quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Sexo entre caramujos

Fotos de Isabella Rossellini (que só perde em beleza pra mãe dela) fantasiada de inseto:


Eu acho que é bem mais divertido sem explicação. Mas, para quem quiser saber, as fotos são de uma série de curtas dirigidos por ela e exibidos no Festival de Sundance. Green Porno é sobre sexo entre insetos. E para deixar tudo bem claro, ela introduz cada um dos filmes fantasiada como inseto em questão. Sempre no papel do macho e sempre durante o ato de reprodução. Ta, agora fez mais sentido?

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

One woman show

Na mitologia grega, Juno era a esposa de Zeus, símbolo do matrimônio e da fidelidade - e do ciúme. Também era o símbolo da fertilidade. E talvez por isso a roteirista Diablo Cody (que pseudônimo!) tenha pego o gancho e feito a história da adolescente Juno McGuff, uma jovem muito consciente que engravida e decide dar o bebê para que um casal o adote. A história de Juno é essa, simples, ponto.

Fazia muito tempo em que eu não assistia a um filme adolescente com substância. E americano, ainda por cima. Geralmente, os roteiros desses filmes retratam adolescentes com pais desajustados ou ausentes, são problemáticos na escola, nenhum de seus relacionamentos vai para frente, são irresponsáveis e a lista se prolonga. Não é o caso. Juno tem pais presentes e conscientes, é uma ótima aluna e é incerta de seu relacionamento, o que é próprio da adolescência. Mas nada que a desestabilize ao contrário de muita gente considerada "adulta". É neste âmbito em que a garota descobre estar grávida, aos belos e floridos 16 anos. E Diablo Cody é inteligente o bastante para não fazer disso um drama açucarado. Pelo contrário, aqui é a comédia que reina. Comédia inteligente! É demais para o meu cérebro conjugar os conceitos, não pode ser: cérebro + risadas = teen movie, jamais! Mas é o que acontece.

Cody entrega um roteiro com piadas memoráveis sem necessitar do fator "corpo". A única coisa que muda no filme é o tamanho da barriga de Juno. Nada mais. Nenhuma parafernália, gags, trombadas... A diversão vem da situação em que a protagonista se encontra. Seu diálogo é estilizado, sim, mas as garotas de hoje são muitíssimo articuladas, com milhões de idéias e referências a cada frase, portanto, está OK.

Jason Reitman, o diretor, alinhava as cenas sem malabarismos. O estilo de direção é clássico, sem maiores delongas ou pretensões e o ritmo é leve, pois Reitman sabe que uma comédia precisa disso e entrega o timing perfeito para. Seu apuro foi na escolha do elenco, que parece estar em estado de graça. J. K. Simmons (o J. Jonah Jameson de Homem-Aranha) e Allison Janney como os pais de Juno são a personificação dos pais que todos gostaríamos de ter tido. Michael Cera (de Superbad) é o responsável pela sementinha geradora do embaraço todo, o "quero-ser-namorado-de-Juno" contido e engraçado. Olivia Thirlby é a amiga inspirada que solta frases de efeito a cada cinco segundos. O casal que quer adotar o bebê é composto por Jason Bateman (que eu considero passável, não gosto dele) e Jennifer Garner em ótima atuação (acho que foi a primeira vez que a vi tão completa e entregue a um papel).

E, para terminar as honras, Ellen Page, a protagonista. Descontraída, sem poses, de uma leveza absurda e sem nenhum histrionismo nem mesmo quando as cenas são mais dramáticas, Page é o atrativo do filme. Não foi à toa que foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz. Ellen segura todos os 92 minutos de película nas costas. Consegue ser divertida, sem ser apelativa. Consegue ser uma adolescente em crise sem extravagâncias. Consegue construir uma Juno tão palpável que dá vontade de gerar uma igual agora mesmo. De opinião formada (e que opinião!) e consciente de seu mundo ao redor, Ellen consegue passar credibilidade com a menina que está grávida, está apegada ao bebê, mas disposta a doá-lo por saber que tem apenas 16 anos e não tem estrutura psicológica ou financeira para tê-lo.

Em épocas de dramas pesados como Sangue Negro, Onde os Fracos Não Têm Vez e Desejo e Reparação (na corrida pelo Oscar), é uma grata surpresa que este exemplar também concorra com as densas películas na mesma competição com o selo "comédia indie" (o que também aconteceu com o igualmente surpreendente Little Miss Sunshine). Mas ao contrário deste último, é Ellen Page quem deve faturar. Mesmo por cima de Julie Christie. Olho nela!

P.S.: A musiquinha do final do filme se chama Anyone Else But You e é lindinha. Se tiver dúvida em assistir, baixe e ouça. Ou veja no vídeo abaixo.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Quando Ridley Scott se esforça

É capaz de passar despercebido pelos cinemas, dada a leva de coisas dispensáveis do Oscar chegando. Mas, se puder, não dispensa a chance de assistir O Gângster, não. O filme é ótimo. Primeiro, porque é adulto... E você sabe como anda difícil encontrar filmes de gente grande hoje em dia, com idéias complexas e construção que não ofende o seu bom senso. E segundo porque é digno dos grandes policiais dos anos 70 (ave, Serpico).

Traz Ridley Scott no seu melhor (sério, você até o perdoa por Um Bom Ano, Falcão Negro em Perigo e Gladiador... esse último, talvez não), contando a história real de Frank Lucas (Denzel Washington), negro que desbancou a máfia italiana em Nova York nos anos 60 trazendo heroína pura direto do Vietnã (com a ajuda do exército norte-americano, aliás). O contraponto está no detetive Richie Roberts (Russell Crowe), que se torna chefe do departamento de investigações especiais e segue à caça de Lucas enquanto se depara com a máquina da corrupção policial da época.

O elenco coadjuvante é brilhante (Josh Brolin principalmente), e a direção de arte também. O ambiente setentista é recriado sem clichês, com a apropriação que só poderia ser feita por alguém que realmente se educou no cimena da década. Ao contrário do também ótimo Zodíaco, que mais emulava os filmes de então, este não abandona novas inventividades em favor do passado. É uma mistura muito boa dos filmes de investigação da época, mas com narrativa acelerada contemporânea.
É longo, com duas horas e meia, mas vale o tempo. Certo que o final acelera para passar por cima da prisão de Lucas e seu trabalho em conjunto com a polícia – o que desperdiça a chance de mais cenas de Denzel com Crowe – mas tudo bem, pois isso fortalece ainda mais o jogo individual até ali. Crowe, acredite, até parece um cara legal e suportável no filme. Agora, o Denzel, nem vale a pena desperdiçar palavras... Cada cena deixa você hipnotizado, enquanto ele faz o que bem entende. Digno de Pacino.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

My spoon is TOO BIG!

Rejected é um curta metragem animado do genial Don Hertzfeldt que concorreu ao Oscar em 2001, perdendo injustamente. Nada mais apropriado para reforçar o tema do filme.

Sério: uma das coisas mais engraçadas já escritas (inglês é fundamental pra entender).

No cinema, o trabalho não é do ator (!!!!!!)

Brincadeira, é sim. Mas o que me faz pensar nisso são as diversas declarações de diretores dizendo que, a montagem, na verdade, é do que o cinema é feito. E nada mais. Atuações podem ser melhoradas com a montagem, o ritmo, cenas mal-feitas e tudo o mais. E sabe quem escreveu sobre isso em seu blog? Fernando Meirelles.

Filmando Blindness (adaptação de Meirelles para o romance de José Saramago, Ensaio Sobre A Cegueira), Meirelles cita no último post, de 21/11/2007 (atualiza aí, Meirelles!) algo muito interessante para atores em geral. Transcrevo (mas o post inteiro vale a leitura e a visita do blog todo!):

(...) se você pensa em seguir a carreira de ator eis o melhor conselho que posso dar: suborne sempre o montador. Leve chocolate, flores se for uma montadora, até um vinho mais caro se seu trabalho estiver realmente fraco. Há um milhão de maneiras de melhorar uma atuação na montagem. Nos momentos mais vergonhosos pode-se cortar para a cara do outro ator evitando o vexame, uma fala mal falada pode ser regravada e usada com a imagem do ator de costas e daí para frente. É muito fácil tapear o espectador (sinto muito) e confesso que tenho um certo prazer quando consigo fazer isso sem deixar marcas da trapaça. Mas neste caso, conforme o previsto, não precisaremos usar estes truques sujos, nosso elenco é muito consistente. (...)

No final, Meirelles diz que pode sempre salvar alguma cena ruim do filme colocando um close de Julianne Moore. Foda, hein? Isso é um elogio do cacete para qualquer ator. Ah, e Meirelles diz que Mark Ruffalo se culpa demais, dizendo que TODAS suas cenas são ruins, sempre. E Gael García Bernal faz piada disso.

Já falamos do blog de Blindness aqui e aqui também...

P.S.: A foto acima foi retirada do blog do filme e foi tirada pela atriz Yoshino Kimura quando a equipe de Blindness filmava em São Paulo. Aliás, atrás de Ruffalo, está a "paisagem" do Rio Pinheiros.

P.S.2: Meu próximo post é sobre o DELICIOSO filme
Juno (Ellen Page arrasa!).

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Co - achella - chilo

E o californiano Coachella liberou seu line-up. Um dos maiores festivais de música do mundo, rivalizando com o britânico Glastonbury, já trouxe medalhões como Madonna e Björk (foto ao lado), mas dessa vez, as maiores atrações são... Fatboy Slim? Roger Waters? Jack Johnson? Portishead? Bonde do Rolê?

Bem, não é de se matar para correr até a Califórnia e se "esbaldar", até porque muitas das atrações já vieram para cá. Fatboy Slim está sempre por aqui. Sasha & Digweed também. Roger Waters já veio e não tem muito de novo pra mostrar, né merrrrmo ("Breathe... Breathe in the air" *bocejo*)? Jack Johnson, tá... Kraftwerk: dinossáurico. Danny Tenaglia e Mark Ronson já vieram a São Paulo realizar sets em clubes (The Week e Royal, respectivamente). E, finalizando, Hot Chip e Spank Rock - que praticamente acabaram de se apresentar no Brasil, no TIM Festival - não chamam muito, apesar do Hot Chip lançar o novo álbum Made In The Dark agora em fevereiro.

O que me chamou a atenção foram: Chromeo, Calvin Harris, Duffy, Cafe Tacuba, Simian, Mobile Disco, Justice e Sia (cujo último CD - Some People Have Real Problems - é uma delícia). Que venha o Glastonbury, então.

Ah, o line-up completo do festival é esse abaixo. E o site do Coachella é este.

Sexta, 25 de abril: Jack Johnson, The Verve, Raconteurs, The Breeders, Fatboy Slim, Tegan and Sara, Madness, The Swell Season, The National, Animal Collective, Slightly Stoopid, Mum, Sharon Jones & the Dap Kings, Stars, Battles, Aesop Rock, Midnight Juggernauts, Does it Offend you, Yeah?, Minus the Bear, Spank Rock, dan le sac Vs Scroobius Pip, Diplo, Adam Freeland, Santo Gold, Jens Lekman, John Butler Trio, Vampire Weekend, Dan Deacon, Architecture in Helsinki, Sandra Collins, Busy P, Cut Copy, Black Lips, Datarock, Professor Murder, Reverend and the Makers, The Bees, Porter, Rogue Wave, Modeselektor, American Bang, Lucky I Am.

Sábado, 26 de abril: Portishead, Kraftwerk, Death Cab for Cutie, Cafe Tacuba, Sasha & Digweed, Rilo Kiley, Dwight Yoakam, M.I.A., Hot Chip, Cold War Kids, Stephen Malkmus & the Jicks, DeVotchKa, Flogging Molly, Mark Ronson, Turbonegro, Scars on Broadway, Islands, Enter Shikari, Calvin Harris, Boyz Noize, Junkie XL, Cinematic Orchestra, Jamie T, The Teenagers, VHS or Beta, Carbon/silicon, Erol Alkan, Yo Majesty!, Little Brother, Bonde Do Role, St. Vincent, Akron Family, MGMT, Institubes DJs (Surkin, Para One and Orgasmic), James Zabiela, Sebastian, Kavinsky, Dredg, The Bird and the Bee, Grand Ole Party, New Young Pony Club, 120 Days, Yoav, Electric Touch, Uffie

Domingo, 27 de abril: Roger Waters (“Dark Side of the Moon”), Love & Rockets, My Morning Jacket, Spiritualized, Justice, Gogol Bordello, Chromeo, The Streets, Metric, Danny Tenaglia, Simian, Mobile Disco, Booka Shade, Murs, Dmitri from Paris, Autolux, The Field, Linton Kwesi Johnson, Les Savy Fav, The Cool Kids, Sons & Daughters, Sia, Holy Fuck, Black Kids, Black Mountain, The Annuals, Kid Sister w/A-Trak, Man Man, Duffy, I'm from Barcelona, Manchester Orchestra, Deadmau5, The Horrors, Austin TV, Shout Out Louds, Plastiscines, Brett Dennen

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

O vazio assustador.

'Um corpo destreinado é como instrumento desafinado, em cuja caixa de ressonância há uma barulheira confusa e dissonante de ruídos inúteis, impedindo a audição da verdadeira melodia. Quando o instrumento do ator, seu corpo, é afinado pelos exercícios, desaparecem as tensões e os hábitos desnecessários. Ele fica pronto para abrir-se às ilimitadas possibilidades do vazio. Mas há um preço a pagar: diante desse vazio desconhecido surge, naturalmente, o medo. Até mesmo um ator de larga experiência, sempre vai retomar seu trabalho, quando se vê na borda do tapete sente esse medo de voltar - medo do vazio dentro de si mesmo e do vazio dentro do espaço. (...) Sentar-se imóvel ou ficar quieto já requer muita coragem. A maioria das manifestações exageradas ou desnecessárias provêm do pavor de não estarmos realmente presentes se não avisarmos o tempo todo, de qualquer jeito, que de fato existimos. (...) É importante que todos os atores reconheçam e identifiquem tais obstáculos, que neste caso são naturais e legítimos. (...) Quando atua bem, não é porque elaborou previamente uma composição mental, mas porque criou um vazio livre de pânico dentro de si.'

Peter Brook - A porta Aberta