quarta-feira, 25 de abril de 2007

Lugar-comum

A geração de novos autores me dá dor no pâncreas. São sempre os mesmos, mesmo quando não são. E a literatura continua ruim. A nova agora é filha do falecido Dias Gomes, autor de ótimas novelas (sim, elas já existiram) como Saramandaia e grandes roteiros, como O Pagador de Promessas.

Mayra Dias Gomes, de 19 anos, escreveu Fugulaça, romance semi-biográfico regado a sexo, drogas e rock'n'Roll. Supostamente, ela passou por uma fase conturbada na vida, quando sofreu muito, andou com pessoas ruins, sentiu-se solitária e fez escolhas erradas. Alguém avise a garota que isso é comum e tem nome: adolescência. Um trecho da obra:

"Ele me pegou com vigor pelos braços e me jogou na cama. Eu tentei me levantar mas ele me empurrou novamente, colocando a mão nos meus seios. Olhei pro teto e vi as estrelinhas que brilham no escuro grudadas. Eu costumava fazer pedidos a elas com espírito de criança intocada que não conhece o mundo."
Por favor, façam eles pararem!... E eu que achava que o fundo do poço da literatura nacional atendia pelo sobrenome Young. Era só o começo...

Window In The Skies

Não é a maior novidade do momento. A novidade fica por conta da dupla Sandy e Junior que anunciou se separar e sua noticia repercutiu mais do que Los Hermanos entrando em recesso. Mas música boa é música boa. E banda antiga que já tem respeito, merece atenção.

Porque uma música nova do U2, para um fã, é o suficiente pra imaginar um próximo show.

terça-feira, 24 de abril de 2007

A trilha sonora

Atualmente, as novelas brasileiras são compostas por canções de artistas convidados vendáveis, que podem ser facilmente tocados nas rádios. Na novela Páginas da Vida, anterior à atual Paraíso Tropical, o hit de Corinne Bailey Rae - Put Your Records On - foi tocado à exaustão.

Em geral, as trilhas servem de tema para determinados personagens. Quando eles aparecem em cena, toca a canção. Outra utilidade é a de junção. Para juntar cenas e pontuar lugares, deixando o espectador ciente de que a próxima cena mudará de lugar, paisagens aparecem, ultimamente o Rio, e o tema do personagem toca.

O problema é que o limite disso é mais do que ultrapassado. Não há trilha sonora na novela brasileira. Há canções de artistas variados que servem ao propósito comercial apenas. A idéia de junção e de tema, na verdade, é o melhor caminho para colar as músicas na cabeça do telespectador, que logo deixa as músicas tamborilarem em sua mente e, conseqüentemente, acaba comprando o CD da novela. Artisticamente falando, é um recurso pobre. Na verdade, um recurso de valor artístico algum. O editor das cenas de telenovelas da Globo (e agora da Record - não citaremos o SBT, pela qualidade) deve seguir uma cartilha elaborada 50 anos atrás.

Já nos Estados Unidos, por exemplo, o soundtrack (cuja tradução perfeita seria exatamente "trilha sonora") engloba composições especiais para suas séries, canções de terceiros e efeitos sonoros até. O que não quer dizer que possam ser utilizadas levianamente. Um exemplo interessante de como uma soundtrack pode ser artística é a do seriado Lost. Preste atenção na primeira coisa: há um compositor. O nome dele é Michael Giacchino. Ele compõe a trilha incidental do seriado, que pode ser recorrente dentro de seus temas, mas busca variações, sutilezas e muitas vezes serve aos propósitos dramáticos da série. Existe também um conceito. Giacchino busca violinos distorcidos e pianos graves para intensificar, pontuar, digredir, aliviar... Tudo casa com o mote da série: as pessoas estão perdidas literalmente e figurativamente e a trilha serve de base para que o espectador se situe no mesmo pé em que as personagens.

Agora, veja como é uma questão de conceituação: as canções de terceiros, quando existem nesse tipo de série norte-americana, são tocadas de forma que sejam inseridas dentro da série organicamente ou então pontuando um momento bonito ou enlevador, ou até mesmo como tema, mas não utilizadas exaustivamente.

Um outro ponto problemático é o ressaltamento de situações. Perceba: na novela Pé na Jaca, quando os personagens Lance (Marcos Pasquim) e Guinevere (Juliana Paes) "puxam" a dor de outras pessoas para si mesmos, a trilha que entra é a mesma utilizada para as aparições do fantasma de Nanda (Fernanda Vasconcelos) em Páginas da Vida. Ou seja, de uma novela para outra, a Rede Globo utiliza a mesma trilha para ressaltar situações similares (no caso, fatos considerados extraordinários). Perceba também em situações de humor, geralmente nas novelas de Sílvio de Abreu, quais são as trilhas utilizadas.

Finalmente, além de trilhas "situacionais" iguais de novela para novela e a trilha sonora puramente comercial, o coroamento se dá pelas novas trilhas "situacionais" que aparecem de vez em quando: na novela O Profeta, quando algum acontecimento grandioso acontece, um coral canta, a la O Fortuna, do espetáculo Carmina Burana, num clichê inequiparável e, de certa forma, brega. Combina com a(s) novela(s).

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Falando na TV

Em julho de 2006, antes de uma apresentação do espetáculo Amores Dissecados na Universidade Metodista de São Paulo, o Teatro Insano concedeu uma entrevista de quase uma hora para o programa Circuito Cultural, do canal local da Vivax.

Falamos sobre as apresentações, o conceito do espetáculo, de onde surgiram as idéias para as cenas, além de apresentar algumas delas em um esquema meio de improviso. O resultado ficou meio estranho (não tínhamos idéia de como era o formato do programa, e os entrevistadores aparentemente também não), mas é muito legal assistir novamente. Abaixo você vê um trecho.

Participaram da entrevista Alberto Cataldi, Fernanda Tsuji, Bianca Andrejauskas (que não está mais no grupo), Ricardo Schers, Valmir Júnior e Kéroly Gritti (escondidinha atrás do apresentador). Recordar é viver.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Homem-Urso

O Discovery Chanel está exibindo durante este mês o documentário O Homem-Urso. Um dos melhores filmes de 2005, do brilhante diretor alemão Werner Herzog. Já escrevi um bocado sobre ele em outro lugar, há bastante tempo, mas minha admiração me impede de deixar só por isso.

O Homem-Urso revela Timothy Treadwell, que viveu 13 verões de sua vida junto aos ursos grisalhos do Alasca, protegendo-os de caçadores. Só que os animais viviam em uma reserva, longe de perigo. O que levava Timothy até lá? Quem era ele? Estas são as perguntas que movem diretor e espectador. A exibição já começa com uma informação fundamental: Treadwell morreu junto de sua namorada, atacado por um dos ursos. Deixou mais de 100 horas gravadas de seus incontáveis dias com os ursos e o material é mostrado durante todo o documentário.

O filme é fascinante e merece atenção (persistente, pois o Discovery capitalizou colocando um intervalo comercial a cada 10 minutos das 2 horas de exibição). Procure por ele na grade de programação ou, se puder (melhor ainda), alugue em DVD. O canal ainda traz um "extra": O Diário do Homem-Urso, programa que explora mais material de Treadwell e entrevistas com Herzog.

"Descobri um filme sobre o êxtase humano e o mais sombrio tumulto interior. Como se houvesse nele um desejo de abandonar a prisão de sua humanidade para se ligar aos ursos. Treadwell conseguiu, ao buscar esse encontro primordial. Mas ao fazê-lo, ele atravessou uma fronteira invisível" - Herzog

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Trailer do filme

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Do viaduto

O que eu faria se encontrasse alguém disposto a se matar?

A pergunta não quis calar depois que eu li uma crônica na revista Piauí, edição do mês de abril. A imagem que ocupa quase duas páginas da revista parece comum ao olhada da primeira vez rapidamente.



O fato é que Tuca Vieira saiu da casa da namorada de madrugada após uma briga, para caminhar. Andou pelo viaduto Dr. Arnaldo (..."de onde um lado vê-se o bairro Pacaembu, parte de Perdizes e parte da Pompéia. Do outro, Pinheiros, o Instituto Goethe e o muro do cemitério São Paulo"...) quando viu um homem que parecia querer pular de lá, daquele viaduto.

Ao longo da descrição da cena você sente uma desespero. Claramente que se acontecesse isso, o que quer que fosse dito para o sujeito poderia ser perigoso e como um estopim para o sujeito concluir o que veio fazer. E como fazer alguém que você nunca viu na vida entender que ela vale a pena? Será que dá, que cabe a esse encontro tentar mudar a perspectiva de vida de alguém que parece que já decidiu-se sem perspectiva? Lógico que qualquer um tentaria.

A imagem, que menor deixa mais evidente o que há de esquisito, foi tirada logo após o suicídio. Frieza de Tuca? Provavelmente para alguns e talvez até para ele que lamentou ter respeitado a vontade de tal cidadão de ficar sozinho. Quando Tuca virou de novo, ele já tinha se jogado.

Eu juro que vi

Um em cada dez ingleses mentem sobre os filmes que viram. Segundo uma pesquisa divulgada pelo Times, é normal que, durante alguma conversa casual, pessoas finjam ter assistido a O Poderoso Chefão, Apocalypse Now ou A Lista de Schindler. Na verdade, eles realmente gostam é do rebolado de Patrick Swayze em Dirty Dancing, da cena do jarro em Ghost e das canções de A Noviça Rebelde.

Aliás, é de se esperar que isso não seja coisa só de inglês. A pesquisa também aponta que eles se referem à títulos conhecidos para se gabar na hora do cafezinho. Os favoritos são Um Sonho de Liberdade, À Espera de Um Milagre e O Senhor dos Anéis. Os rankings são os seguintes:

As pessoas mentem terem visto:

  1. A Lista de Schindler
  2. O código Da Vinci
  3. O Poderoso Chefão
  4. Apocalipse Now
  5. ...E O Vento Levou
Eles gostam, mas não admitem:
  1. A Noviça Rebelde
  2. Ghost
  3. Dirty Dancing
  4. Simplesmente Amor
  5. Harry Potter
Filmes para se gabar:
  1. Um Sonho de Liberdade
  2. À Espera de Um Milagre
  3. O Senhor dos Anéis
  4. O Poderoso Chefão
  5. 007 - Cassino Royale
Não me falta vergonha na cara para admitir que adoro muita porcaria, com O Vingador Tóxico encabeçando a lista.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Time daqui, time de lá

Panelinha é uma coisa feia. Na escola já sofríamos com isso, na faculdade era quase ridículo, no trabalho sempre existiu. Mas quando a coisa toma rumos gigantescos e envolve R$ 1,2 milhão, aí você começa a se questionar de verdade.

O assunto já está rodando há algum tempo. Tudo começou com uma idéia chamada Amores Expressos. Nela, 16 escritores brasileiros iriam (COM TUDO PAGO) para dezesseis diferentes países atrás de uma boa história de amor. Na volta, os digníssimos escreveriam sua historieta, a Cia. Das Letras publicaria e quiçá, os contos renderiam um filme. Tava na cara que ia dar polêmica. Os escolhidos eram todos amigos. "Os critérios de seleção foram de afinidade literária, interesse editorial e química com as cidades de destino", declarou à Folha João Paulo Cuenca, escritor carioca que organizou a festa e fez a listinha dos convidados vips: Antônio Prata (Xangai), Daniel Galera (Buenos Aires), Chico Mattoso (Havana), Lourenço Mutarelli (Nova York), Antonia Pellegrino (Bombaim), Bernardo Carvalho (São Petersburgo), Marçal Aquino (Roma) e Sérgio Sant’Anna (Praga), só para citar os mais famosos. Ou para quem gosta dos escritos brasileiros contemporâneos, é a turminha de sempre.

Eles são bons? São. Eles precisam viajar para escrever um romance? Não, necessariamente.

E para agravar, os escritores que ficaram de fora da boquinha resolveram abrir o maior berreiro, movido à dor mais sincera do ser humano: dor de cotovelo. Em entrevista na Folha de S.Paulo, os dois lados se bombardearam de acusações e todas me pareceram extremamente dissimuladas. Porque no fundo, no fundo, é a mesma situação da panelinha da escola. Quem tá dentro se acha especial, quem está fora se acha um merda. Simples assim.

E fico tristonha com isso. Porque são escritores que eu realmente gostava. O povinho que começou escrevendo em blog, se esforçando para publicar livros, dando um sopro de modernidade na literatura. Decepciona, porque no fundo, são um bando de filhinhos de papai, que bem poderiam ter pego o dinheiro do bolso e ido viajar o mundo em busca de vivências extraordinárias, não precisavam meter a mão no dinheiro público (esclarecidamente captado pela Lei Rouanet).

E aí, no exterior, você vê um fantástico Jonathan Safran Foer. Com dois livros extremamente ricos e inovadores, você se pergunta se ele precisou de toda essa parafernália para ter uma idéia que realmente modificou a cena literária atual. Tá certo, não podemos ficar comparando, mas também não te soa um tanto mesquinho? Nós realmente não mudamos, crescemos mas continuamos as mesmas crianças pirracentas de sempre.


Sei, essa é uma notícia atrasada, mas é que só agora, fiquei sabendo por fontes, que o primeiro lote de escritores "expressos" já embarcou para seus destinos glamourosos.

Ê, a vida é boa, né, gente?

* Detalhe, que eu estou lendo O Sol se Põe em São Paulo, exatamente do "enturmado" Bernardo Carvalho.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Coelhinhos tarados e dançantes

Sim, são coelhinhos as estrelas do novo vídeo do Groove Armada, o single Get Down, parte do novo albúm do duo - Soundboy Rock - que será lançado no dia 7 de Maio. O álbum sai em edição limitada com 2 faixas bônus, somente para os gringos, claro. Soundboy Rock foi gravado dentro da rota Londres-Barcelona com a contribuição dos seguintes artistas: Mutya (ex-Sugarbabes), Candi Staton, Alan Donohoe (The Rakes), Simon Lord (Simian), Richard Archer (Hard-Fi), Jeb Loy Nichol, Jack Splash (Plant Life), Jack McManus, Tony Allen, Rhymefest, Stush, Angie Stone e outros.

O Groove Armada é formado por Andy Cato e Tom Findlay. Ingleses da cidade de Cambridge, a dupla cria um funky-house-reggae e melodias voltadas para o pop. Seus singles mais famosos foram I See You Baby, Superstylin' e My Friend (este último foi até trilha de novela da Globo).

Neste CD, o duo investe em um trabalho um pouco diferente: sons mais eletrônicos e funk, demonstrados nas moderníssimas Lightsonic e Song 4 Mutya (Out Of Control), espécie de reggae com Kraftwerk; uma salada eletrônica que deu certo.

Post enviado pelo colaborador André Souza.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Pra rir e aplaudir de pé

São 17 atores em cena. Entram gritando, escandalosos com roupas escandalosas, com conversas escândalos com a platéia e com máscaras. Essa é a melhor parte.

Vem da Comédia Dell'Art a idéia das tais máscaras. Além de máscaras, quase toda comédia, permite muita façanha em cena como acontece no espetáculo: Avaros - um estudo barato sobre a mão de vaquice, da Formação 8, da Escola Livre de Teatro.

O espetáculo é longo, cerca de duas horas. Entrelaça três histórias em épocas diferentes que supostamente se encontram na mesma peça por um equívoco; até os personagens acabam por interromper a cena uns dos outros sem querer (desculpa, óbvia, para mais risadas). O que os atores fazem em cena é o que ganha o público por duas horas de espetáculo. Um vocabulário comum, escrachado, traços corporais exagerados, máscaras em alguns personagens porém, não em todos e no pés de cada ator, um tênis all-star. E muitas graças com a platéia que aceita cada (suposta) gafe de sorriso aberto.

Avaros - um estudo barato sobre a mão-de-vaquice - de Newton Moreno, com direção de Georgette Fadel. Em cartaz aos sábados e domingos, às 21h, no teatro Conchita de Moraes (pça. Rui Barbosa, s/ n - Santo André). Entrada franca.

Confusão e fúria


Todo mundo esperava uma coisa. Eles foram lá e fizeram outra. É o amadurecimento que vem cedo. No seu segundo álbum, lançado em fevereiro último e que chega ao Brasil agora, a banda inglesa Bloc Party decidiu fazer uma mistura do que sabem de melhor e o que ainda estão aprendendo. Acaba que A Weekend In The City fica ombro a ombro com o ótimo primeiro álbum da banda, e cheio de méritos próprios.


Partindo do que é igual, as batidas aceleradas e guitarras estridentes continuam intactas. Na verdade, elas seguem a mesma fórmula de antes: começam calmas e mornas, quase distantes, até explodirem em algum refrão emocionado e veloz. O que pode parecer repetitivo em uma primeira ouvida revela-se cheio de nuances e apuro depois de alguma atenção, graças às camadas instrumentais sobrepostas, criando um misto de confusão e fúria. É de uma energia tão jovem que dá vontade de ir lá, comprar a guitarra e montar uma banda, só pra fazer igualzinho.

De ares novos, AWITC abusa de músicas mais melódicas e lentas. Passam raspando na categoria “balada”, mas são tão melancólicas que não dão energia o suficiente para ouvir batendo o pé. Acompanham as experiências sonoras, como os batuques tribais ecumênicos de The Prayer e a progressão emocional do tipo luzes-que-piscam-na-janela de Sunday. A demonstração máxima dessa soma de ontem+amanhã está na ótima (ótima) Waiting For The 7.18, onde o vocalista e guitarrista Kele Okereke faz seu melhor. Tanto que merece um parágrafo só dele.

Além da voz aguda e cortante, Kele tem a energia que transforma o Bloc Party no futuro. Sua juventude escorre pelas músicas com fúria, criando letras sobre a futilidade, as dúvidas sobre o amanhã, suas experiências amorosas com ambos os sexos, sua frustração com a política, sua convivência familiar. Neste segundo álbum, Kele evita letras genéricas e distantes (como no primeiro), e avança para sua vida pessoal sem pena. Performer nato.

Dito isso, e mais o monte de coisas que não se diz mas que só se sabe ouvindo, não há dúvidas que Bloc Party é uma das melhores (top 5) bandas atuais, que não tem tempo para esperar. E A Weekend In The City é prova metafísica disso. Melhor ainda é perceber, em cada descoberta de cada faixa, que isso tudo é só o começo.

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Clipe da música I Still Remember.

Direto ao paraíso

E completando a dobradinha sobre a bandinha inglesa, vou falar do primeiro CD do Bloc Party. Sinceramente? O álbum e a banda são tão modernos que meus ouvidos conservadores, a princípio, estranharam. É o oposto da suavidade e da coerência auditiva de Belle & Sebastian, por exemplo. É descompassado, estranho, beira o irritante. Demorei um mês para entender que aquilo que estava ouvindo era realmente inovador. Era fantástico! Silent Alarm é o primeiro disco da banda inglesa que já chegou arrebentando. Como sou avessa aos textos cansativos de quem entende de música (e eu confesso, não sei termos técnicos e nada do tipo), vou apelar para um recurso que sempre me cai bem: imaginação!


Vamos brincar assim: você baixa o primeiro cd inteiro, veste seu All Star mais surrado, coloca o mp3 no bolso e segue pra Av. Paulista. Nossa viagem começa na Consolação. Coloque para tocar Like Eating Glass e inicie a caminhada . Ande rápido ao som da música e preste atenção como tudo ao seu redor parece casar com a rapidez frenética da música. Chegando ali perto do Trianon-Masp, onde o movimento é maior, dê o play em Helicopter e deixe que a música te carregue pelo meio dos transeuntes apressados. Chegando na Brigadeiro, opte pela deliciosa This Modern Love e deixe as lembranças daquele amor perdido com quem você caminhava pela Paulista em tempos passados, te inunde. Cheia de memórias, bote para tocar So Here We Are e termine caminhando vagarosamente pelo Paraíso. Sem trocadilhos, é claro.

É assim que me sinto toda vez que ouço a banda. Se estiver chovendo, melhor ainda. Divertimento na certa!

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Circo Gráfico

As seqüências de luta na tela deixam escapar jorros de testosterona e, para compensar para o time feminino, um batalhão de corpos sarados e tanquinhos de fazer mulheres quererem lavar roupa. Essa pode ser a primeira síntese de 300, recentemente lançado nos cinemas do país. Outra síntese é a que vem a seguir: cenas graficamente impecáveis, composições belas e estilização fora do normal.

Afora as duas sínteses, 300 reúne uma série de virtudes e defeitos que equalizam o filme, para o bem ou para o mal. O argumento é básico, o que todo argumento de guerra tem (heróis, vilões, mulheres que esperam, traições, a luta pela honra, a perda de entes queridos...). A trilha sonora é engrandecedora, como é de se esperar (e muitas vezes torna-se um pleonasmo). As interpretações estão bem colocadas, já que o tom de quadrinhos do filme exige isso (até mesmo para os exageros de Rodrigo Santoro).

Os defeitos maiores colocam-se na compensação e no preconceito, problemas que a direção de Zack Snyder não soube lidar. Os corpos definidos dos heróis gregos, em detrimento dos persas, claramente estão ali para chamar a atenção das mulheres, pois o filme, até então, só interessaria aos homens. Mais: a subtrama com a rainha de Esparta acrescenta alguns dados sobre o conflito, mas dá para perceber que era necessário um núcleo feminino na história, senão mulheres debandariam dos cinemas. Pecado. Tudo bem, passamos por cima.

Agora vamos ao aspecto preconceituoso: persas são seres desprezíveis, persas são ruins de batalha, persas também estão ligados a orgias e excentricidades (vide a corte de Xerxes) e compram todo mundo com ouro. Enfim, persas são a pior espécie do mundo. Não é à toa que o Irã se condoeu tanto. Agora, a carapuça serviu ou é um ultraje à cultura do Oriente Médio? Melhor não esticarmos sobre isso. Mas cabe dizer que 300, antes de tudo, é uma amálgama baseada na graphic novel do quadrinista Frank Miller sobre o conflito e, para ele, os gregos eram os heróis, o que não significa que precisava transformar os persas em peões malvados (os soldados) ou em tiranos (o rei). Desconte daí a perigosa interpretação de Rodrigo Santoro e os trejeitos femininos que trouxe para a personagem. Dispensável. Mas pelo menos um ator brasileiro começa a galgar passos lá fora. Vejamos os próximos.

Depois de tanta coisa ruim, o que compensa e muito é o grafismo do filme. As cenas obviamente tingidas de uma granulação onírica e abuso do slow motion poderiam tontear o espectador, entretanto as composições e ângulos tornam o visual um espetáculo literalmente à parte. Cinema muito belo, por esse aspecto. Os tons, as cores, o sangue digital, a fotografia inspirada claramente nos quadrinhos (pode-se dizer que copiada dele). Por esse lado, desdenhamos os pontos fracos e pensamos na grandiosidade das cenas, de suas belezas, assim como diz o colega Pablo Villaça, no site Cinema em Cena.

Confira o que dizem os críticos nos EUA no site Metacritic (em inglês). A pontuação final foi de 51 (numa escala de 0 a 100), fazendo a conta da nota que cada crítico deu. E obviamente umas das menores pontuações foram dos sempre enjoados New York Times e Wall Street Journal, além da The New Yorker. Você concorda?

Falaremos mais neste blog sobre o Metacritic e sobre David Wenham, coadjuvante deste filme.

300 (300, EUA). 116 minutos. Dir: Zack Snyder. Roteiro: Zack Snyder, Kurt Johnstad, Michael Gordon. Baseado na obra de Frank Miller e Lynn Varley. Elenco: Gerard Butler, Lena Headey, David Wenham, Vincent Regan, Michael Fassbender e Rodrigo Santoro.

terça-feira, 10 de abril de 2007

Micro no Macro

Mais um para a série de sites criativos... Little People. Personagens pequenos vivendo numa Londres perigosa. As fotos são tão detalhistas e criativas, que você fica se sentindo otário por não ter tido uma idéia tão legal e tão simples.

Porque todo mundo já se sentiu uma formiguinha em terra de gigantes.

Feito à mão

Como responsável pelo site do Teatro Insano - e mais um bom bocado por aí - sei o quanto é complicado fazer um espaço legal e sem exageros na internet. E, mais complicado, que tenha ar de novidade.

Eu, que sou adepto da simplicidade, adorei o site da escritora e atriz Miranda July, feito para divulgar seu novo livro, No One Belongs Here More Than You. Se as histórias forem tão boas quanto a idéia do site... (em inglês).

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Vinte e poucos anos

Levei minhas dúvidas ao cinema e acabei voltando acompanhada de um alívio: Existem outras pessoas como eu e tanto existem, que já fizeram até um filme sobre isso!

Pois bem, o filme é Um Beijo a Mais (Last Kiss, 2006). Confesso que fui ver sem maiores pretensões e por causa do Zach Braff (sim, do seriado Scrubs). Gosto muito dele e de seu delicioso blog, e como tinha me encantado por Hora de Voltar (Garden State), filme que dirigiu, achei que esse seria mais um no estilo. Estava certa.

Dirigido por Tony Goldwyn, Last Kiss é uma adaptação do filme italiano L'Ultimo Bacio, de 2001, e traz sutileza para uma história velha: crise de idade. E escute a voz da experiência, amigo, se você também passa por esse período obscuro, vá ver o filme acompanhado de uma caixa de lenços. Porque você vai se ver lá, nas dúvidas, na certeza da vida confortável X a vida aventureira que imaginou para o seu futuro.

É mais uma comédia romântica. Se me contassem o enredo eu não assistiria. Michael é um arquiteto na faixa dos 27 anos e com uma namorada há mais de três anos. Eles são um casal perfeito, mas ela engravida e ele passa a enxergar sua vida sacramentada. Até que, é óbvio, aparece uma jovem louquinha e muda tudo. As situações, apesar de previsíveis, são tratadas do modo como são, doloridas e aflitivas. A diferença é a sutileza, a dor do dia seguinte, do beijo a mais. E a gente sabe: É sempre o beijo a mais que fode tudo. Com o perdão da palavra.

A trilha é composta por um rock indie delicioso e que também cai como uma luva para a minha geração. Tudo casa perfeitamente.

Olhos atentos para a interpretação de Jacinda Barret e até para a previsível Rachel Bilson (sim, do seriado O.C.), que faz o papel de si mesma, mas que no caso, casa perfeitamente com a idiotice de seu personagem. Os veteranos Tom Wilkinson e Blythe Danner (a mãe da Gwyneth Paltrow na vida real) tambem fazem chorar.

Enfim, se você está na faixa dos 20 para os 30, tem namorado, quer casar e está bem no emprego, esse filme é para você e suas dúvidas infundadas, mas incansavelmente perturbadoras. Agora se você não faz parte desse perfil, fuja do filme, mas fuja rápido, porque logo, logo ele te alcança.

We all make choices. What's yours?

Earth Intruders

Timothy Z. Mosley. Você já ouviu falar nesse nome? E se falarmos esses nomes: Aaliyah, Jay-Z, Justin Timberlake, Ludacris, Nelly Furtado, The Pussycat Dolls... Conseguiu fazer uma associação? Não? Ok, tudo bem, ele é Timbaland, produtor muito bem cotado no cenário da música atual.

Björk irá lançar seu novo álbum em maio e se rendeu aos ritmos do senhor Timothy Z. Mosley. No dia de hoje, poderemos escutar essa parceria cheia de ritmos e grooves no seu mais novo single Earth Intruders, com um refrão grudento:

"We are the earth intruders
We are the earth intruders"
Se o álbum seguir essa linha, Volta realmente é um nome perfeito para o novo álbum da cantora. Desde Post, a islandesa não faz algo tão animado e colorido, apesar da letra do single, que narra um sonho que a cantora teve voando para Nova York. No sonho, um enorme tsunami de povos pobres, chegando à altura do avião, alcança o continente, se arrasta até a Casa Branca e acaba com tudo. Digamos que é “uma canção caótica”, como a própria cantora afirma.

O vídeo de Earth Intruders, ainda sem previsão para lançamento, terá animação do francês Michel Ocelot, que escreveu e dirigiu a animação Azur e Asmar.

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Versão Radio Edit de Earth Intruders

Post enviado pelo colaborador André Souza.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Celeiro de links

+ Interessado em zapear outros blogs por aí? Alguns blogs em especial tem endereços mil para visitar. Um deles é o do dramaturgo Mário Bortolotto, com uma porção de links para visitar. Neste blog, Bortolotto divulga uma série de shows de bandas de amigos, de peças de amigos, as suas peças e quando tem alguma polêmica rondando o Cemitério dos Automóveis (ou outros grupos), ele fala sem travas nos dedos também. Além disso, datas comemorativas fazem parte de seu "alvo", vide a Sexta-Feira Santa. Há uma série de blogs de atores que você pode acessar via o Atire No Dramaturgo. Faça um teste e navegue.

+ Do site do Bortolotto, um curioso é o site do cartunista Caco Galhardo. Diferentes cartuns de Galhardo, como o Júlio e a Gina, Chico Bacon e algumas dicas. Visita boa.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

GusGus

Neste post, nós já falamos de uma islandesa e de como quase ninguém se lembra da Islândia, em geral. Mas de música, parece que o povo da Iceland entende. Nada gelado, pelo menos, é o novo disco do GusGus, o super animadinho Forever, lançado após um jejum de cinco anos.

Para quem não conhece, o GusGus toca house e é oriundo de Reykjavík, capital da Islândia, mas ainda bem que sua canções são todas em inglês. Conterrâneos de Björk, os nomes dos componentes são completamente impronuncionáveis por nossas línguas portuguesas. A formação inicial incluía 9 desses nomes, alguns a saber: Birgir Þórarinsson, Daniel Ágúst Haraldsson, Magnús Jónsson, Sigurður Kjartanssson, Stefán Árni Þorgeirsson, Hafdís Huld Hákonardóttir, Emiliana Torrini Daviðísdóttir...

Um nome conhecido que trabalhou com o grupo aí acima foi Emiliana Torrini, intérprete de Gollum's Song, a canção-tema do filme O Senhor dos Anéis: As Duas Torres, de Peter Jackson. Alguém apostou que era Björk cantando, mas as duas são apenas conterrâneas da Ice Berg.

Voltando a falar de Forever, a tendência do GusGus ultimamente é fazer álbuns para cima e sem grandes questionamentos. Este álbum foi feito para escutar alto do começo ao fim. O primeiro single - Moss - já tem o seu vídeo circulando. O album incluirá também a trilha Mallflowers, que recebeu já a colaboração dos famosos DJs Sasha, Andy Cato, John Digweed e muitos outros. House dos bons...

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Para escutar e ver apresentações ao vivo do GusGus
Para conhecer o lado cinematográfico do GusGus – Pollymovie

Post enviado pelo colaborador André Souza.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Estamira

Talvez o que você vai ler aqui você poderia ler no site oficial do filme. Porém, aqui é contado por alguém que quer muito muito ver e comprovar tudo aquilo escrito lá sobre o filme Estamira.

Força de vontade move mesmo uma pessoa. Eu quero muito ver Estamira, mas não acho em lugar nenhum. Onde eu estava quando estava em cartaz? Enfim, estudando os documentários mais vistos nos últimos anos e encontrei esse.

Parece preciosidade. Soa como preciosidade. O diretor, Marcos Prado, estava fazendo um trabalho no antigo Lixão do Jardim Gramacho (Rio de Janeiro) já há seis anos quando conheceu Estamira. Ela tinha 63 anos e era portadora de disturibios mentais. Ficaram amigos e em uma de suas conversas, sempre com reflexões eloqüentes e filosóficas, ela disse "Minha missão é contar a verdade e cobrar a verdade", e perguntou pra Marcos "você sabe qual é sua missão?". Antes que o diretor começasse a responder ela disse "sua missão é revelar a minha missão".

Foi aí que ele decidiu fazer o documentário vencedor de 23 prêmios até agora, muitos deles como melhor documentário/longa-metragem. Mas eu nem precisei chegar até esses dados pra ter vontade de ver.

"A criação toda é abstrata. O espaço inteiro é abstrato. A água é abstrata. O fogo é abstrato. Tudo é abstrato. Estamira também é abstrato" - Estamira

terça-feira, 3 de abril de 2007

Decifrando o código Tarantino

Em um boteco de São Paulo, Selton Melo tenta convencer Seu Jorge que todos os filmes de Quentin Tarantino são, na verdade, um só. Esse seria o grande segredo do cineasta, o "código Tarantino". Seu Jorge está mais interessado em saber se Selton consegue algum código para desbloquear seu Playstation.

O curta Tarantino's Mind, dirigido pelo coletivo 300 ML e produzido pela Republika Filmes, foi exibido na abertura do Festival do Rio de 2006. E alguém finalmente colocou no YouTube. Muito engraçado, é melhor ainda para fãs do cineasta americano.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Há algo de over no reino...

Quando você entra no teatro, logo dá de cara com os quatro atores em cena, bebendo, fumando e rabiscando uma enorme lousa negra com giz branco. Num ambiente soturno, o aroma fica por conta das centenas de bitucas de cigarro jogadas no chão. E o espetáculo corre com os atores desfilando diversas visões sobre a morte. E por que não, sobre a vida. O giz se transforma em ferramenta inteligente para os cenários que vão sendo rabiscados conforme as histórias vão se desenrolando.


A peça é ADUBO ou a Sutil arte de escoar pelo ralo, do grupo brasiliense TUCAN (Teatro Universitário Candango). Várias coincidências me fizeram preferir ver essa peça ao invés da Mostra do Cemitério de Automóveis, que era meu objetivo inicial. O grupo de Brasília também foi formado numa faculdade e assim como o Teatro Insano, está em cartaz com a peça de autoria própria desde de 2005, tal qual nosso Amores Dissecados. Outra coisa que me chamou a atenção foi a pesquisa de tema que o grupo fez. Oito meses pesquisando a morte. Tema esse que me fascina na mesma medida que o amor.

ADUBO é uma peça irônica, porque o que chama a atenção nela, é também o que a condena. O texto bacana e ágil funciona em sincronia com a coreografia (literalmente) dos corpos dos artistas. Apesar da expressão corporal incrível (algo que como atriz iniciante, sei que é muito difícil de conseguir), há algo de over no reino. Em alguns momentos, a peça sofria pelo "teatrar" demais. Acredito que o ser "over" era completamente consciente no grupo, dado a maquiagem negra na cara, os comprimidos aos montes que os "mortos" tomavam e o figurino. Até aí, tudo ok. Mas senti que algo ia além do consciente e escapava como exagero despercebido, principalmente na atriz Rosanna Viegas, fora do timing dos outros atores.

Assim como a morte, algo ronda o pescoço do grupo. O expediente dos atores e da direção ficava o tempo todo escrito na grande lousa negra, dividindo espaço com os criativos desenhos. No programa da peça, uma declaração de Fernanda Montenegro elogiava os atores. É bacana, sabe... mas a pergunta é: precisa?

O toque a mais do perfume condena o agradável aroma e o transforma em uma leve náusea.

Vale pelas várias saídas (de mestre) cênicas, pelo texto engraçado, pela pesquisa teatral e pela energia que não despenca nunca durante os 70 minutos de espetáculo. Aliás, energia realmente faz TODA a diferença.

ADUBO ou a Sutil arte de escoar pelo ralo: Sextas e sábados, às 21h; domingos, às 20h; R$15,00 - Centro Cultural São Paulo - Sala Jardel Filho