terça-feira, 10 de julho de 2007

O Santo Parto, de Lauro César Muniz

Existe alguém que interessa em O Santo Parto, de Lauro César Muniz, em cartaz no Espaço dos Satyros Um: ele atende por Marco Antônio Pâmio. Muito elogiado em sua atuação anterior no espetáculo Edmond, de David Mamet, dirigido por Ariela Goldmann (ele ganhou o APCA de Melhor Ator em 2006), Pâmio é o único que chama atenção.

O Santo Parto é uma comédia de costumes que coloca a Igreja em xeque e ainda tenta defender a causa homossexual e o sincretismo religioso. Nessa história, o padre José (Marco Antônio Pâmio) engravida e está no dia de seu parto. Entretanto, apavorado, ele não sabe como vai dar à luz. Eis que, por acontecimento divino, as portas da igreja desaparecem e do retrato da parede sai o cardeal Quirino (Walter Breda), para lhe dar uma lição de moral. O texto gira, gira, gira, até que São Jorge ou Ogum (Raoni Carneiro) chega para ouvir o padre e, logicamente, salvá-lo.

O texto de Lauro César Muniz é muitas vezes didático, diletante e maniqueísta. Explica os problemas da igreja, da homossexualidade e das religiões afro nos mínimos detalhes. Completamente pró-homossexuais, o texto mostra um homossexual que é aparentemente castigado com um gravidez por ter feito sexo com um homem, para depois de tantas agruras, ser salvo pela intervenção de entidades simpatizantes, num tremendo esforço do roteiro em trazer o sincretismo religioso como compensador e intercessor da Salvação. A Igreja figura como o demônio, a besta, a destruidora do amor de verdade, da fé, a usurpadora de Deus nesse mundo. A certa altura, uma escrava simula sexo oral no cardeal, apenas para simbolizar como um membro da Igreja pode ser "rebaixado à condição humana" e demonstrando que o lado "inimigo" é destituído, sim, de moral também: não é um lado perfeito.

Muniz ainda resvala em certos pontos numa cafonice que poderia ser muito bem-aproveitada pela direção de Bárbara Bruno, mas esta, por sua vez, desenvolve um espetáculo que beira o constrangimento como nas cenas em que entram atores apenas para mudar o cenário de lugar e sair. Numa delas, um heavy metal toca e os atores entram com jaquetas de couro e gritam "Angra! Kiss!", referência ao provável nascimento da Besta. Na passagem na qual o padre descreve como conheceu o jovem Elvis (o mesmo Raoni Carneiro), o jovem canta Fever, a canção de Madonna. Outro ícone óbvio e ainda com direito a passos coreografados e estalos de dedos. O problema não é tanto a obviedade, mas o tratamento. Afora isso, há a seqüência na qual Ogum canta um rap representando, talvez, "o canto dos excluídos", entretanto soando muito deslocado.

Raoni Carneiro não consegue construir algo. Carneiro é monocórdico. Adota um tom grave como Ogum e sobe à normalidade como o menino Elvis. Mas só. Suas inflexões são as mesmas, invariavelmente. Walter Breda serve como contraponto à Pâmio no início do espetáculo. Enquanto isso, restam os outros atores, meros instrumentos da encenação, cujas aparições se resumem à figuração sem função que não a de contra-regras cênicos. Credibilidade somente a de Pâmio, como já foi dito. O único em que acreditamos, mesmo sabendo que, na verdade, ele está se esforçando para acreditar.

A encenação infelizmente não chega ao espectador. O monólogo do padre José e, de certa forma, o encontro dele com o cardeal seriam o suficiente. Depois da entrada de São Jorge e outros, a peça se perde e parece interminável. Marco Antônio Pâmio é quem merece a única boa condecoração.

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Clipe de Madonna, Fever

Um comentário:

Anônimo disse...
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