quarta-feira, 28 de março de 2007

Sem medo de ser velho

Com três dias de atraso eu encontro tempo para falar sobre um dos melhores shows que já vi. E posso dizer isso ao lado de experientes sessentões que dividiam a platéia comigo. A segunda vinda de Roger Waters, ex-baixista e fundador do Pink Floyd, ao Brasil foi fenomenal.


O Estádio do Morumbi lotado pôde acompanhar uma das maiores representações da palavra show atualmente. A turnê The Dark Side Of The Moon veio ao país apoiada na execução completa, na íntegra e na ordem do tal terceiro álbum mais vendido da história. Mas a apresentação, de 2h45 cravados, trouxe muito mais.

Excursionando com a mesma banda há mais de uma década, Waters tem todo o apoio que precisa. Um guitarrista fenomenal, outro competente, um baterista inspirado, um conjunto de backing vocals ótimo e um tecladista melhor do que o próprio Richard Wright (que, verdade seja dita, nunca foi dos geniais). Isso tudo evidenciado pelo som de 360º quadrifônico, como jamais ouvido por aqui, que transformou o estádio em uma imensa concha acústica.

O show serviu de refúgio àqueles que não podem ver (e certamente não verão) o atual Pink Floyd ao vivo, com seus espetáculos imensos e cheios de efeitos. Waters não fez por menos - provando porque é o autor do conceito do show-evento, criado na turnê The Wall - e apresenta à platéia um telão com projeções de todos os tipos: imagens psicodélidas, curtas-metragens, histórias em quadrinhos, fotografias, imagens clássicas. O palco pega fogo (intencionalmente) pelo menos duas vezes. Sem contar o já clássico porco inflável gigante com dizeres de injustiça social, que passeia pela platéia e depois é solto ao prazer do vento, para sumir na escuridão na noite.

Tudo isso para embalar execuções irretocáveis de sua carreira solo, como Perfect Sense e Leaving Beirut e imortais de sua banda como Wish You Were Here, Shine On Your Crazy Diamond, Another Brick In The Wall, Sheep, Brain Damage e Eclipse. Estas últimas, aliás, marcam o momento mais fantástico do show - não só por serem do meu top 5 do Floyd - mas por tornar a platéia de 45 mil pessoas um imenso coral, embalado pela nostalgia enquanto vê o prisma da capa do disco ser projetada em três dimensões com lasers em movimento bem à sua frente.

Depois de 34 anos, finalmente Dark Side of The Moon ao vivo. E eu, que nunca imaginei presenciar isso, não pude deixar de notar como nada ali parecia velho. Parecia, aliás, que tempo algum havia passado. Pelo contrário, 34 anos ou 2h45 pareceram curtos demais.

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Blog de Ian Ritchie (saxofonista da banda de Roger Waters)

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