quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Bela porcaria

Tive dois sustos com a adaptação de O Amor nos Tempos do Cólera. O primeiro veio da inacreditável ruindade da coisa. O segundo veio das críticas que achei na internet, todas favoráveis. Fiquei duvidoso. Eu não entendo mais de cinema? A falta de tempo para assistir coisas novas nos últimos meses pode ter me emburrecido para a sétima arte. Como os calos dos dedos que vão embora quando você pára de praticar violão.

Então, deixe-me rever mentalmente, com calma. O roteiro é relativamente fiel ao enredo original, mantendo toda a linha mestra e principais personagens. Muitos dos diálogos estão lá, só que em inglês e com sotaque porto-riquenho. Lembro que a história progride com saltos bruscos e personagens desaparecem sem qualquer explicação, assim como outros surgem como em prestidigitação. Por volta de dois quartos na exibição, o protagonista começa a narrar a história, do nada. A princípio como se estivesse falando para outro, que aparece subitamente. Depois, para o espectador, mas sem se dirigir diretamente a ele.

Notei que a direção de arte é criativa, com cores quentes dos figurinos aos cenários. Mas tudo permanece absolutamente igual durante 55 anos, mesmo passando por guerras. As maquiagens, por outro lado, são horríveis. O jovem Florentino está tão maquiado para parecer uma versão adolescente do Javier Barden que mal consegue mexer o rosto. Já a versão velha de Juvenal Urbino tem cola seca ao redor de toda a boca pra manter o cavanhaque.

A fotografia, se me recordo, tem uma ou duas sacadas boas, mas no resto resume-se a closes fechadíssimos dos atores e ângulos repetidos à exaustão, como nas cenas que mostram a feira, sempre em uma diagonal superior. Tem também as transições terríveis que antecipam a cena seguinte ou entram sempre (sempre) com um som alto.

A trilha com violas e violões, em clima bem latino, pontua o que é triste, quem é mal, quem é bom e quem está feliz. O vilão entra, acordes graves, a mocinha se apaixona, violinos. Shakira gritando aqui e ali.

Acho que já não sei mais nada. Javier Barden adota uma interpretação contida de detalhes, bem pensada, mas pouco elaborada. Ele já parece agir como velho quando ainda é jovem. Giovanna Mezzogiorno é uma péssima Fermina Daza, inexpressiva, velha demais quando jovem e jovem demais quando velha. Fernanda Montenegro, nacionalismos à parte, supera o inglês quebrado e ganha espaço com talento. Sua Transito nem precisava aparecer tanto, mas acaba muito bem-vinda.

Revendo, assim, não parece mesmo tão desastroso. Teve gente que até saiu do cinema chorando. Acho que eu estou precisando é assistir mais novela e ler mais Sabrina.

+
Agora, o trailer é bom, isso eu admito.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Teu passado não nega...

Quero falar sobre O Passado. Não, não o meu, nem o seu, mas o de Gael. E nem tão bem sobre o filme novo do mexicano, porque afinal, era meu dia de fechamento aqui na revista e não vi. Uma pena. Mas na coletiva que aconteceu há exata uma semana, eu compareci e pude constatar que Gael García Bernal é REALMENTE o mais novo Sweetheart. Da minha professora de espanhol até a minha tia, passando pelo meu editor que me liberou para a pauta, todos amam o latino.


Como todo bom mexicano que se preze, Gael começou nas novelas. Fez o descolado Daniel, em Vovô e eu (1992) e participou também de Teresa (1989), novela onde também começou Salma Hayek. Apesar de conhecido como estrela-mirim, não estacionou seu burrinho na tv. Foi estudar na Central School of Speech and Drama, em Londres e estrelou os inúmeros filmes que você já sabe quais são. Meu preferido é Amores Brutos (2000), de González Iñarritu, com quem trabalhou também em Babel (2006), que apesar de ter sido dirigido por um mexicano, é o mais Hollywood que Gael participou (excluindo-se aí The King e outras pontas).
Aliás, o "chico" faz questão de ressaltar que quer cravar os pés na América Latina. "Não escolhos os filmes pelo passaporte. O mais perto de Hollywood que já cheguei foi em Tijuana, que deve ser a umas três horas de lá", disse ele, brincando com seu personagem em Babel, que atravessa a fronteira do México com os EUA.

Quando entrou na coletiva, todos silenciaram. Tava na cara que jornalistas e curiosos, todos estavam lá para ver o mexicano. Confesso, eu também. E ninguém se decepcionou, apesar do clima estranho, das poucas perguntas.

E quem queria falar? Todos só queriam olhar. E ele, que divaga muito nas respostas, falava como quem acabou de acordar. "Eu mergulho fundo. Como se caísse num rio longo e me deixasse levar", pensou em voz alta ele, que ainda confessou ter aceito o papel de Rimini pela chance de ser pai na telinha, coisa que nunca tinha feito.

Gael é o tipo de unanimidade que faz você perder o rumo e acabar escrevendo um texto inteiro sobre ele, sem nem perceber. Por isso mesmo, vou parar por aqui enquanto ainda dá tempo de manter a integridade deste post. Assim que assistir o filme, volto para contar e ainda escrever sobre Hector Babenco, o diretor de O Passado, e suas frases de efeito.

P.S: Gosto muito da historinha que Fernando Meirelles conta no blog do filme Blindness, sobre como Gael compôs o vilão de unhas pintadas que faz no filme.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Como é grande o meu amor

Nossa primeira participação nas Satyrianas (se digo "primeira" é porque espero por outras) foi ótima. Nossa lotação para 40 pessoas teve que ser um pouco ampliada para dar lugar a 50 espectadores. Uma pena foram os outros 12, que ficaram do lado de fora.

Se a temporada de junho/julho de Amores Dissecados no Espaço dos Satyros Dois já havia sido muito boa, essa apresentação única no espaço Um foi ainda mais especial. Ali, em plena efervescência da Praça Roosevelt, com tantas opções de espetáculos gratuitos (incluindo aí o Dramamix), essas pessoas optaram por saber mais sobre esse tal amor, que não está no coração, no cérebro, nem no fígado. "Está no espírito", disseram. Isso só dificulta mais a busca.

Agradecemos muito ao Satyros pelo convite, além de parabenizá-los por essa incrível movimentação que criaram, realmente sem igual. O mérito é todo deles, a gente só aproveitou o holofote aceso pra contar algumas histórias. Esperamos ter agradado.

Turno da Manhã

+ É possível? There Will Be Blood, de PT Anderson, o novo Cidadão Kane? Saiu o primeiro trailer.

+ A nova gravadora da Madonna é uma promotora de shows. É, o futuro já chegou.

+ Cameras fotográficas personalizadas do White Stripes.

+ 50 filmes fundamentais da Mostra (porque listas são legais)

+ Playback, striptease, fim súbito, "obrigado, México!". Foi o show do Akon em São Paulo. Dá-lhe.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

O acaso é triste

Uma mulher morre olhando o rosto do motorista do ônibus, que acabou de atropelar um rapaz que olhava distraído para o corpo de uma dona-de- casa que pulou da janela, depois de ir a uma vidente charlatona. Assim, quase sem respirar, é o enredo da peça Últimas Notícias de Uma História Só, dirigida por Otávio Martins.

Para começar, o ator Alex Gruli é uma espécie de deus ou diabo, aquele ser emblemático que representa as forças onipotentes sádicas, você sabe. Com destreza e um tino cortante, ele é o narrador, por assim dizer. O Espaço do Satyros Dois, onde a peça está em cartaz, não se parece nem um pouco com aquele em que apresentamos o Amores Dissecados.


Com quatro "luminárias" que funcionam engenhosamente bem, o espaço foi todo coberto por cortinas grossas e pretas, transformando o porão em um Porão. E mais claustrofóbico do que ele já é. E é nesse cenário sufocante que se desenrola também a relação entre um sequestrador e sua vítima. Juntando esta história com o acaso do primeiro parágrafo, tudo é cerzido pelas mãos ágeis e intensas do personagem de Gruli.

E não é querer permear o óbvio, mas intensidade realmente faz a diferença. A força cênica dos atores agradou em cheio meus olhos, já tão cansados de interpretações over das últimas peças que vi. Luciano Gatti, Melissa Vettore (uma das mães do seriado Mothern) e Alex Gruli - já citado no parágrafo acima - tem aquela energia que os atores procuram tanto.

Tá certo que o enfoque do acaso aqui foi um tanto fatalista, como lembrou bem o meu namorado. Mas acho que a intenção era mostrar o qual frágil é a vida, onde um acontecimento só já é capaz de desencadear tragédias monumentais. O bater de asas da borboleta no Japão, provocando o tumulto das águas no Guarujá. Foi uma escolha cênica, acredito eu, ter preferido o acaso triste ao feliz.

Foi a única peça "grande" que assisti nas Satyrianas que acabou ontem e gostei muito. As outras quatro eram do Drama Mix (Olerê Olará, Bico Fino, A-Ma-la, Os Segredos) e variaram muito na qualidade. Confesso que é gostoso sair sem rumo na Praça Roosevelt, escolhendo peças a esmo e pelo nome. Acho, sim, louvável a iniciativa do Satyros em criar algo nessas proporções.

Ruim mesmo foi só ter que aguentar o cheiro de mijo, gente bêbada por todos os cantos (chegando a vaiar a Homenagem à Paulo Autran) e concluir que a avaliação geral do público das Satyrianas acabou sendo medida por quanto a cerveja estava gelada e não pela qualidade das peças.

Nós também nos apresentamos, lotamos e choramos horrores.... mas isso fica para outro post.

Turno da Manhã

+ Mostra de SP já tem programação completa. Começa essa semana.

+ Músicas do Zeppelin serão vendidas na web.

+ Jan-Claude Van Damme em: Jan-Claude Van Damme, o filme. Sério, é uma prévia de uma biografia que sai em 2008.

+ Falando nisso, os 55 filmes que precisamos ver em 2008.

+ David Lynch fazendo comercial pra Gucci. É assim que se paga as contas.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Amores nas Satyrianas!

Quem ainda não sabe, fica sabendo. O Teatro Insano participará das Satyrianas, neste final de semana. O evento, que contará com mais de 80 horas ininterrúptas de espetáculos, já é um dos maiores acontecimentos teatrais do país (mundo?).

Apresentaremos Amores Dissecados às 16h do domingo, em versão similar a que pôde ser conferida em nossa temporada de junho/julho no Satyros Dois, mas com as devidas modificações para o novo local de apresentação, o Espaço dos Satyros Um.

A entrada é moleza, você paga quanto puder. Ou, nas palavras de nosso integrante Giancarlo, "pague o máximo que puder". Incentivar a arte nunca é demais.

Vale cada centavo

Só se fala em uma coisa: Radiohead. E não apenas porque o cedê (que não vem em CD) lançado por eles hoje chega ao mercado de maneira revolucionária. Não. É simplesmente porque é ótimo.

Você pagou quanto quis (ou nem isso), e agora tem In Rainbows à sua disposição. Abre a pasta .zip e descarrega tudo no seu iTunes, Winamp ou WMP. Aí vê, são dez faixas, todas curtinhas. Será que a banda amarelou? A resposta, que dura cerca de 40 minutos, é não. Já na primeira faixa, 15 Step, surge o Radiohead que todos aprendemos a achar estranho. Ritmo desconexo, Thom Yorke cantando baixinho, guitarra discreta. Música ótima que obriga a prestar atenção.

Segue uma fila muito bem ritmada de faixas que utilizam um pouco de tudo o que a banda já fez. Nenhuma delas tem cara de single, coisa que se possa escutar no rádio entre Magic Numbers e Interpol. Mesmo Bodysnatchers, que tem um ritmo contagiante, soa demasiada suja do baixo aos vocais.

Tem as faixas deprimidas de sempre, como All I Need e Videotape, que encerra o playlist. Weird Fishes/Arpeggi, também é ótima, assim como Faust Arp, que traz um conjunto de cordas inspirado, típico das inventividades de Jonny Greenwood. Aliás, tudo é sempre muito dedilhado mesmo quando imprevisível, pegando a deixa que ficou do disco anterior, Hail to The Thief.

Inacreditável, mas, de novo, o Radiohead já corre lá na frente, enquanto o resto do mundo da música ainda está amarrando os cadarços.

Turno da Manhã

+ In Rainbows, do Radiohead, já está por aí, na internet, e não fui eu quem contou.

+ Uns bêbados rasgaram um quadro do Monet.

+ Todas as músicas dos Beatles, comprimidas 800% em um único MP3 de uma hora. Viaaaaaagem.

+ Da Wired, os dez cientistas mais improváveis do cinema.

+ Agora é a alfândega que decide se é arte ou só putaria. Avisem o Zé Celso.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Turno da Manhã

Bohemiam Rhapsody

+ Bohemian Rhapsody, o melhor videoclipe da história. E, na minha opinião, o melhor pra cantar junto, também.

+ Mostra de SP deste ano discutirá crise da cinefilia. Só será permitida a entrada de chorões.

+ Próximo dia 27 será a data mundial de dançar Thriller.

+ Disco novo do Oasis poderá sair só como download, também.

+ As dez entrevistas mais incompreensíveis do Bob Dylan. O cara é um gênio.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Heroísmos

O maior problema e o maior mérito de Tropa de Elite são o mesmo: é um filme perigoso. Uma narrativa muito inteligente e convincente, mas sobre uma postura condenável. A história sobre a guerra (como é descrita) do BOPE contra o crime e o tráfico no Rio de Janeiro é contada do ponto de vista do batalhão. Logo, tortura, mortes e abuso de poder são maus necessários.

Até aí, não seria motivo para acusar o filme de panfletário. O que realmente pega é que ele é muito bom. Um título de ação bem construído, com personagens e ações se amarrando em uma trama elaborada a caminho de um desfecho à altura da expectativa que cria. É difícil a platéia desatenta perceber que o ponto de vista apresentado é um só.

Tudo é feito para que o capitão Nascimento seja o herói que é. Ele narra o filme com uma bússula moral rígida em um mundo onde a corrupção é de praxe. Suas ações são sempre amparadas por um desejo de retornar ao lar, em uma vida de paz com sua família. Ele até salva dois rapazes da morte certa e oferece abrigo em uma instituição acima de qualquer suspeita.

A genialidade se mostra, mesmo, no terceiro ato. A narrativa de luta contra o crime ganha a faceta de filme de vingança. Os vilões são estabelecidos, os heróis assumem a responsabilidade de fazer a limpeza e a platéia, claro, embarca. Terrivelmente convincente.

Tecnicamente, o filme tem falhas. Soa quase monocórdio com sua câmera estilo documental durante toda a narrativa. Não há alívio e, por isso, a impressão é que nem mesmo a casa de Nascimento é o refúgio que ele diz ser. A narração do capitão é excessiva e circula em repetições já no segundo ato, mas se torna importante para pontuar a opinião de quem realmente está contando a história.

Wagner Moura, no que pode ser o seu melhor papel, convence do sotaque carioca às crises de pânico. Suas afrontas aos moradores na favela, com olhar fixo e voz acusatória, são típicas de um psicopata e, ainda assim, conseguem fazer seu discurso moral parecer correto.


Mas o destaque cai sobre André Ramiro (Matias). Seu personagem se transforma de maneira sutil ao longo da história. Somente quando chega ao lado oposto do espectro é que notamos a transfiguração drástica pela qual passou. E, vendo sua chegada ao lado considerado “seguro” da lei, quando finalmente é exposto à prova que definirá seu caráter dentro da sociedade, Matias não hesita muito na escolha. E o resultado é o que se vê: o cano de uma arma calibre 12 engatilhada e apontada sem remorso para a cara de cada um na platéia.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

BBBABY

Às vezes surge uma bizarrice na tv americana, que repercute bastante por lá, mas aqui vira apenas notinha de curiosidade. Uma delas é o reality show Kid Nation, que começou em setembro. Semana passada lembrei dele e fui atrás. A premissa é utópica: as crianças realmente podem construir uma sociedade mais perfeita? A CBS, rede que produziu o programa em parceria com a produtora Good Tv Inc., levou a máxima as últimas consequências.

Enfiaram 40 crianças americanas, de 8 a 15 anos, por 40 dias em uma cidade–fantasma, situada em Bonanza, no Novo México. Lá, os pirralhos montaram uma "sociedade" com algum nível de hierarquia (algo como uma releitura de O senhor das Moscas, mas bem menos cruel) e trabalharam duro para mantê-la. Uma das tarefas mais conturbadas, foi decidir se matariam ou não uma galinha (que sim, acabou canja). Foi o único capítulo que eu assisti.


Os críticos caíram matando, chegando a acusar a produção de trabalho escravo infantil – porque as crianças trabalhavam 14 horas por dia. Dizem até, que a escolha de Novo México não foi ao acaso, já que é o estado com leis trabalhistas mais flexíveis. E há também a vertente que acusa o programa de manipulação, alegando que os pequenos seguiam um roteiro pré-estabelecido. E qual reality show não segue? Pior foi quando um dos moleques queimou a cara enquanto cozinhava e outros quatro tomaram alvejante. Imagina o bafafá!

Os pais encararam como um "acampamento de verão com câmeras". E claro, com prêmio em dinheiro. Divididos em quatro equipes, cada um recebeu 5000 dólares por participação e no final do episódio, uma criança é eleita pelos outros para ganhar uma estrelinha equivalente a 20 mil dólares. Ah! E eles tinham liberdade para abandonar o programa se assim quisessem e muitos preferiram. Façam o barulho que fizerem, no fundo não passa de mais um Big Brother. Ou seja, agrada em cheio quem gosta da coisa.

Turno da Manhã

+ Tim Burton e Johnny Depp no musical Bento Carneiro, O Vampiro Brasileiro. Brincadeira. Saiu o trailer de Sweeney Todd.

+ Os ingressos do Tim Festival esgotando aos poucos.

+ Estômago foi o vencedor do Festival do Rio. Conhecia? Nem eu.

+ Caso encerrado. Mulher que baixou músicas na internet terá que pagar US$ 222 mil à RIAA. Referente ao download de 24 faixas via Kazaa (sabe "jurisprudência"?)

+ O filme que ninguém mais agüenta ouvir falar estréia hoje.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

O Circo se arma (novamente)

Eu fico pensando: entra novela, sai novela e é sempre a mesma coisa. As mesmas histórias e coisa e tal. Entrou agora Duas Caras no ar e eu pergunto: qual é a diferença dessa pras outras? Ah, claro. O cenário mudou, tem que ser mais realista porque é gravado em digital. É isso? Porque de resto...

Tem uma pensata na Folha Online, do Sérgio Malbergier, que discute isso. Malbergier fala da longevidade e influência da TV a partir da troca de bastão entre Duas Caras e Paraíso Tropical (com direito a final xoxo). Inclui ainda como exemplo a entrevista de Lima Duarte à FSP, em março de 2006, e eu vou ctrl+c/ctrl+v na fala do Lima:

"É duro fazer novela. Está cada vez mais cansativo. Estão escrevendo a mesma história há 40 anos. Faço o mesmo personagem, e o público chora a mesma lágrima, no mesmo horário. Mas o povo não deixa mudar."
Exatamente, o povo não deixa mudar, mas a TV também não arrisca. São dois problemas. O povo não deixa mudar porque a sociedade brasileira funciona à base de hipocrisia. Quer ver a mocinha, o vilão, porque sabem que na vida normal não é assim, mas é melhor fazer de conta. Vivem metendo o bedelho na vida alheia, então melhor meter o bedelho no fuxico nacional e discutir no outro dia no trabalho ou com a vizinha. Não gosta de ver retratada gente com personalidade dúbia, porque tem que ter um representante do bem e uma personificação do mal. E sai da frente da TV se o programa trazer dramas mais consistentes, porque brasileiro "sofre no dia-a-dia". Já a TV mexe com dinheiro e não é uma arte, é um produto, o que dispensa comentários, já que não vou explicar a sistemática capitalista.

Daí a gente vê essas coisas aí. E Malbergier dá o tom com uma coisa que eu falo há muito tempo:

"A TV Globo orbita em torno do drama das oito. Se a novela vai bem, a emissora vai bem. E, ao contrário das sitcoms semanais que dominam a audiência nos EUA, a telenovela é diária. Enquanto CBS, NBC e ABC têm cinco seriados por semana para cativar o público americano e, com ele, os anunciantes, a Globo só tem um tiro, a novela das oito. Ele tem de ser certeiro, e para isso vale tudo, com pressão enorme sobre seus autores e diretores, boa parte enfartada."
Eu adendo que a CBS, a NBC, a ABC, o Showtime, o CW e outros também se preocupam em trazer novidades e apostar em coisas mais consistentes, por mais que tenhamos sempre as "sitcoms" e suas piadas e os dramecos por filão, tipo "drama familiar", mas ainda assim há coisas pro público pensar, como Desperate Housewives, Lost, 30 Rock, The Sopranos, Dexter, Big Love e os CSIs, enfim...

Fato é: a telenovela tem que mudar. E chamar o público jovem de hoje com coisas mais consistentes do que Malhação e Dance, Dance, Dance. E também pensar em incutir mais inteligência e senso artístico em suas produções e deixar isso transparecer para o público. E não tratá-los como um bando de burros.

Turno da Manhã

Julgamento RIAA+ Termina hoje, nos EUA, o primeiro julgamento da RIAA contra uma pirata da internet. Ela baixou 1.700 músicas, eles querem US$ 4 milhões de indenização.

+ Filme de O Amor nos Tempos do Cólera estreou ontem, no Festival do Rio.

+ Primeiro, Coppola, agora, Indiana Jones. Não se respeitam mais os ídolos.

+ Pra perder tempo no trabalho, erros de gravação da 3ª temporada de LOST.

+ Durou pouco. Empresário do Radiohead diz que a banda quer contrato com alguma gravadora.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Turno da Manhã

+ Fernando Meirelles já está filmando a última parte de Blindness em São Paulo. Até limparam a escadaria do Teatro Municipal pra cena.

+ Nem sei se isso cabe aqui, mas hilária a entrevista da Paris Hilton no Letterman.

+ Efeito Tropa de Elite: farda do BOPE entrou na moda.

+ Seguindo a moda Radiohead de vender discos, os Charlatans anunciaram: próximo CD deles será de graça.

+ Finalmente, Ridley Scott conseguiu terminar seu Blade Runner.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

História sendo feita

Contrariando as expectativas, o disco novo do Radiohead será lançado daqui a apenas dez dias. O nome será In Rainbows, e contará com 12 faixas. Não fosse tudo isso entusiasmante o bastante, a surpresa mesmo está no formato de venda. Ele será comercializado somente pela internet, através do site da banda, em versão de download ou encomenda de um box contendo CD + disco duplo de vinil + CD multimídia com sete faixas extras.

O box sai por 40 libras (cerca de 160 mangos), já o download sai por quanto você quiser. Acredite. Se você entra no site para fazer a encomenda do disco, ao “fechar a compra”, o formulário deixa o espaço de preço em branco. Ao lado, a mensagem “it’s up to you” (“é por sua conta”). Você paga quanto achar que deve. Eles entregam no mundo todo e aceitam todos os cartões de crédito e débito (sim, débito, tipo Visa Electron).

O disco está saindo 100% independente, sem qualquer apoio de grandes gravadoras na feitura ou distribuição. É esquema revolucionário na indústria, porque é uma banda grande, referencial. Até o iTunes o Radiohead mandou às favas, vai cuidar de tudo sozinho.

Agora basta o disco ser bom (no nível de sempre) para esse pequeno passo se tornar um marco histórico, futuramente conhecido como a pá de cal na indústria fonográfica do século XX.