sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Quem matou?

Eu não sei porque essa coisa de "quem matou Barbosa" funciona tanto nas novelas. É formuláico, antiqüado, repetido. Ficou velho por volta do octagésimo livro da Agatha Christie. Ainda assim, quando alguma novela tem a morte misteriosa de algum personagem (nunca protagonista, óbvio) começa essa busca incessante pelo culpado.

Eu não vejo paralelo. Nas histórias de Christie, ou mesmo nos filmes adolescentes tipo Pânico, a graça que prende a atenção é o suspense de, por não saber quem mata, não saber quem será o próximo a morrer, por qual razão e quando. Nas novelas brazucas, mata-se um, é o que vale pra criar a dúvida que se mantém até o fim.

Aliás, frisando, suspense e dúvida são coisas completamente diferentes.

Mesmo quando morrem vários, tipo A Próxima Vítima, os personagens despencam como peças de carne no frigorífico. Não há pistas reais ou um sentimento das mortes. Apenas o fim pra levantar novamente a pergunta fatídica. "Quem matou?".

Não sei quem descobriu a fórmula, muito menos quem descobriu que podia usá-la sem fazer o menor esforço e menos ainda quem decidiu começar a copiá-la à exaustão, mas o que me intriga mesmo é porque todo brasileiro age como se fosse um dever cívico tratar um assunto assim como relevante.

Cada vez que alguém fala, "ah, quem será que foi?", eu borbulho um pouquinho por dentro.

Turno da Manhã

Hotel Chevalier+ Hotel Chevalier, curta cuja história precede a do filme O Expresso Darjeeling, de Wes Anderson, está solto na internet. Presta atenção: Natalie Portman Nua.

+ E aí? Viu o VMB ontem? Foi uma merda.

+ Tropa de Elite: A Série

+ E a novela acaba hoje. A pergunta não quer calar, "Quem matou Barbosa?"

+ O próximo documentário do Scorsese será sobre George Harrison.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

O Grande Chefe

Em geral, as pessoas têm medo dos filmes do Lars Von Trier porque ou eles te fazem chorar como um idiota (vide Dançando No Escuro), ou te fazem sentir se sentir um idiota (vide Os Idiotas), ou te fazem pensar que realmente deveríamos matar todo mundo que é idiota (vide Dogville e Manderlay) ou então nos faz pensar como somos realmente idiotas e ainda rimos por isso, que é o caso de O Grande Chefe.

O apelo do filme é fácil e na mão de qualquer diretor americano se transformaria em um desfile de clichês do gênero. Mas Von Trier não é desses. Ele mexe com o roteiro a serviço de sua história e não da platéia. Vamos à história, pois. O presidente de uma empresa de Tecnologia da Informação, Ravn (Peter Gantzler) contrata um ator, Kristoffer (Jens Albinus, de Os Idiotas), para se passar pelo presidente na frente dos 6 gerentes da empresa. Isso se dá porque Ravn necessita fazer decisões impopulares, entretanto, eles nunca viram o presidente e Kristoffer vem para fazer a "intermediação". Coitado.

Acontece que Trier, como faz com todos seus heróis, coloca o protagonista em uma série de situações limítrofes até atingir o clímax e o que acontece faz a platéia rir, porém não da típica farsa hollywoodiana repleta de besteirol e piadinhas mal-intencionadas. Vemos, na verdade, uma comédia muito céfala. Há um humor negro impregnado em tudo o que ocorre e o próprio Grande Misantropo faz questão de narrar desta vez o filme, mais uma vez caracterizando seu efeito de distanciamento cinematográfico "a la Brecht", criando o viés político que, desta vez, é bem menos envernizado do que os filmes já-citados acima. Menos envernizado porque falamos de uma empresa que, naturalmente, rescende a cheiro de Palácio de Planalto, com os joguetes de corrupção de todas as verves, sejam elas nas relações, nas finanças, no corporativismo...

A frase "Em todo lugar tem disso", típica de conversas de corredor de escritório entre funcionários insatisfeitos, poderia ser evocada como o mote principal. Afinal, a podridão do ser humano se revela mais cáustica quando há dinheiro e relações de poder em jogo. Até aí, tudo ótimo. Trier demonstra com eficácia. Não bastasse isso, o protagonista ainda tem de segurar nas mãos os problemas individuais não-resolvidos com o real presidente da companhia. Kristoffer, na pele do presidente, quer fazer sua arte, interpretar um personagem e utilizar a oportunidade como um meio de expressão, porém ele não esperava que iria encontrar personalidades tão estranhas quanto distintas. Como a secretária que recebia e-mails do presidente dizendo que se casaria com ela. Ou o funcionário que tem uma agressividade contida e que é libertada quando se fala da temperatura. Soma-se o clima frio-ostensivo da Dinamarca e o branco e o cinza persistentes das instalações da empresa e o que temos uma enclausurada "família" desajustada que necessita de cuidados.

Rir neste caso é conseqüência dos acontecimentos e reviravoltas tão similares aos dos dia-a-dias corporativos. Como chegar em um dia e ter que lidar com picuinhas e avisos de redução de salários e, em outro, discutir como será feita a fusão/venda da empresa e sentir-se sempre na corda bamba. Até aí rimos da nossa incapacidade de estender a mão. Mas daí a rir porque somos idiotas só este mestre dinamarquês sabe. Dá até para desejar que todos os chefes assistam e, quem sabe, de repente, talvez, doravante, por um milésimo de segundo, consigam entender a boçalidade de si mesmos.

Turno da Manhã

+ Um show do Marilyn Manson, sem graça? É , eu tô mesmo ficando velho...

+ Roubaram o roteiro do filme novo do Coppola. Ah, esses argentinos.

+ Parece que o segundo filme do Arquivo X sai mesmo. Eu não me contenho, aqui.

+ É verdade, um curta com Lázaro Ramos inspirado na obra de Sérgio Mallandro. O nome? Ópera do Mallandro.

+ Disco novo do Radiohead em Março. Se Deus quiser!

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Ano do Brasil no Oscar

Acaba que o indicado brasileiro para concorrer a uma vaga no Oscar é O Ano Que Meus Pais Saíram de Férias (a Tsuji resenhou aqui). A indicação é justa? Sim, é justa. É filme com criança, histórico, tem tema mais-ou-menos universal e não é muito pesado. Detalhes que qualificam-no, quem sabe, até a levar a estatueta.


As apostas estavam em Tropa de Elite, mas pelo que dizem por aí - filme violento, acusável - seria um tiro no pé. Se Cidade de Deus não levou, não é outro assim que leva.

Gostei muito de Saneamento Básico, mas acho que a escolha de Ano... seria a minha, também. Da lista de possíveis indicados, é o mais regular e despretensioso, além de ser muito bem filmado e escrito. Agora vamos ver no que dá. Até porque eu não sou do tipo que torce pra filme nacional em competição, especialmente se os concorrentes forem melhores.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Eu esqueci de alguma coisa?

Tudo começa sempre com um esquecimento. Alzheimer é uma doença maldita. Um dia se esquece o nome do marido, no outro da filha, no outro como se usa o garfo. E aí, uma fina garoa mental faz manchar os pensamentos e tudo que sobra são borrões. Sei, porque na minha família já teve. E na de Kate, protagonista da peça A Graça da vida, também.

Na história da americana Trish Vradenburg (adaptada por Paulo Autran), a moça é uma roteirista de comédia famosa que aprende a lidar com suas ansiedade e com as de sua mãe Grace, uma dama da
high society americana, que desenvolve a doença.

Os olhares parados e vazios, as frases desconexas e o desespero dos parentes, tudo está lá representado sob direção do inventivo Aimar Labaki. Nathalia Timberg (Grace), veterana que é, está sempre inteirona no palco. Parece conhecer as nuances da doença e criou uma Grace forte e fragilizada ao mesmo tempo. Ponto pra ela.

Em compensação, o bonitinho Marty (Fábio Azevedo) só serve para isso mesmo, ser um gay (daqueles de munheca para cima) bem bonitinho. Só. O elenco, que ainda conta com o correto Emílio Orciollo Netto, a estridente Clara Carvalho e o casal terceira idade Ênio Gonçalves e Eliana Rocha, cumprem a que vieram sem novidades.

Guardo este parágrafo para a protagonista Kate. Acompanho Graziella Moretto, porque acho que ela se destaca nos trabalhos que faz. Mas naquele dia se cumpriu uma das leis do teatro: atores tem sim dias ruins. A sensação de vazio proposital da doente de Nathalia, parecia ecoar no não proposital de Graziella. Ela, sempre com timing de comédia, estava no piloto automático. Uma pena, mas compreensível. Tem dias que a gente não tá bem, né?

Agora o que não é perdoável é a cenografia mal disposta – sofás, cadeiras e afins jogados no palco- e os contra-regras entrando para mudar uma poltrana de lugar. Perdão, mas os atores não poderiam fazer isso? O figurino, fantástico e funcional até a metade da peça, perde um pouco da força porque pede uns consertos nas barras dos vestidos e dos casacos.

Apesar de tudo, vale sim a pena assistir. Piadinhas à parte, não vá esperando nada muito memorável, porque afinal algumas vezes tudo termina também em um grande esquecimento.


Obs: agora, se o tema da doença te interessa mesmo, veja o filme argentino O Filho da Noiva (2001). De chorar.

Turno da Manhã

+ Váááárias imagens de cenas dos Simpsons inspiradas em filmes, com o original pra comparar.

+ Então, sabe a Meg White? Parece que ela é a nova Paris Hilton...

+ Em seu espetáculo novo, Denise Stocklos dança com André Abujamra. Ou será que ela só orbita ao redor dele? Mistério.

+ Dezoito filmes brasileiros se inscreveram para concorrera vaga brasileira no Oscar. Tem títulos muito bons e também tem os outros.

+ O Raindance Film Festival vai exibir suas sessões pela internet de graça.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

O fim do universo é uma biboca

Fechei o livro e apesar de estar com cãibras internas de tanto rir, um grande pesar se instalou nos meus ombros. A humanidade é mesmo um saco. Douglas Adams me convenceu. Não... na verdade, os pais que matam filhos, os caçadores de baleia, os políticos corruptos e as modelos-atrizes sem talento me convenceram.

Depois de ler O Restaurante no Fim do Universo tive raiva dos analistas de marketing, dos decoradores e dos cabelereiros, todos com seus linguajares "entendidos" e chatos. Para quê precisamos de palavras como "benchmarking" e "balaiagem". Argh...somos seres incrivelmente burocráticos e prolixos. Sei, parece papo de gente eco-chata e deus me livre virar hippie, mas realmente os humanos são um porre.

Ah, quer mudar de planeta? Não adianta. O universo inteiro é cheio de cretinos. Pelo menos é o que constatam Ford Prefect e Arthur Dent em mais uma desventura pelo espaço. Cheio de flashbacks e flashforwards (nossa, que saudade de Lost), a continuação de O Guia do Mochileiro das Galáxias é ainda mais engraçada do que o primeiro. O ponto alto é quando Zaphod Beeblebrox encontra o Homem que rege o Universo. Adams é o tipo de cara que não tem medo de ir fundo numa idéia, por mais desconexa que ela pareça com a história. Tudo rende pensamentos cabulosos.

Depois de ler o livro, a sensação que fica é de que a vida é ridiculamente simples. E Douglas Adams parecia ter total consciência disso. Penso que era um sujeito iluminado. Por outro lado, não é possível entender tanto e não ser um bocado triste. Vai ver que é por isso que seu coração parou ao 49 anos. Não havia mais nada para saber.

Por que a resposta do Universo é 42? Não me contem...quero terminar de ler a série para descobrir.

É assim que o mundo acaba

Richard Kelly escreveu e dirigiu Donnie Darko (2001), filme próximo do genial sobre a juventude e a necessidade de encontrar o seu lugar no mundo ao entrar na fase adulta. Com um clima nostálgico oitentista e temas complexos de física quântica e existencialismo mesclados com cultura pop, Darko não se tornou um sucesso cinematográfico, mas virou cult, alçando de vez Jake Gyllenhaal para a fama.

Foi o primeiro filme de Kelly e já era pretensioso demais para uma estréia. Para o segundo, mais. Escalou comediantes e atores de segunda linha para protagonizarem um drama/ficção científica/musical/comédia. Ninguém sabe direito sobre o que trata Southland Tales, e o trailer é tão complexo que mais confunde do que esclarece. “Os cientistas descobriram que o futuro será muito mais futurístico do que eles imaginavam”, diz a personagem no vídeo.

Uma prévia dele (80% pronto) foi exibido em Cannes no ano passado, e a crítica desceu a lenha. Desde então, a estréia foi adiada, ele foi retrabalhado e um novo financiamento foi feito para garantir que os efeitos especiais fossem completados – quem assistiu Donnie Darko sabe que, para Kelly, os efeitos realmente são necessários para contar a história.

A estréia nos EUA finalmente será em novembro. Darko só saiu aqui em DVD (beeeeem pobre), esperamos que o destino de Southland Tales não seja o mesmo. Kelly é um diretor que vale a pena, mesmo que só pela curiosidade. Abaixo, o trailer.

Turno da Manhã

Os Mutantes (2007)+ Os Mutantes se separaram de novo. É, gente, o sonho acabou mesmo, vamos aceitar.

+ O disco novo do Seu Jorge vai custar só 10 mangos. E é sambão.

+ A quem interessar possa, a série-fenômeno Heroes estréia neste domingo na Record, às 21h.

+ A Lovefoxx, do Cansei de Ser Sexy, e o Simon Taylor, do Klaxons, vão casar. E você com isso? É, eu sei.

+ Jia Zhang-ke, diretor chinês de Em Busca da Vida, vem para a Mostra de SP.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Turno da manhã

Hoje estou inaugurando aqui no blog o turno da manhã. São indicações de links de notícias e novidades que estão pela internet. Vamos tentar publicar isso sempre antes das 10h (mas eu não confiaria muito no meu relógio se fosse você). Tropa de Elite-Festival do Rio começou ontem. Muitos filmes bons agendados, de Herzog a Tarantino. Boa parte deve vir pra são Paulo, também.

-Para enfrentar toda aquela história de pirataria antes da estréia, o filme Tropa de Elite ganhou 5 minutos extras na versão oficial. [Sarcasmo] Deve ter feito uma diferença... [/sarcasmo]

-Além do Marilyn Manson, Julliette and The Licks também vão tocar no VMB. Que decadência.

-Sabe o que a Amy Winehouse pede no bar de um show? "Coca, por favor". Tu-tum-tsss.

-Across The Universe, filme musical com canções dos Beatles que estava engavetado há tempos, finalmente estréia (nos EUA) amanhã.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Big me

Enquanto tocava Foo Fighters na rádio, eu tentava explicar pro B o que sentia toda vez que escuto a voz de Dave Grohl. É como voltar para casa. Uma sensação tão familiar quanto o cheiro do feijão no fogo. Afinal, durante toda a minha adolescência eu devo ter escutado a voz do vocalista do Foo Fighters tantas vezes quanto a voz do meu pai. Então a cada grito arranhado dele, automaticamente sou arrastada para meados de 98, com meus all stars surrados e meu quarto de menina. The Colour and the Shape quase furou de tanto tocar.


E hoje, quase dez anos depois, o Foo lança dia 25 de setembro o álbum novo Echoes, Silence, Patience and Grace, depois do ótimo e ágil In Your Honor e do conflituoso One by One. O single The Pretender, já é sucesso. Aqui no meu MP3 e no mundo. Engraçado que certos hábitos não mudam: Disco novo do Foo quer dizer memórias novas saindo do forno.
A menina de all star ainda mora aqui.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Cegueira

Não sei se você sabe, mas o Fernando Meireles está adaptando O Ensaio Sobre a Cegueira, do Saramago. É uma co-produção Brasil-Canadá, filmado metade em São Paulo metade em Toronto. É a primeira vez que o autor português libera os direitos de uma obra sua para adaptação cinematográfica.

Não tem que se preocupar. Se Meireles fizer por Cegueira o que fez por O Jardineiro Fiel, certamente será um filme lindo. O processo pode ser acompanhado, em parte, através do blog que o diretor montou. Atualiza sem muita freqüência, mas mata a curiosidade. Já dá pra saber, por exemplo, que Danny Glover será o Velho da Venda Preta.

Agora vamos lá, ver como pode ficar um filme quase impossível de se fazer, onde todos os personagens não enxergam nada durante a história.