sexta-feira, 29 de junho de 2007

Na Noite da Praça

Narrativas entremeadas, ação veloz, quatro pontos-de-vista, uma conclusão: a subjetividade é sempre a mais forte. Não importa como consigamos narrar um fato: ele vem daquilo que você depreendeu. Sempre. Contardo Calligaris diria melhor. É assim que Na Noite Da Praça, mais uma do projeto E Se Fez a Praça Roosevelt em 7 Dias, se configura. Dirigido por Luiz Valcazaras, o texto de Alberto Guzik pretende expôr esse olhar subjetivo da forma mais deliciosa que pôde encontrar - a comédia.

Uma garçonete (Marília Di Santis), um estilista (Álvaro Franco), um morador carrancudo (Rodrigo Fregnan) e um garoto de programa (Ricardo Corrêa) dividem o espaço cênico na tentativa de colocar na luz o que acham sobre um acontecimento: o estilista foi pego em flagrante na Praça Roosevelt com a boca em outro lugar - que não a botija - de um garoto de programa que, por acaso, é menor de idade. E os relatos vão se costurando rapidamente enquanto cada personagem defende o seu ponto-de-vista, olhando nos olhos do espectador. O mais gostoso é que a espontaneidade da interpretação permite que os atores joguem constantemente com a platéia. Houve um momento em que ri de uma reação do estilista e ele me devolveu um sorriso sincero que tinha tudo a ver com a piada. No olho, na hora.

Valcazaras transforma aquele amontoado de informações em um espetáculo quase musical, com direito a spots em momentos dramáticos, flashbacks, subidas em escadas, transformações de personagens, cantoria e, óbvio, um histrionismo hilariante. Os atores desfilam literalmente na passarela construída com a colocação de duas arquibancadas contrapostas. A coxia é exposta, os atores descontróem suas personagens à vista da platéia e envernizam a história cada vez mais. Por causa do elenco afinadíssimo também.

O texto de Guzik facilita, é verdade. Assim como O Amor Do Sim, é repleto de referências pertinentes àquele pedaço de terra teatral e junta as interpretações estereotipadas para montar um mosaico dessa praça, que reúne espetáculos tão diversos e teima, ainda bem, em dissertar sobre a diversidade, seja ela num momento dramático, seja ela em um momento cômico. E no cômico, olha, a gente rola de rir.

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Blog de Alberto Guzik

quinta-feira, 28 de junho de 2007

A Noite Do Aquário

O storyline da peça reverberou na história pessoal de um ente querido. A família, as loucuras de sair de casa, como as relações ficam conturbadas quando têm de ser retomadas. A atual situação desta pessoa poderia ser muito bem o que aconteceria se A Noite Do Aquário, de Sérgio Roveri, não tivesse o desfecho que teve. Composta por três tristes figuras, a desmantelação do seio familiar é o mote do espetáculo.

Parte integrante do projeto E Se Fez A Praça Roosevelt em 7 Dias, empreendido pela Companhia Os Satyros, que finda nessa semana, temos uma história há muito recontada, mas agora poeticamente transposta ao teatro. A mãe (Clara Carvalho) recebe a inesperada visita do filho mais velho, José, (Germano Pereira), após 8 anos de exílio e apenas 4 cartas endereçadas à família. Ressentida, ela luta para não projetar no filho a imagem do marido que saiu para São Paulo trabalhar e nunca mais voltou. Completa o triângulo o filho mais novo, Pedro (Chico Carvalho), que se coloca entre o apoio à mãe e a saudade do irmão.

Por falar em Chico, muitas vezes a bondade registrada na leveza de sua atuação e o excessivo gestual destoam da simplicidade contida do espetáculo, mas Clara Carvalho, conforme impressões de amigos, é a "mulher que parece que vai explodir a qualquer momento" e é verdade. Clara segura a intenção no olhar, explora a força interior e coloca-se à frente dos outros dois. Germano é correto em seu José. Junta-se a aridez da concepção, conjugadas à luz, ao som e à cenografia, trazendo um contraponto especial com a água sempre relatada do porto fictício onde moram a mãe e Pedro, graças à mão do diretor Sérgio Ferrara.

A chegada do forasteiro, como sempre, é o fio que desestabiliza aquela aparente calma na ilha da qual todos estão saindo - o porto vai fechar; a solução reside em José. O trauma da perda do marido é o que vai destruir tudo. Sobram apenas a melancolia da lembrança da mãe no dia em que foi tentar encontrar o marido em São Paulo e se deparou com o prédio em forma de onda (o Copan) e a praça que foi inaugurada com a voz de Elis Regina (a Roosevelt).

O que sobrevem é a metáfora da raiz da árvore que consegue atravessar o concreto. O instinto de liberdade, quando chega, não pode ser controlado. E é o que faz a mãe no desfecho da peça. Voltando à pessoa a quem me referi no começo: hoje, o problema é fazer com que aqueles que se quis salvar voltem para a ilha, para conseguir, enfim, se libertar. No caso do espetáculo, apesar de ser uma saída hedionda, ainda assim é belo e poético. Como o cair da água no rosto árido.

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Blog do Sérgio Roveri

Ponto final

Neste sábado sai do ar o NoMínimo, site que fez pela internet brasileira o que a Piauí está fazendo pelas revistas nacionais. Não será o primeiro fim dele, que antes da bolha era o No., mas é provável que num retorno - se houver - jamais seja o mesmo.

O brilhante Tutty publica um texto de despedida do site que fez muita gente (como eu) ter esperanças no jornalismo:

"Em dois anos, a primeira revista eletrônica brasileira sem base de papel nas bancas, sonho de uma turma cá pra nós já meio velha para se aventurar na imprensa alternativa, estava reduzida àquele grupo de jornalistas experientes reunidos tardes a fio em volta de uma cafeteira velha esquecida na redação-fantasma que ocupava meio andar do imponente prédio da Academia Brasileira de Letras, no Centro do Rio. Rir pra não chorar."

Sem surpresas

Previsível para quem assistiu os outros dois, 13 homens e mais um segredo (Ocean's Thirteen) não é mais do que os outros se propuseram a ser. O motivo é novo mais o golpe já não é novidade.

Golpear quem? Willie Bank (Al Pacino), dono de um futuro hotel-cassino de Las Vegas que traiu Reuben Tischkoff (Elliott Gould), pai de todos os 11 melhores ladrões. Matar Willie Bank seria pouco, a vingança tinha que ser doce e divertida, que tirasse Willie do eixo tirando dele seus maiores triunfos.

De fato que Bank é um vilão muito pior do que o último enfrentado, Terry Benedict (Andy Garcia) , ingênuo perto de Bank. Al Pacino desenha o personagem com traços óbvios de um vilão, sem muitas sutilezas. Mas é justamente a despretenção da encenação que o filme cativa tanto.

Mesmo usando todos os recursos possíveis, os Ocean's ainda vão ter que pedir ajuda a Terry, por dinheiro, misturando ai além de Terry, François Toulour (Vicent Cassel) do filme anterior fazendo os persogens se encontrarem de novo. E mostrando coisas pequenas mais essenciais para qualquer bom ladrão, lealdade.

O diretor Steve Soderbergh deu a mesma liberdade que dá para sentir nos outros dois filmes aos atores. Danny Ocean (George Clooney) e Rusty (Brad Pitt) são a prova viva disso na tela. Sempre atendendo o celular, Brad continua fazendo graça enquanto conversa diálogos abertos sobre seus relacionamentos amorosos e o envelhecimento com George que não está menos brilhante e sedutor d que nos outros.

O diretor arriscou mais, com perspectivas inusitadas sobre a cena, os primeiros 15 minutos de filme fazem você se lembrar porque é tão legal acompanhar o golpe que você sabe que vai dar certo mas que quer entender porque vai dar certo. Porque se você viu os outros dois com a mesma desprentenção que vai sentir que existe nesse vai ver que todas as curiosidades estão lá. Linus Caldwell (matt Damon) ainda é o mais inesperiênte, Rusty ainda come muito, e os irmãos Virgil (Cassey Aflleck - irmão mais novo do famoso Ben) e Turk (Scott Caan) continuam brigando em cena. Os irmãos ajudam na proposta de comédia durante as cenas de uma fábrica de dados em greve no México, movida por eles que acontece paralelamente ao enredo durante quase o filme todo.

Despretensioso, Ocean's 13 não traz nada de novo além daquilo que já tinha nos encantado nos outros dois anteriores, somados a proposta leve de um grupo de atores hollywoodianos divirem a cena com outros 12, 13 grandes atores. Já que talvez demore para vermos tantos nomes famosos num mesmo filme. Vá conferir, se você for garoto vai gostar pelo suspense da jogada perigosa e se você, garota não gostar pelo mesmo motivo, vai rir quando vir Clooney e Brad chorando ao assistirem Oprah.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Petit-four

Insuportavelmente comportada para alguns, o Ludov é uma bandinha deliciosa de se ouvir num fim de tarde comendo docinhos. Se me permite simplificar, a banda seria o Belle & Sebastian brasileiro se você também é adepto das comparações metafóricas. Não faz muito tempo que fui a um show deles no CCSP e os ouvi anunciar que era a última apresentação daquela turnê. Não passou nem 5 meses e o novo cd Disco Paralelo está à venda há um mês. E pasme! Está agradando a crítica!

Mauro Motoki e Vanessa Krongold continuam sendo os líderes pop desse movimento que briga pelas letras fofas e pelo som afinadinho. Eles, que já fizeram até trilha sonora de High School Musical, mantêm-se fiéis ao seu estilo doce de ser. Ah é! Eles são agora um quarteto. O baixista Eduardo Filomeno foi estudar no exterior. Coitado, a verdade é que não fez muita falta. E se o Ludov cheira aos barbudos bem sucedidos que acabaram de entrar em recesso a culpa é do produtor Chico Neves, que também trabalhou com o Los Hermanos.

Não tem porque temer a meiguice.
Em seu último disco, Exercício das Pequenas Coisas, como o nome diz, tudo era minucioso, detalhista, se baseava nas pequenas delícias do lar. Já nesse, a sensação é que eles saíram de casa e foram andar de carro na rodovia. Vento nos cabelos e mais liberdade em todos os sentidos. Ciência e Rubi são as minhas pérolas preferidas do colar de músicas redondinhas.

Ludov também funciona como um projeto colaborativo. Cada um dá o seu melhor, aplica no grupo tudo que sabe fazer. Uma bandinha prendada, onde tudo e todos se encaixam. Dá para ouvir "click", sabe? E ainda fica com um gostinho docinho e amantegado na boca. Recomendo para as mocinhas de plantão e os rapazes sensíveis.

Olha que bacana: A MTV (aquela emissora que antes passava clipe, sabe?) disponibilizou em seu site o disco inteirinho e na ordem, prontinho para ouvir. Tenta!

Câmera lenta

Banda das favoridas, o Interpol está lançando o terceiro CD, Our Love To Admire. Ao que indica, continua parecido com os anteriores, o que é ótimo. O primeiro single é The Heinrich Maneuver (você sabe, aquele apertão que a gente dá no estômado de gente engasgada), que é daquelas músicas da banda que toca bem em baladas. O clipe é muito legal, um teste de paciência recompensador.


segunda-feira, 25 de junho de 2007

Para ver de longe

Dalton Trevisan é dos meus queridos. Sou muito desconfiado de ditas adaptações e inspirações sobre sua obra. Fato é, muita gente não o entende. Pensam que ele é mais sobre uma coisa, quando na verdade é sobre outra.

Educação Sentimental do Vampiro, da Sutil Companhia de Teatro, pensa que é sobre uma coisa, mas na verdade é sobre outra. Trataram a obra de Trevisan como uma coisa banal, uma observação suja e simplista sobre a vida secreta de cada um. Não é. Não há traços da observação cínica do autor, nem seu cuidadoso esmero em retratar tanto com tão pouto. O Trevisan capaz de novelas de apenas um parágrafo não aparece no palco, pelo contrário, tudo é meio exaerado, existe em escala descomunal. Dos gestos às músicas, tudo é tão maior do que deveria... A narração, por exemplo, recurso constante, enche tanto o palco de palavras que faz o autor soar como um homem verborrágico e acelerado. Falsamente.

Na minha arrogância de sujeito desconhecido, digo que Felipe Hirsch não entendeu a obra de Trevisan. Adaptou qualquer coisa que lhe fosse interessante, pinçou na maioria bizarrices sexuais e foi lá, montar uma versão para Jerry Lewis da obra do vampiro de Curitiba.

É peça para ver de longe, porque, de perto (ali, na primeira fila) além de ser difícil captar tudo o que ocorre no palco sem se distrair pela amplitude, é possível notar detalhezinhos que incomodam, as joelheiras dos atores, a produção que entra durante o blackout pra mover o cenário, os atores se movimentando impacientes na cochia.

Incontáveis blackouts. Tudo numa tentativa de pontuar e diferenciar histórias que, no final das contas, são todas a mesma. Educação Sentimental é um grande espetáculo de 2 horas que conta a mesma coisa achando serem várias diferentes. E o riso fácil, claro, das escatologias e gestos desengonçados. Porque não deixam a comédia para quem é do ramo, meu deus?

Não posso nem dizer que fiquei decepcionado, não sinto que um dos meus autores preferidos foi manchado. Nem era ele lá, mesmo. Estava mais para um Nelson Rodrigues gótico adolescente, fazendo intercâmbio em Londres para falar mal da "burguesia" lá do Brasil.

Para quem quiser arriscar, está em cartaz no Teatro Popular do SESI, na Av. Paulista, por 3,00 mangos.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

"Oh my goooooood..."

Com vocês, as piores cenas de todos os tempos (em inglês). Divididas em seis categorias: Pior seqüência de morte, pior dublê, pior reação de personagem, pior atuação, pior diálogo desnecessário e pior efeito especial.

Shark Attack 3 merece aplausos, levando logo dois prêmios para casa. Eu não sei, mas achei injusto o ator da pior cena de morte não levar, também, o de pior atuação. Talvez seja porque ele roubou toda a cena do ninja branco, claramente o protagonista do filme...

quinta-feira, 21 de junho de 2007

O outono do Patriarca

crédito: William Fernando Martinez/AP
Minutos antes de ir embora pela última vez de Aracataca, ele prometeu a um amigo que só voltaria a cidade quando sentisse a morte lamber o pescoço. Vinte anos se passaram e ele não ficou mais jovem. Talvez nem mais velho. No mundo onde vive, o fantástico acontece sem a pressa do tempo e afinal, Macondo nunca envelhece. Há 20 dias atrás, Gabo voltou à cidade natal.

A locomotiva que o levava a pequena cidade no interior do Caribe Colombiano saiu com atraso da estação de trem. Percebendo a importância da data e talvez a nebulosidade que envolveria a volta de Gabriel García Márquez a sua origem, os fãs criaram tumulto e cercaram o escritor de suas ansiedades. Brincalhão, ele se sentou ao lado de sua esposa Mercedes e acenava da janelinha.

No meio da viagem porém, uma ponta de tristeza o invadiu. Olhava as árvores ficando para trás inseguro e melancólico. "Gabito sempre evitou voltar ao seu povoado natal por medo. Embora não o diga publicamente, para ele retonar a lugares onde cresceu é como refazer seus passos e isto o faz refletir sobre a morte", declarou à Folha, Guillermo Valencia, um de seus amigos de infância do colégio Montessori de Aracataca.

Para quem leu Memória de Minhas Putas Tristes sabe que Gabo anda se preparando para o porvir. Aos 80 anos, ele vê a vida com fantasia, é fato, mas com uma pitadela de angústia de quem não se sente mais tão ligado ao agora. Pode não ser o anúncio da morte, mas ao pisar na cidadezinha, uma onda de borboletas amarelas seguiu seus passos e iluminou o caminho. E se for mesmo o fim, foi do jeito que deveria ser: Surreal.

*Oportunismo à parte, sai a edição comemorativa de Cem Anos de Solidão em espanhol. Outra boa dica são os pokets, também em espanhol, de todos os livros de Gabo a meno de 25 reais. Nunca é demais.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Não Por Acaso

Rita Batata e Leonardo Medeiros em Não Por Acaso

Sensível. Essa é a palavra que se pode utilizar para definir Não Por Acaso, o primeiro longa de Philippe Barcinski. Após os aclamados curtas Palíndromo e Janela Aberta, Barcinski demonstra uma intimidade gigantesca com suas personagens e consegue construir um clima de aproximação deles com a platéia de forma muito bonita.

É daqueles filmes que a câmera namora sem demora, com belíssimos planos e tomadas da cidade de São Paulo por ângulos muito poéticos - cortesia da fotografia de Pedro Farkas. Conta também com efeitos especiais sutis e de muito bom gosto, que adicionam ao filme um toque refinado e completamente condizente com a proposta do roteiro, que foi escrito pelo próprio Barcinski, aliado a Fabiana Werneck e Eugênio Puppo (colaborador usual do diretor).

O longa conta a história de duas pessoas que tentam controlar a vida. Pedro (Rodrigo Santoro) é marceneiro e monta mesas de sinuca. Com a namorada Teresa (Branca Messina) por perto, morando com ele em sua casa, ele consegue deixar que tudo esteja a seu alcance, incluindo as jogadas que ensaia nas mesas que ele mesmo fabrica. Por outro lado, Ênio (Leonardo Medeiros) controla o trânsito caótico da cidade de São Paulo com precisão milimétrica e vive ainda a dor da separação da ex-mulher (Graziella Moretto). Acontece que um acidente em comum vira a vida dos dois de cabeça para baixo, tirando deles o controle prévio, introduzindo aí as personagens Lúcia (Letícia Sabatella) e Bia (Rita Batata).

Lentamente a metrópole resignifica pelas lentes do diretor. Adquire um misto de liberdade na história de Ênio e vai se tornando fechada na história de Pedro. E isso por contraposições. A imagem de São Paulo vista do alto da serra é de clima romântico. Entretanto, por ser construída a cena, como ela foi levada até aquele momento, torna-se um triste retrato, literalmente, da solidão de um homem. Por contraste, a feiúra de um viaduto no meio da cidade, cortando-a, que é o caso do Minhocão, ganha uma densidade feroz no caminho de "in-solidão" da personagem Ênio, redescobrindo o dom de relacionar-se com a própria filha. As imagens de viadutos e pontes de São Paulo também constituem em si uma importante simbologia dentro da história.

Afora as resignificações que Barcinski adota, temos as interpretações fora-do-comum dos atores. Preparados por Sérgio Penna, que intuiu para cada personagem um olhar e, como sempre, dirigiu cada ator a um estado de ação pela respiração, extraindo um resultado impressionante que transpira, jorra na tela uma força gigantesca. À parte uma atuação Letícia Sabatella de Letícia Sabatella e as pequenas participações de Giulio Lopes, Graziela Moretto e Sílvia Lourenço, temos uma Branca Messina iluminada, um antes perfeito Rodrigo Santoro e um depois triste e uma Rita Batata impressionantemente jovial. Porém, quem explode na tela é Leonardo Medeiros. Capaz de mudar completamente de emoção sem mexer um músculo sequer, sem mudar nenhum detalhe da máscara, Medeiros consegue deixar a platéia penetrar em sua alma através dos olhos, coisa que raramente se vê em cinema. É de uma generosidade sem limites com a platéia.

A crítica em geral disse que Barcinski não quis tornar o filme ultra-intelectual e abusou de trilhas sonoras na montagem (aliás, trilha sonora linda de Ed Cortês) e, mais para o final, acabou simplificando a história. Creio que não. A autoria de Barcinski é tão presente e uniforme que, pelo contrário, identifica-se o respeito dele por aquelas vidas ficcionais, tratando-se de simplificar não para facilitar e sim para apenas significar. A simplicidade é o que devemos almejar. O controle não é simples. Exige esforço, energia, dispende demais. O sabor do acaso, para bem ou para o mal, é de uma poesia inexplicável.

Não Por Acaso. De Philippe Barcinski. Com Leonardo Medeiros, Rodrigo Santoro, Branca Messina, Rita Batata, Letícia Sabatella e outros. Trilha de Ed Cortês. Roteiro de Philippe Barcinski, Fabiana Werneck e Eugênio Puppo. Estreou em 07/06/2007.

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Site oficial de Não Por Acaso
Trailer do filme no YouTube

Racha-cuca

Isto me roubou vinte minutos de trabalho, o mínimo que eu posso fazer é colocar no blog.

Você consegue adivinhar de quais filmes são estas 64 músicas? Tem que escrever os nomes sem artigo e sem acento.

Não é pra querer me gabar, não, mas eu acertei todas. Confesso que a número 48 e a número 10 quase me abriram um buraco no crânio antes de eu conseguir lembrar. E é por isso mesmo que eu não vou passar cola pra você.

Chame os amigos, divirta-se com toda a família!

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Em busca

Assassinos em série fascinam. Eles falam com algo no nosso instinto primitivo, que busca padrões e ordem no caos da vida e avalia possibilidades extremas para situações de inconformismo. O que nos diferencia deles nos torma mais próximos, também.

Zodíaco é sobre essa obsessão. Relata a investigação de vários assassinatos realizados na Califórnia durante o fim dos anos 60 e começo dos 70. Todos atribuídos a um certo Zodíaco, que escrevia para jornais explicando sobre as mortes. O caso real é contado principalmente sob o ponto de vista do cartunista Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal), mas também pelos olhos do investigador David Toschi (Mark Ruffalo), do repórter Paul Avery (Robert Downey Jr.) e alguns outros.

No melhor estilo Todos os Homens do Presidente, o filme tem ares de jornalismo investigativo e policial, com uma atenção aos detalhes tão obsessiva quanto seus personagens parecem ter. Não é um filme sobre as mortes, nem sobre o assassino. É a imporância de cada descoberta, cada nova peça do quebra-cabeça, e a conseqüente satisfação ou frustração - ao descobrir que nada se encaixa.

O diretor David Fincher (Se7en, Clube da Luta, Quarto do Pânico) está ótimo, contido de suas extravagâncias visuais e concentrado em contar a história com o máximo de detalhes que pode. Ele investe em momentos de suspense realista enquanto aproveita para capturar a aura de filmes da época, com direito a efeito de película. O elenco tira proveito e se desenvolve muito bem, principalmente Downey Jr. - o ator mais injustiçado de uma geração - e Ruffalo, que cria alguns momentos convincentes.

É um filme frustrante. Não há recompensa em suas 3 horas de duração. Todos os personagens sofrem pelo caminhar da investigação, que atravessa mais de 25 anos, carregando a vida de todos para um lado escuro e sem volta. O mesmo lado escuro que prende o espectador ao assistir o filme, o lado escuro que prende os protagonistas a uma incessante busca infrutífera. Todos encontrando mais perguntas que respostas.

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Trailer do filme (em inglês)
Participação do Zodíaco ao vivo no CBS News (em inglês)
Reportagem de Paul Avery para o San Francisco Chronicle em 1969 (em inglês)

terça-feira, 12 de junho de 2007

Estraga-prazer

Genial essa camiseta-spoiler. A estampa traz, em inglês, o final de vários filmes. Dá pra irritar muita gente desavisada com frases tipo "Tyler Durden não é real", "Era a Terra o tempo todo", "Verbal é Keyser Soze", "Donnie morre" e, minha favorita, "Rosebud era o nome do trenó dele".

E os desenhos dão uma ajuda para aqueles que não captam a mensagem de primeira. Tivesse por aqui, comprava com gosto.

Álbum de Família

Um SESC Consolação quase lotado comporta a apresentação da sexta-feira de Álbum de Família, de Nelson Rodrigues, protagonizado por Denise Weinberg (na foto, abaixo, à esquerda), Cacá Amaral (ao lado de Weinberg com Rennata Airoldi no colo) e Ângela Barros (acima, de óculos) e dirigido por Alexandre Reinecke. Só esse breve currículo já seria o bastante para tornar a peça um evento marcante. Infelizmente não o é.

A história por si só é uma cacetada. Jonas (Cacá Amaral) é apaixonado pela filha Glória (Rennata Airoldi) e ela por ele. Por este motivo e por um acontecimento passado, ele procura garotas "puras" com a ajuda da cunhada Rute (Ângela Barros), também apaixonada por Jonas. D. Senhorinha (Denise Weinberg) assiste a tudo e mantém-se impassível. O tumulto revira-se mais quando os filhos retornam para o lar: Glória, expulsa do colégio interno por se envolver com uma garota; Guilherme (Gabriel Pinheiro), apaixonado pela irmã, castra-se e abandona o seminário à procura de Glória; Edmundo (João Vítor D'Alves), expulso pelo pai, apaixonado pela mãe, abandona a mulher com quem recentemente se casou. Por fim, Nonô (Eldo Mendes), enlouquecido após grande trauma envolvendo a mãe, corre nu, como um selvagem, mata afora.

Reinecke trouxe o Nelson Rodrigues ipsis litteris, com uma cenografia estilizada, porém pouco funcional e até mesmo óbvia, com janelas ao ar e vidros quebrados. A trilha pontua e serve de transição. Só. Trazer o texto do dramaturgo pernambucano sem alterações reflete alguns problemas da encenação: a começar pela própria platéia, que mais se diverte do que pensa diante dos diálogos específicos do autor. Rodrigues adorava a causticidade e a ironia de seu texto e sabia que a platéia teria acessos de riso, mesmo que risos nervosos. Incômodo foi perceber que, mesmo quando o riso não era pretendido pelo texto, ele acontecia. E aí? Problema do recifense?

Não. Problema do elenco. Do diretor. Aquelas falas tem uma especificidade que necessita de grandes cuidados. O problema é que a maioria do elenco entende o clichê de Nelson Rodrigues: diálogos passionais. Entende-se que todas as personagens do Anjo Pornográfico eram arrebatadas de paixão e por isso quase todas as falas dos atores eram gritadas, avolumadas, apaixonadas, mais ou menos como as pessoas pensam que Shakespeare é. Daí que é um passo para a comicidade plena em uma peça séria. Salvos os diálogos do Speaker (Riba Carlovich), que são tremendamente engraçados e contrastantes, poucos são os momentos de humor, pelos temas pesados, e o histrionismo passional lima o público de perceber os reais sentimentos de todos aqueles complexos personagens.

Além disso, as soluções cênicas às vezes parecem pastiche, como no momento em que Guilherme atira em uma das personagens. Sua fala é tão descuidada, assim como a ação de pegar a arma e atirar - seguida de um som de tiro extremamente artificial (sabemos que veio da caixa de som - poderia ser um som ao vivo, uma tábua batendo ao chão, por exemplo) - que a platéia ri diante da morte de uma das personagens. Rodrigues desenvolvia um potencial muito grandioso para a tensão, armando bate-bolas constantes, interrupções, sobreposição de planos, desvios nas histórias, portanto as soluções cênicas têm de caminhar e respirar junto com o texto.

A salvação do espetáculo se dá pelos experientes Cacá Amaral, Denise Weinberg e Ângela Barros, brilhantes como sempre. Apesar do registro corporal de Tia Rute ser um pouco eloqüente demais (muitos braços estendidos), Ângela oferece uma credibilidade forte à sua Rute. Amaral constrói um Jonas amargo e forte, apaixonado sem necessidade de gritos. E Weinberg, em sua quarta peça do dramaturgo maldito, brilha como D. Senhorinha, numa composição irônica, frágil e altiva ao mesmo tempo, sem exageros, resplandecendo uma sensualidade feminina que não perpassa aos olhos de Jonas até o final, quando este reconhece na mulher o quê da filha Glória. Weinberg não se deixa enganar pela paixão e transparece da matriarca aquilo que apenas deve, nada mais.

Na contabilização de prós e contras, creio que Álbum de Família seja um espetáculo que a platéia gosta. É correto muitas vezes, mas sem ousadia. E parte do elenco que interpreta os filhos deve prestar cuidados a suas atuações. Menos paixão, menos histrionismo. Menos é mais, se diz muito hoje. Assim, platéia, olhares direcionados para o trio Weinberg-Amaral-Barros. Estes valem, sempre.

O que 3,5 milhões de pessoas não viram

Fomos resenhados na bacana revista Bacante (que, na verdade, é um site. Quem diria!). O texto é da Juliene Codognotto e ela aproveita para registrar como foi a nossa apresentação pós-maior manifestação pública de orgulho GLBT do mundo. Texto legal que você lê clicando aqui.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Um século, um mês

O fim do carnaval. Enfim, o hiato dos Los Hermanos se confirmou no último show na Fundição Progresso, no Rio, neste fim de semana. Os fãs devem ter chorado, urrado, lavado à alma. Pelo menos era assim que eu sempre saia dos shows da banda e olha que nem era o derradeiro.

Emocionadas são as lembranças do tecladista (ex, agora) Bruno Medina em seu blog Instante Posterior, que mantém no G1. Medina, rapaz sempre tão dado às letras, tenta transpor o que foi a última apresentação , mas acaba relembrando a trajetória da banda. Do começo ao fim.

E o engraçado é a identificação que causa. As fitas cassetes demo, desenhadas uma à uma, a luta para achar um xerox mais barato para imprimir os encartes, a delícia de conseguir tocar para mais do que 50 pessoas. Aquela coisa de começo de carreira, sabe? Do montar e desmontar dos equipamentos em tempo recorde, colocar tudo no carro e torcer para que na semana seguinte tenha mais público.

E o texto vem numa hora tão propícia, junta com o turbilhão de pequenas batalhas que o Teatro Insano está passando. Este fim de semana, por atrasos que independeram ao grupo, nossas apresentações foram bem agitadas. A correria para montar luz, cuidar da bilheteria, maquiar, alongar, montar palco, aquecer, mudar cena, cuidar dos pormenores que são sempre infinitos em dia de espetáculo. E era banco, com escada por cima, ator se aquecendo no meio, flores despedaçadas, chão sujo, fantasmas e nervosismo. E ainda por cima, estar inteiros no palco.

Invés de rezar, cantei: "como pode alguém sonhar / o que é impossível saber / não te dizer o que eu penso já é pensar em dizer". E aí vem a epifania, quase programada: estar em cena é isso aí. Entramos desconcentrados sim, afinal não é fácil conseguir pensar em tudo, mas estávamos quentes, latentes. O espetáculo nos sorriu de volta e o jogo cênico aconteceu. O importante é se divertir.


"Uma vontade de olhar para o que passou e para o que ainda está por vir com igual peso". Assim Medina termina seu texto, otimista. Eles deixaram de carregar caixas, mas nunca se esqueceram do peso. De alguma maneira isso acalenta o nosso futuro, se nele um dia chegarmos. Por enquanto, ainda seguimos estourando músculos e arrastando caixotes nos teatros por aí. Será que um dia...?

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Pra querer revolução

Fato que não tendo dinheiro em pleno feriado, você vai acabar numa locadora para alugar algum clássico que você sempre quis ver mas nunca deu tempo. Pelo menos eu sou assim.

A Blockbuster pode impressonar. É cara, custa a meia de uma entrada no cinema mas naquele corredor de filmes brasileiros você encontra relíquias. Passei lá hoje e entre Cronicamente Inviável, Quando Vale ou É Por Quilo? e Lavoura Arcaica eu fiquei com Cabra-Cega.

O tempo é da ditadura militar, acredito eu que os brasileiros vivem relembrando essa parte porque devia ser legal saber como é uma revolução. O personagem: Thiago (Leonardo Medeiros), um militante procurado pelo governo sendo obrigado a ficar escondido num apartamento. Ele, revoltado, não quer ficar, faz greve de fome, diz que o dever de todo revolucionário é fazer a revolução.

Fazer a resenha do filme seguindo o estilo das postagens é difícil principalmente quando move você. A atuação é boa, intensa, de final pra aplaudir de pé. De verdade e sem exageros. Com Jonas Bloch como Matheus, o líder do partido militante que deixa transparecer no olhar o medo de revolução falhar, da idologia se perder em meio a tantas mortes. Mas morte é só um detalhe pra quem quer liberdade e sente pulando dentro do peito uma vontade de lutar por aquilo que acredita.

Se você gosta de história vai gostar do filme, dá saudade daquilo que a gente não viveu mas já nasceu cansado. Com Roda Viva de Fernanda Porto e Chico Buarque o filme traz aquela vontade de fazer a revolução.

"Mas pra fazer revolução, você precisa de muito mais do que uma frase de efeito". Pra ter vontade de viver numa sociedade tão a-política.

No músculo oco do coração

Pra você que ainda está em dúvida para assistir Amores Dissecados, este post pode ajudar. Em agosto do ano passado participamos do XI FESTIL de Pindamonhangaba (terra tão frutífera). Ganhamos sete prêmios, incluindo o primeiro lugar de espetáculo adulto. O juri, formado por praticantes e interessados em Teatro, produziu uma belíssima resenha na noite de nossa apresentação. Foi a seguinte:

"Como uma proposta fragmentada pode nos levar à catarse? Poderíamos nos debruçar sobre a literatura e passarmos horas divagando nas infinitas possibilidades ou então sermos arrebatados pelo espetáculo Amores Dissecados. E porquê?

1. Um trabalho sério de pesquisa artesanal, sincero, ora denominado teatro colaborativo, que se concretiza a partir da generosidade dos integrantes da companhia: atores-técnicos-diretores-dramaturgos.

2. Tratando do tema 'Amor' sem as pieguices, com a justa dimensão da tragédia, sugerindo imagens que comungam/dialogam com o público. Ressalte-se nesse aspecto que, na apresentação de hoje, uma platéia descompromissada e que ainda assim se rendeu às armadilhas do amor.

3. Um elenco afinado, com interpretações precisas, condizentes com a partitura de um 'spalla' ou desconcertantes como os dribles de 'Garrincha'.

4. Uma direção na consciência de 'nós', alicerçada pela parceria com os intérpretes-criadores, que pelo que nos parece, abrem mão de uma estética pessoal em benefício do coletivo, sem impôr o ritmo industrial que a arte contemporânea se meteu. Pelo contrário, com a paciência de quem espera o momento certo para a obra desabrochar.

5. Uma sonoplastia tirada do baú, que surge como se nunca tivesse envelhecido. Essas verdades cantadas tocam na alma e doem absurdamente no cotovelo. Somente sendo brasileiro para saber o que é sambar com a nostalgia, amor não correspondido/concretizado, ou ainda batucando no músculo oco do coração. Ou quem sabe remexendo nos amores dissecados.

Assinam os jurados

Fábio Mendes
Feu de Andrade
Márcio Douglas"

quarta-feira, 6 de junho de 2007

O Amor do Sim

Se existe uma atriz que pode personificar o TEATRO, essa é Ângela Barros. Sempre surpeendente, de uma energia fortíssima, uma mãezona, tal e qual uma Cacilda Becker de nosso tempo. Se Cacilda dizia que "se fingia que cantava, todo mundo acreditava", Ângela pode dizer: "se eu interpretar o próprio Teatro, as pessoas irão acreditar". E é isso o que acontece em O Amor do Sim, em cartaz no Espaço dos Satyros Um, na Praça Roosevelt.

Ela literalmente rouba a cena dos outros competentíssimos atores nessa comédia de Mário Viana, integrante do projeto E Se Fez a Praça Roosevelt em 7 Dias, com uma peça para cada dia, ligada à Praça que abriga vários teatros. O Amor do Sim é a de segunda-feira. Comédia leve, como deve ser o começo da semana. Entretanto, Viana insere pitacos interessantes, aproveitando o encontro de quatro personagens distintas: o espírito do Teatro, um iluminador (Otávio Martins), uma manicure (Flávia Garrafa) e um homossexual (Alex Gruli).

A manicure Sueli foge da barbárie que assola o mundo lá fora e é salva por um iluminador, Louro, que a ajuda a se esconder no teatro. Eles acabam se interessando um pelo outro quando descobrem a existência do espírito do Teatro, de nome Dirce (Ângela Barros). Entretanto, o homossexual Buri surge, também fugindo do caos, para colocar fogo na relação entre o artista e a esteticista.

Aparentemente despretensiosa, a comédia lida com situações para provocar o riso, muitas vezes auto-referenciais e metalingüísticos, não bastasse a cenografia reproduzir o Espaço Um dos Satyros na verossimilhança-espelho. Só faltava cópias do público sentado. Sueli estranha aquele teatro, o teatro não-convencional, sem drapeados e ornamentos. É a voz do dito "povão", que credita ao Teatro a alcunha de "difícil de ser entendido" e elitista. Quando a manicure diz a Dirce sobre as novelas, o espírito do Teatro quase se apaga.

A comicidade surge desses tipos, logicamente: um iluminador descolado (porque se entende que gente de teatro é assim), um homossexual afetado e uma manicure alienada. As interpretações estereotipadas, numa primeira análise, seriam passíveis de crítica ferrenha, já que é o que se faz atualmente: qualquer falta de complexidade de personagem é tremendamente criticada; tipos só na Commedia Dell'Arte... Mas eu não achei que foi o caso. Há uma proposta.

Os tipos não pretendem atingir só o riso. Na verdade, servem a múltiplas funções: abrangem a variedade de pessoas na Praça Roosevelt (gays e pessoas da classe teatral) e o povo que desconhece o lugar (moradores da periferia). Objetivam o macro, o foco maior: a Barbárie contra a Arte, o Teatro, o Povo, os Artistas e os Excluídos. Além do mais, os detalhes de composição que cada ator utilizou para as personagens retira o viés pejorativo do "estereótipo" daqueles seres ficcionais. Ponto para Alexandre Reinecke, o diretor, e os atores.

Com todos esses prós, um contra me deixou de dar nota 10 à comédia: a resolução rápida dos conflitos estabelecidos numa lógica muito bem aceita para comédias românticas, mas inaceitável para dramaturgos e encenadores experientes. Entretanto, a peça diverte e é crítica, coisa que poucas comédias hoje fazem. Portanto, relevemos.

O Amor do Sim. Direção: Alexandre Reinecke. Elenco: Ângela Barros, Flávia Garrafa, Alex Gruli e Otávio Martins. Onde: Espaço dos Satyros Um, Praça Roosevelt, 214. Quando: Segundas, 19h. Até 30 de junho.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Amor é assim, alegria, tristeza, tudo repetição do mesmo princípio...

O fim de semana durou um ano. Estreamos no último sábado (dia 2) e tudo era extremamente reluzente. Divulgação a postos, como nunca havia sido feita antes em dois anos de peça. Apostamos alto, angariamos fundo, entramos para mudar o jogo. E estávamos exaustos sim, mas a expectativa era muito maior do que todo o resto. As luzes afinavam, enquanto a maquiagem preenchia as imperfeições e a caneta deslizava nas costas do ator.


Não era a primeira vez, sabemos, estamos calejados, vividos de Amores e ainda assim, crus, porque cada segundo é novo quando se está jogando. E no meio de todas aquelas sensações repetidas, você entende o porque continua fazendo isso sem ganhar um tostão, se desdobrando em dois trabalhos, querendo sempre ir além. Queríamos um prêmio? Ganhamos. Queríamos temporadas? Conseguimos. Queríamos ir pra São Paulo? Cá estamos. Difícil não ficar feliz com o que conseguimos, difícil também querer parar por aqui, achar que está bom. Nunca está. Se deu alguma coisa errada? Sempre dá. Cabeçadas no escuro, nervosismos à parte, cenas ralentadas, e vamos seguindo. A graça é ir consertando as imperfeições, buscando aquilo que não existe.

Talvez fosse só paixão...

A taça levanta, os panos vermelhos prendem, o guarda-chuva abre. E no fim as palmas, as críticas, as risadas no camarim de alívio. No dia seguinte começa tudo de novo. Estamos em cartaz. Passa lá.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Amores no Mix Brasil

Uma reportagem muito legal sobre o espetáculo saiu no site Mix Brasil. O texto enfoca o lado dos relacionamentos gays mostrados na peça. Muito bacana. Para ler, dê uma clicada neste link.