quarta-feira, 11 de abril de 2007

Circo Gráfico

As seqüências de luta na tela deixam escapar jorros de testosterona e, para compensar para o time feminino, um batalhão de corpos sarados e tanquinhos de fazer mulheres quererem lavar roupa. Essa pode ser a primeira síntese de 300, recentemente lançado nos cinemas do país. Outra síntese é a que vem a seguir: cenas graficamente impecáveis, composições belas e estilização fora do normal.

Afora as duas sínteses, 300 reúne uma série de virtudes e defeitos que equalizam o filme, para o bem ou para o mal. O argumento é básico, o que todo argumento de guerra tem (heróis, vilões, mulheres que esperam, traições, a luta pela honra, a perda de entes queridos...). A trilha sonora é engrandecedora, como é de se esperar (e muitas vezes torna-se um pleonasmo). As interpretações estão bem colocadas, já que o tom de quadrinhos do filme exige isso (até mesmo para os exageros de Rodrigo Santoro).

Os defeitos maiores colocam-se na compensação e no preconceito, problemas que a direção de Zack Snyder não soube lidar. Os corpos definidos dos heróis gregos, em detrimento dos persas, claramente estão ali para chamar a atenção das mulheres, pois o filme, até então, só interessaria aos homens. Mais: a subtrama com a rainha de Esparta acrescenta alguns dados sobre o conflito, mas dá para perceber que era necessário um núcleo feminino na história, senão mulheres debandariam dos cinemas. Pecado. Tudo bem, passamos por cima.

Agora vamos ao aspecto preconceituoso: persas são seres desprezíveis, persas são ruins de batalha, persas também estão ligados a orgias e excentricidades (vide a corte de Xerxes) e compram todo mundo com ouro. Enfim, persas são a pior espécie do mundo. Não é à toa que o Irã se condoeu tanto. Agora, a carapuça serviu ou é um ultraje à cultura do Oriente Médio? Melhor não esticarmos sobre isso. Mas cabe dizer que 300, antes de tudo, é uma amálgama baseada na graphic novel do quadrinista Frank Miller sobre o conflito e, para ele, os gregos eram os heróis, o que não significa que precisava transformar os persas em peões malvados (os soldados) ou em tiranos (o rei). Desconte daí a perigosa interpretação de Rodrigo Santoro e os trejeitos femininos que trouxe para a personagem. Dispensável. Mas pelo menos um ator brasileiro começa a galgar passos lá fora. Vejamos os próximos.

Depois de tanta coisa ruim, o que compensa e muito é o grafismo do filme. As cenas obviamente tingidas de uma granulação onírica e abuso do slow motion poderiam tontear o espectador, entretanto as composições e ângulos tornam o visual um espetáculo literalmente à parte. Cinema muito belo, por esse aspecto. Os tons, as cores, o sangue digital, a fotografia inspirada claramente nos quadrinhos (pode-se dizer que copiada dele). Por esse lado, desdenhamos os pontos fracos e pensamos na grandiosidade das cenas, de suas belezas, assim como diz o colega Pablo Villaça, no site Cinema em Cena.

Confira o que dizem os críticos nos EUA no site Metacritic (em inglês). A pontuação final foi de 51 (numa escala de 0 a 100), fazendo a conta da nota que cada crítico deu. E obviamente umas das menores pontuações foram dos sempre enjoados New York Times e Wall Street Journal, além da The New Yorker. Você concorda?

Falaremos mais neste blog sobre o Metacritic e sobre David Wenham, coadjuvante deste filme.

300 (300, EUA). 116 minutos. Dir: Zack Snyder. Roteiro: Zack Snyder, Kurt Johnstad, Michael Gordon. Baseado na obra de Frank Miller e Lynn Varley. Elenco: Gerard Butler, Lena Headey, David Wenham, Vincent Regan, Michael Fassbender e Rodrigo Santoro.

Nenhum comentário: