prolixidade de Rowling neste livro. Vale, ainda, por muitos dos trunfos que o diretor David Yates inseriu, como a temática política e alguns interessantes trechos da raiva de Harry Potter frente aos acontecimentos mórbidos. Aliás, Daniel Radcliffe e Rupert Grint cresceram e muito em suas interpretações. Mas quem rouba a cena é Imelda Stauton, com sua Dolores Umbridge mais do que apropriada. Usando um clichê, foi um show à parte;

  • Livro: The Deathly Hallows - na FNAC, plena sexta de lançamento do último livro da série, havia muita gente, na maioria adolescentes, loucos, sedentos, quase espumando pelo encerramento da saga. Às 20h, um clamor. Uma gritaria. E uma fila se fez e muita criança com cabelo estilo Snape, chapéus e oclinhos Harry Potter se acotovelando para conseguir o exemplar, pagar e sair lendo;
  • Os críticos em geral têm dito que o último livro agrada por ser uma obra literária madura e não só de fechamento. Dizem que Rowling caprichou e não poupou esforços para redigir um encerramento digno à saga. Vamos ver...
  • O que mais me assusta é: a versão é em inglês. Portanto, ou o monte de crianças e adolescentes já sabem ler inglês ou compraram só pra dizer que têm, mas vão acabar lendo resenhas na Internet de alguém que realmente leu. Aposto na segunda opção.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

"Quando a morte decide contar uma história, você deve parar para lê-la"

Esta é a frase estampada na contra-capa da Menina que roubava livros, do australiano Markus Zusak. Confesso, por espontânea vontade eu não teria comprado o livro. Não sou adepta dos best-sellers e tenha plena consciência de que é por puro preconceito. Simplesmente não confio no gosto de milhões de leitores, sempre tão ávidos por um novo Paulo Coelho ou um exemplar fresquinho do Diário de Brigdet Jones (aliás, por favor Helen Fielding, pare de contar a história dessa gorda!). Na lista dos mais vendidos da New York Times há 43 semanas, eu o ganhei de um grande amigo e resolvi encarar.

No começo, a impressão que eu tinha era de que o autor, todo cheio de recursos supostamente criativos e engraçadinhos, escrevia cada linha pensando: "Cara, eu sou foda. Falar fingindo que sou a morte é genial! Vou ganhar milhões!". Será que ele não tinha ouvido falar de um livririnho chamado Intermitências da Morte, de um tal de José Saramago? E um tal de Jonathan Safran Foer, que ficou notoriamente conhecido por usar recursos geniais em seus livros? Pois sim, de fato, Zusak ficou famoso e rico, mas seu livro não tem metade da criatividade dos outros dois.

Sei, nem todos os livros precisam ser geniais para serem bons de ler. E esse é o caso da Menina. De fato, a história de Liesel Meminger, uma menina alemã abandonada pela mãe, que viu o irmão morrer e é adotada por um casal pobretão, envolve o leitor sim. Os personagens secundários vão sendo apresentados com simpatia e todos, até os piores, como Hitler ganham um carisma extra.

Dos judeus escondidos no porão aos alemães mais irracionalmente patrióticos, todos ganham a mesma coloração. Todos são vítimas do ambiente, todos tem justificativas mil, mas poucos fazem escolhas ou são corajosos o bastante para mudar o que acontece nas suas vidas miseráveis. Eles ensaiam, mas caminham com a inércia das coisas ao seu redor.

Egocêntrico, o autor achou tão triste a história que iria contar, que acabou fazendo ela ficar suave até demais. E previsível. Até mesmo o final, supostamente violento, acaba tendo ares de cena de sexo em novela: mostra a cena, mas tampa o que realmente interessa. No caso do livro, a dor .

Seria bacana se o autor não parecesse estar o tempo todo ensaiando para entrar em sua melhor parte. Fora o tom dramático e completamente humano que A Morte, narradora da história, tem. Ela fica se lamuriando pelos cantos por ter que ceifar a vida das pessoas, tal qual você reclama de ter que ir trabalhar todos os dias. E o pior: Dona Morte fica o tempo todo revelando o que vem a seguir, e quando finalmente chega o episódio, você já sabe tudo. Aí cadê a graça?

A Morte é uma grande estraga-prazeres.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Minuto-a-minuto

Os mais atentos podem ter notado este símbolo ao fim da barra à direita. significa que agora o Motocontínuo tem suporte Feed, ou seja, você pode cadastrá-lo no seu programa de RSS favorito e saber quando o blog foi atualizado. Nem precisa ficar dando F5 aqui, o tempo todo. E nós temos certeza que você faz isso, doido pra ver nossos posts assim que eles saem. Bem, agora é só assinar clicando lá.

Uma Pilha de Pratos Na Cozinha, de Mário Bortolotto


Se tem uma coisa que me assusta é um texto em que as personagens vociferam frases escandidas, como se fossem poemas da pós-modernidade. Porque o que me pega é o fato de conseguirem dizer tanta coisa sem tanto. Resumir o problema da humanidade (ou da falta de) com aforismos dignos de um Nietzsche, tratar da vida e seus complexos meandros e retratar seres ficcionais com perspicácia é obra de dramaturgo amadurecido. E este é o caso de Mário Bortolotto. Depois de tantas peças escritas, seu nível de excelência, pode-se dizer, atingiu um grau de amadurecimento interessantíssimo.

Uma Pilha de Pratos na Cozinha foi concebida para o projeto E Se Fez a Praça Roosevelt em Sete Dias, e segue em cartaz no Satyros Um. De todos os textos encontrados no projeto, dois se destacaram: o de Roveri (A Noite do Aquário) e, agora vejo, o de Bortolotto. O que temos aqui é a história de Júlio (Otávio Martins), um misantropo, que está enclausurado em seu apartamento por conta própria enquanto sua pilha de pratos cresce na pia. Chegam três presenças em série que vão tirar a misantropia dos eixos: seu amigo Daniel (Alex Gruli), um amigo sanguessuga fracassado, o síndico do prédio e "homossexual enrustido" Breno (Eduardo Chagas) e Cris (Paula Cohen), uma mulher que tem um pequeno problema e que, por conta dele, quer se resolver com Júlio rapidamente.

Logicamente, sem uma certa violência interior contida, referências norte-americanas e jazz, não teríamos uma peça de Mário Bortolotto. Devidamente salpicadas, as personagens vão soltando frasezinhas aqui e acolá e os aforismos vão enchendo o ambiente. Tiradas ácidas, sarcásticas e inteligentes entremeadas com a inação das personagens, que sabem bem como analisar suas próprias vidas, mas não conseguem jamais se mover. A inércia as move, assim como a personagem Júlio que se esmera em permanecer-se sentada quase todo o tempo, bebendo e fumando. A inação quase em seu limite. Como se o movimento do mundo e seu tempero agridoce justificasse a análise apenas. Como se quisessem reconstruir o significado do mundo como filósofos pós-modernos que são. Mas, para ser Platão, precisa-se de mais do que álcool e nicotina.

Quem sabe bem disso é Otávio Martins, que aproveita a composição e destila veneno para todos os lados, sem um pingo de prazer. "Eu sou um misantropo", Júlio diz, e Otávio deixa transparecer que ter ódio pela humanidade não quer dizer que aplicar piadas e atirar sarcasmos faça de sua personagem um sádico. Pelo contrário, não há prazer em querer que todos explodam. Alex Gruli e Eduardo Chagas exploram o que há de importante de suas personagens, apesar de um pequenino mas nada incômodo exagero de Gruli. Paula Cohen, por fim, parece ser a personificação do alívio ao entrar, mas o entendimento da personagem Cris frente à morte é mais do que qualquer descoberta pode transcender e o peso de tudo aquilo cresce. Cohen segura a expressão, o sentimento, e deixa que Otávio pise nela mais e mais para depois aplicar o contragolpe final.

Aliás, o final. Muito comentado por aí. Eu esperava uma coisa surpreendente, mas é a beleza que sobressai. Reside na poesia. Se o texto todo coloca metralhadoras nas bocas das personagens, o final fala pelo silêncio. Ou pela trilha. "The Healing Game", de Van Morrison. Enrolada na situação, uma das personagens finalmente, nesta cena derradeira, descobre que precisa sim desaguar tudo antes de ser algo. Poeticamente, chove lá fora, onde esta personagem se lavou antes de voltar à cena. Chora essa personagem frente à súbita descoberta da vida através de uma morte que está próxima. E a pilha de pratos está, efetivamente, sendo lavada. Forte. No lugar dessa personagem, não sei se atingiria essa grandiosidade de herói. Talvez eu apenas quebrasse todos os pratos ao invés de lavá-los.


Uma Pilha de Pratos na Cozinha. Direção e texto de Mário Bortolotto. Com Otávio Martins, Alex Gruli, Eduardo Chagas e Paula Cohen. Em cartaz às sextas, sábados e domingos no Espaço dos Satyros Um, às 22h30.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

What do you want to do with the rest of your life

Com bons contatos que passam horas na internet você descobre maravilhas. A novidade de hoje é um site do que você quer fazer com o resto da sua vida. 43 desejos mais especificamente. Cadastrando-se você pode listar 43 desejos que você quer realizar antes de morrer e ver quantas outras pessoas tem o mesmo desejo que você.

A parte mais divertida são as dicas que o site dá pra você conseguir realizar cada desejo e quantas pessoas já conseguiram aquela determinada ou semelhante vontade com depoimentos. E a parte mais engraçada é a lista de desejos do que as pessoas no mundo todo querem fazer. "Get married, stay married and live happily ever after", "be more confident" são as primeiras no momento.

A minha primeira vontade "learn ballet" tem outras 234 pessoas com a mesma vontade. Semana que vem, data escolhida por mim, eu vou receber um e-mail no endereço cadastrando me lembrando dessa vontade e de não esquecer de realizá-la antes de morrer.

Eu não pensei em 43 ainda. Tente lá, é mais prazeroso saber que ainda tem muita coisa pra se fazer nessa vida, do que dá pra imaginar. Mais outros 43 motivos pra não morrer logo.

Racha-cuca: O Retorno

Quando você finalmente tinha descoberto que aquela última da lista era Piratas do Caribe... Aparece uma nova safra com 64 trilhas sonoras para adivinhar o filme! Vai dizer que não é divertido? Acertei todas de novo (hã-hãããm), mas dessa vez estou de bom humor, então se você quiser saber as respostas, é só selecionar o texto invisível abaixo. Mas não vale colar, hein!

1 - blade runner 2 - rambo 3 - onze homens e um segredo 4 - melhor e impossivel 5 - edward maos de tesoura 6 - mascara do zorro 7 - dirty dancing 8 - goonies 9 - branca de neve e os sete anoes 10 - love story 11 - Shrek 12 - free willy 13 - casablanca 14 - esqueceram de mim 15 - moulin rouge 16 - tieta 17 - primeira noite de um homem 18 - kill bil l 19 - fantasia 20 - apocalypse now 21 - beleza americana 22 - flintstones 23 - trainspotting 24 - exterminador do futuro 25 - fantastica fabrica de chocolate 26 - madagascar 27 - doctor zhivago 28 - mudanca de habito 29 - notting hill 30 - pretty woman 31 - sexta feira 13 32 - romeu e julieta 33 - robin hood 34 - lisbela e o prisioneiro 35 - requiem para um sonho 36 - catch me if you can 37 - moonwalker 38 - cidade de deus 39 - pinoquio 40 - tigre e o dragao 41 - historia sem fim 42 - ultimo dos moicanos 43 - magico de oz 44 - lawrence da arabia 45 - cabaret 46 - nove e meia semanas de amor 47 - quero ser grande 48 - priscilla 49 - fantasma da opera 50 - my fair lady 51 - robocop 52 - em algum lugar do passado 53 - eu tu eles 54 - senhor dos aneis 55 - exorcista 56 - chicago 57 - ferias frustradas 58 - ben hur 59 - xanadu 60 - laranja mecanica 61 - mask 62 - ultimo samurai 63 - profecia 64 - west side story.

Moleza! : )

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Atrasada....

Faltam só três dias, ou melhor, dois e meio, mas ainda assim acho que vale a pena indicar. O Anima Mundi está em São Paulo e é sempre um ótimo passeio. Não acompanhei de perto esta edição, mas andei vendo uns vídeos por aí. Com peça e ensaio, é uma pena que este ano não vai dar para ver nem unzinho...ainda bem que tem youtube, né?

Não gosto tanto assim do Weird Al Yancovic, ele peca um pouco pela repetição, mas seu curta Don't Download This Song é mesmo muito bom! Perca um minutinho, vai!

Continuo preferindo as pirâmides!

Uma bobagenzinha criativa: Eu sei, o Cristo Redentor foi eleito uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo, mas foi só ontem que eu vi a campanha Borba Gato, o Bagulho Maravilha. Uma dessas maluquices que surge quando se junta pessoas com bom humor, nenhum senso de patriotismo (com razão!) e o ator e escritor Paulo César Peréio. Tá certo! A palhaçada em torno dessa bendita eleição do Cristo foi um saco mesmo. E intervenções criativas são sempre bem vindas!


Nem sei como se lembraram daquela estátua medonha! Enfim, confira o vídeo da campanha narrada pelo ilustríssimo Peréio! Sempre um velhinho tão bacana...ah! E não deixe de escutar o jingle!

"Nosso Colosso de Rodes enfrentou carrapatos, mosquitos, sanguessugas, na saga dos emaranhados silvícolas da nação brasileira. O orgulho de São Paulo, mais bonito que Brasília. Olha só como ele brilha! É o nosso redentor! O Bagulho maravilha!"

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Nonsense

Nicholas Gurewitch é um dos cartunistas mais engraçados do mundo. É dele o Perry Bible Fellowship (em inglês), site de tiras. Seu estilo varia de história para história, sempre em favor do conteúdo. O humor geralmente é negro, doido e universal. Muitas tiras não tem nenhum texto. Dá pra passar horas rindo com o arquivo. Atualiza (quase) toda quarta.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Vintage voice

Regina Spektor é moça de boa voz. Não só pela afinação e tudo mais, mas pelo uso inusitado uso da voz, dos lábios. Barulhos simples como sopros de frio, agudos surpreendentes somados a um piano magestral

Nasceu na Rússia e mora nos Estados Unidos, de pai pianista e mãe professora de música, Regina tem três cds laçados desde 2001, e mais um duplo de coletânea. Seus clipes chegam na mídia de mansinho, às vezes você consegue ver um ou outro perdidos na programação do Canal Sony, mas os vídeos, assim como a voz, são bem expressivos.

Citando algumas, as mais delicadas, Braile, Lulliby, Somedays, Loveology, Raindrops (como aquela "raindrops keep falling on my head", mas no final tem um "but that doesn't mean that i'm dead") Carbon Monoxide, Us. Destaque especial para as duas últimas.

Carbon Monoxide é de letra estranha, nonsense. Us, é de sinceridade e tem um clipe nice, com recortes legais. É menina de sensibilidade com um toque descolado e descarado, ela consegue ser cute e bocuda ao mesmo tempo (entenda por bocuda aquele sentido que a expressão teria saindo da boca de sua avó, alguém que fala sem pudores).

Samson é especial. Assim como o nome diz, é sobre a história do Sansão da Dalila, aquela que corta seus cabelos e tira sua força. A letra é meiga assim como o jeito que ela canta cada frase. Moça descolada e romântica, essa Regina!

"Oh I cut his hair myself one night, a pair of dull scissors and the yellow light, and he told me that I'd done alright..."

terça-feira, 10 de julho de 2007

O Santo Parto, de Lauro César Muniz

Existe alguém que interessa em O Santo Parto, de Lauro César Muniz, em cartaz no Espaço dos Satyros Um: ele atende por Marco Antônio Pâmio. Muito elogiado em sua atuação anterior no espetáculo Edmond, de David Mamet, dirigido por Ariela Goldmann (ele ganhou o APCA de Melhor Ator em 2006), Pâmio é o único que chama atenção.

O Santo Parto é uma comédia de costumes que coloca a Igreja em xeque e ainda tenta defender a causa homossexual e o sincretismo religioso. Nessa história, o padre José (Marco Antônio Pâmio) engravida e está no dia de seu parto. Entretanto, apavorado, ele não sabe como vai dar à luz. Eis que, por acontecimento divino, as portas da igreja desaparecem e do retrato da parede sai o cardeal Quirino (Walter Breda), para lhe dar uma lição de moral. O texto gira, gira, gira, até que São Jorge ou Ogum (Raoni Carneiro) chega para ouvir o padre e, logicamente, salvá-lo.

O texto de Lauro César Muniz é muitas vezes didático, diletante e maniqueísta. Explica os problemas da igreja, da homossexualidade e das religiões afro nos mínimos detalhes. Completamente pró-homossexuais, o texto mostra um homossexual que é aparentemente castigado com um gravidez por ter feito sexo com um homem, para depois de tantas agruras, ser salvo pela intervenção de entidades simpatizantes, num tremendo esforço do roteiro em trazer o sincretismo religioso como compensador e intercessor da Salvação. A Igreja figura como o demônio, a besta, a destruidora do amor de verdade, da fé, a usurpadora de Deus nesse mundo. A certa altura, uma escrava simula sexo oral no cardeal, apenas para simbolizar como um membro da Igreja pode ser "rebaixado à condição humana" e demonstrando que o lado "inimigo" é destituído, sim, de moral também: não é um lado perfeito.

Muniz ainda resvala em certos pontos numa cafonice que poderia ser muito bem-aproveitada pela direção de Bárbara Bruno, mas esta, por sua vez, desenvolve um espetáculo que beira o constrangimento como nas cenas em que entram atores apenas para mudar o cenário de lugar e sair. Numa delas, um heavy metal toca e os atores entram com jaquetas de couro e gritam "Angra! Kiss!", referência ao provável nascimento da Besta. Na passagem na qual o padre descreve como conheceu o jovem Elvis (o mesmo Raoni Carneiro), o jovem canta Fever, a canção de Madonna. Outro ícone óbvio e ainda com direito a passos coreografados e estalos de dedos. O problema não é tanto a obviedade, mas o tratamento. Afora isso, há a seqüência na qual Ogum canta um rap representando, talvez, "o canto dos excluídos", entretanto soando muito deslocado.

Raoni Carneiro não consegue construir algo. Carneiro é monocórdico. Adota um tom grave como Ogum e sobe à normalidade como o menino Elvis. Mas só. Suas inflexões são as mesmas, invariavelmente. Walter Breda serve como contraponto à Pâmio no início do espetáculo. Enquanto isso, restam os outros atores, meros instrumentos da encenação, cujas aparições se resumem à figuração sem função que não a de contra-regras cênicos. Credibilidade somente a de Pâmio, como já foi dito. O único em que acreditamos, mesmo sabendo que, na verdade, ele está se esforçando para acreditar.

A encenação infelizmente não chega ao espectador. O monólogo do padre José e, de certa forma, o encontro dele com o cardeal seriam o suficiente. Depois da entrada de São Jorge e outros, a peça se perde e parece interminável. Marco Antônio Pâmio é quem merece a única boa condecoração.

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Clipe de Madonna, Fever

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Ano bom

Cao Hamburger é um carinha legal. Ele fez Castelo Rá Tim Bum, poxa! Discípula de toda sua doçura e na qualidade que genuinamente imprime em seus trabalhos, aluguei O Ano que meus pais saíram de férias de peito aberto. Não é filme novo, mas é um daqueles que estavam na lista para serem assistidos ainda esse ano. Domingão à tarde, friozinho e cobertor, caíram perfeitamente bem com a história do menino Mauro (Michel Joelsas), que é deixado aos cuidados do avô Paulo Autran, um judeu barbeiro do Bom Retiro, enquanto seus pais saem de férias forçadas pela Ditadura. Maravilha seria se o velhinho não morresse e o garoto ficasse desabrigado antes mesmo de ter um teto.

Aí é que surge o herói. Um judeu sisudo e bravo, Shlomo (Germano Haiut), mas com o famigerado bom coração que os velhinhos de barba sempre tem. Talvez meu excesso de simpatia com o filme tenha alterado meu senso crítico nas partes mais bobinhas e quase sem inspiração do roteiro. O score final é : tudo correto, engraçadinho, e até nas partes mais dramáticas, ele chega no máximo a ser tristonho.

Chiribim Chiribom
Mas não se engane, não é um filme tolo. Não senhor! E tampouco é um filme sobre a ditadura (graças a deus, que parece ser um tema que empesteia o cinema brasileiro). A época é apenas o pano de fundo da história de uma criança a espera dos pais. Gosto das cenas de cotidiano, dele jogando futebol, do fusca azul que nunca chega, do peixe que ele se acostumou a comer, da Copa de 70 e os 90 milhões em ação.

Dispenso o ar dúbio da interpretação de Caio Blat e a frieza mórbida da Simone Spoladore, que como mãe, parece mais uma tia distante. Agora, convenhamos, o pernambucano Germano no papel de Shlomo, com um sotaque nordestino do cão, falando em iídiche é fantástico. De tirar o chapéu, ainda mais depois de saber que o ator é amador e que apesar de ligado ao teatro desde sempre, estava afastado do cinema desde Baile Perfumado, de 1997. Enfim, um filme de pequenos trunfos.

Um jogo de botões, onde você deve prestar atenção mesmo é na caixinha de fósforo que serve de goleiro.

Playlist

O cedê novo do Smashing Pumpkins, Zeitgeist, é estranho. Não parece SP. Nem na fase Machina, de guitarras pesadas e clima sombrio. É de um rock rasgado, agressivo, quase death metal. A banda mudou nessa volta-dos-mortos. Ficaram só o Billy Corgan e o baterista Jimmy. Talvez por isso o peso. Não é todo ruim. Salva-se como bom nas últimas faixas, como Neverlost e Starz. Tarantula também é boa, a única com cara de rádio. vou demorar pra acostumar.

Já o cedê novo do Interpol, Our Love to Admire, é ótimo. Não acredite no que disserem por aí. É cheio de camadas sonoras e variações de andamento, bem à moda da casa, mas tudo muito bem produzido. Cheio de cores e com uma pegada funk da bateria que já ergue as músicas do começo. Pioneer To The Falls é linda, Pace is The Trick também. Além da Heinrich Maneuver (já elogiada). A favorita é Rest My Chemistry, inspiradíssima.

Enquanto que Carnaval Só Ano Que Vem, da Orquestra Imperial, não faz sentido no meu mp3 player, no rádio do meu carro ou no computador do meu trabalho. Porque é composto de gafieiras ótimas que só funcionam pra valer dançando (que eu não fiz, mas imagino). O supergrupo tem Kassin, Rodrigo Amarante, Thalma de Freitas, Nina Becker e outra porção gigantesca. Participação do mestre Wilson das Neves. O Mar e O Ar, Salamaleque e Ereção são campeãs.

Agora é só correr pro Kazaa.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Melodramecão

O gênero Melodrama entrou em declínio há algum tempo (lá pelo final do século XIX, com a vinda forte do naturalismo), vindo a se incorporar à estrutura dramática pós-moderna assim como todos os outros gêneros, diluindo-se assim na categoria DRAMA (cujo cerne quer dizer AÇÃO, afinal, teatro é ação). Hoje, não se fala mais em Tragédia, Comédia, Melodrama, Farsa, Epopéia, Épico, Tragicomédia, Sátira, Paródia, Vaudeville e outros separadamente (salvos os casos em que propositalmente tenta-se emular os gêneros e subgêneros de outrora). A estrutura pós-moderna é senão um recorte destes gêneros em maior ou menor grau, dependendo do que se quer atingir.

Dito isso, feliz foi a minha entrada em um SESC Pinheiros lotado para ver, atualizar, regurgitar, antropofagizar e gargalhar com Melodrama, da Cia. dos Atores. O gênero em declínio estava todo ali. E tirava sarro de si mesmo. A interpretação artificial, exagerada, over; as reviravoltas típicas na trama em que qualquer um pode ser filho/irmão de outro; o mel escorrendo em todas as situações; o formicida com guaraná de Nelson Rodrigues; as radionovelas para donas-de-casa (atualizadas para as telenovelas de hoje) em que os atores zoam entre si e de repente incorporam o espírito do melodrama ao falarem no microfone; o maniqueísmo; as homenagens ao melodrama francês pastiche do século XVIII, o americano desajeitado das séries de TV e o espanhol/mexicano/latino açucarado e fatalista, além das óperas melodramáticas do século XIX.

Comemorando seus 19 anos, a Cia. de Atores trouxe três peças de seu repertório para o SESC Pinheiros: este Melodrama mais os espetáculos Ensaio.Hamlet e Gaivota - Tema para Um Conto Curto. Melodrama ganhou o Prêmio da APCA em 1995 e com razão. Enrique Diaz colocou tudo ali através de processo colaborativo. O tango (Piazzolla algumas vezes), músicas de Cauby e o Ne Me Quitte Pas de Edith Piaf em francês e espanhol. Tudinho. A pesquisa leva a platéia ao delírio, pois reconhece já os signos do gênero e também os truques que deveriam levar a platéia aos prantos, mas isso não ocorre mais. Não é à toa que Álbum de Família, de Nelson Rodrigues, agora em cartaz nos Parlapatões e resenhado aqui, provoca risos apenas. Disse a Bravo! na edição de julho/2007 para a peça de Nelson:

"Preste atenção: Em como os tabus escancarados por Nelson Rodrigues nesta obra escrita em tom de tragédia há mais de 50 anos já não provocam indignação na platéia. Ao contrário, agora a peça arranca risos em alguns momentos."

Pois bem, o que Alexandre Reinecke não arrumou e tampouco evitou com Álbum, Diaz usou a seu favor.

Destaque para o elenco feminino encabeçado por Drica Moraes (surpreendentemente ótima), Bel Garcia (com momentos hilários) e Suzana Ribeiro (perfeita; na foto acima). O elenco masculino não fica atrás: estão lá Marcelo Olinto, Marcelo Valle, César Augusto e Gustavo Gasparini. Diaz segura os atores na precisão do gesto executado milimetricamente: exagerado sim, descuidado não. Ainda desenha a cena com a iluminação de Maneco Quinderé, abusando de focos e corredores, e a música de Carlos Cardoso, obviamente assinalando mais do que o ponto o que está acontecendo.

Mas o que chama a atenção é o texto de Filipe Miguez, que trabalha com apenas três histórias, intercalando-as e tirando o máximo de mel e açúcar das situações. Pontos para as cenas da novela Laços de Sangue e a história de Doralice. O problema reside na personagem Geraldo, um draminha insosso perto dos outros, que acaba enfraquecido, mas que de longe não afeta o espetáculo.

O jogo cênico é o que vale. É um espetáculo de atores. Por vezes, é possível achar que os atores estão improvisando, se não é que não estão. Agora, apenas Gaivota fica em cartaz até o meio de julho. Uma pena. Entretanto, a Cia. dos Atores ganha mais um fã. Ou 500 e tantos do SESC lotado.

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Site da Cia. dos Atores

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Nossa temporada de Amores

O mês de Julho entrou e a gente nem notou. De repente, no borderô do final da apresentação de domingo lê-se "Dia: 1 de Julho" e descobre que agora só faltam quatro finais de semana.

Invadir São Paulo é tarefa difícil mais absurdamente prazerosa. Cada sábado, cada domingo. Cada arrumação de mala, cada vez que liga-se o ferro de passar roupas pra encontrar o figurino de cada personagem e aprontá-lo para mais um dia. A gente se acustuma e tudo vai ficando mais fácil. Os horários, a correria, o público simpático, as danças saudosas.

Surpresa a cada domingo, motivação a cada sábado. Cada arranhão no joelho, torção no pulso, espinho no dedo que deixa a marca pro resto da semana lembrando que ter vida de ator é assim, algumas decisões em cena não são decisões nossas at all. Elas saem, assim como as apresentações ás vezes não são nossas, elas vão, mais fortes do que o nosso desejo de modífica-las no meio do caminho. Mas é o ver "mover" que nos transporta com adrenalina até o próximo final de semana.

E de repente não se espera nada do público, porque não é necessário esperar. Trabalho de estar em cartaz é receptivo-ativo, e não há pressão que nos impeça de ver como a relação ator-público, espetáculo-platéia aconteceu naquele dia. E a gente sai de lá três quilos mais leve pelo trabalho realizado e três quilos mais pesado pela vontade de se comprometer a sempre voltar.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Faz de conta que ninguém está só lá fora

Prosseguindo com as resenhas de peças que saíram de cartaz nessa semana (ops!), Faz de Conta que Tem Sol Lá Fora é um espetáculo que você não deveria ter perdido. Isso porque trata de maneira simples e eficiente a relação de pessoas solitárias com o mundo que as cerca.

Escrito pelo faz-tudo-lá-do-Satyros Ivam Cabral, o texto apresenta um homem solitário, interpretado por Nilton Bicudo, que entra em um apartamento do seu prédio ao ouvir a música De Onde Vem a Calma, de Marcelo Camelo (na voz de Rubi), saindo por uma porta aberta. É lá que ele encontra a moradora vivida por Jerusa Franco.

Eles dividem uma conversa, chá, biscoitos, medos, dúvidas, arrependimentos, esperanças e um teto enquanto chove lá fora. A solidão é desdobrada além dos caminhos que levam a ela. Morte, esquecimento, falta de aproximação com a realidade. Tem muito mais que isso no cotidiano que vem depois do (auto)abandono, dia após dia, sabe-se lá por quanto tempo.

Aos poucos, as personagens aparecem mais próximas do que pensam. Precisam das mesmas coisas e, talvez mesmo por isso, repelem-se da possibilidade de estarem juntas ali. Distantes, ela em sua frenética relembrança, ele em seu estático conformismo, parecem sempre a um passo de colidirem. Se acontece, não é explosivo. É de pequena chama, quase sem combustível, mas ainda iluminante.

De atores generosos, aliados no palco. Dividem a cena de ações e reações em medida de conversa verdadeira. Ali, no pequeno cômodo, o mover-se e o não se mover têm igual peso e cedem régua para o mundo particular e solitário da metrópole mecânica.

Bela estréia da diretora Aline Meyer, que dá espaço às personagens para que possam contar sua história. Tudo se desdobra ao seu tempo. Sem modismos ou extravagâncias. Só a situação, em seus 50 minutos. E toda a torrente de emoções reprimidas, oposta à natureza que segue nas águas que rolam inconfinadas do lado de lá da janela.

Atualizado: a peça agora está nas matinês do Satyros. Sábados às 17h, domingos às 19h.

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Blog do espetáculo (por Jerusa Franco)

domingo, 1 de julho de 2007

Impostura

Mário Bortolotto falando sobre a arte da literatura e Fernanda D'Umbra tresloucada. É quase possível dizer que alguém os viu ou ouviu em algum bar na Roosevelt. Não. Era na peça mesmo. Impostura, de Marici Salomão. E Salomão foi inteligente, demais, em brincar com o que se espera dos atores. Adicionando uma pitada de Patrícia Leonardelli para tirar a referência e está feita a história.

Bortolotto e D'Umbra interpretam dois bêbados. Talvez um casal, embora não se saiba ao certo qual a relação daqueles dois. Eles têm algo em comum: se detestam. A bêbada de D'Umbra chega ao apartamento com seu recém-conhecido affair, uma mulher - as duas loucas para se divertirem no apartamento, mas a triste figura do escritor em decadência ainda está no sofá. E bebe. Acontece que os dois discutem tudo entre si e demonstram uma repulsa e um afeto desmedidos, lutando, colocando a personagem da "amante" ao largo. Esta, por sua vez, se mostra interessada em conseguir entender o que se passa ali. E as coisas vão tomando proporções maiores.

Fernanda D'Umbra, que também dirige o espetáculo, consegue construir um clima tão tenso entre eles, enterrando a personagem de Bortolotto no sofá e colocando um ar ingênuo a Leonardelli. Ainda tira de si uma interpretação muito intensa. O que é esta mulher girando e andando ao léu pelo apartamento em busca de algo, mas não se sabe o quê? Quando levanta seu poderoso registro vocal, D'Umbra estremece tudo. E sua "boêmia" é autêntica.

Surge então um Mário Bortolotto que se restringe a se mexer pelo sofá e há que se assinalar como dá medo quando a personagem se mete a levantar: o "monstro" que a personagem de D'Umbra insiste em repetir a Bortolotto ecoa na voz dele. Um registro de monstro. Por vezes incomoda. Mas é muito legal. Finalmente, Leonardelli contém-se diante do exagero dos dois, conforme pede a história, e cria uma balança que pesa a seu favor. Um magnetismo deslumbrante entre ela e D'Umbra se instala e a tensão vai crescendo.

Sucede que não se sabe para onde vai aquela história. Há algo acontecendo. Marici não deu o nome de Impostura ao espetáculo por acaso. Emergem a literatura, a inspiração, a musa, os respectivos clichês. O desespero de uma mulher para poder fazer a inspiração de um escritor medíocre aflorar trazendo uma outra mulher à baila. Uma certa segurança ingênua (um ótimo enigma) da visitante que insiste em dizer que 'tenta" escrever e parecer interessante. E o escritor: o retrato de um homem que espera, não alcança e pensa que pode atingir a alma humana por baixo.

A impostura real é de todos. Final lindo.

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Blog de Mário Bortolotto
Blog de Fernanda D'Umbra
Blog de Patrícia Leonardelli