segunda-feira, 28 de maio de 2007

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Troca-troca

Agora que a concorrência está se mostrando acirrada, a ex-toda-poderosa Rede Globo começa a mexer no time. Com os elencos ficando disputados, autor reservando atores e atrizes para lá e para cá, a Record querendo abocanhar o pessoal, e as "celebridades" chamadoras de audiência se revezendo num empurra-empurra pra vem quem consegue ficar mais do que cinco minutos em exposição, os teledramaturgos estão enxugando suas histórias. Enxugando num sentido literal.


Em Páginas da Vida, Manoel Carlos se embananou todo pra se virar com tanta personagem colocada na história e sem função. Agora, em Paraíso Tropical, foi uma estratégia de Gilberto Braga em "liberar" os histriões para outros produtos da casa. Logo no início, Ísis Valverde, a Thelma, morreu caindo de uma passarela na Lapa. Liberada. Depois, Júlio Rocha, em participação especial, deu uma de chefe e logo depois entrou em Pé na Jaca.

Agora, Reneé de Vielmond (a tal Ana Luísa Cavalcanti) e Rodrigo Veronese (o par romântico dela) é que estão dando adeus. Ainda saem Maria Fernanda Cândido (que ficou sem função na trama depois que Reneé descobriu seu caso com Tony, digo, Antenor Cavalcanti), Othon Bastos (que vai morrer depois que descobrir que a neta má lhe roubou) e Sérgio Marone (que vai preso). Quem mais vai sair?

A circulação tem que ocorrer. As saídas de uma trama para outra estão corridas. Frenéticas quase. E nessas quem se der bem, se deu. Quem não se deu. Sorry. Sinal dos tempos. A Globo precisa renovar o elenco e ainda está engatinhando. Ainda investe nos modeletes, mas já está abrindo os olhos e vendo que modeletes não seguram as tramas. Sorte de pessoas como Marcelo Médici, ex-Fládson de Belíssima e que agora estréia em Os Sete Pecados, mais um do Walcyr Carrasco...

terça-feira, 22 de maio de 2007

Prato frio

Vingança é compreensível, porém condenável. Faz parte do hall dos sentimentos feios e inglórios, mas que todo mundo entende. Que diga Charles Bronson e suas aventuras para vingar os inúmeros parceiros policiais e filhos mortos de sua filmografia. Matar alguém que lhe fez mal é justificável. Quando tratado com sutileza e inteligência então, fica ainda ainda mais difícil não ficar do lado do justiceiro. E caímos como patinhos na lagoa de sangue que se forma em Sympathy for Lady Vengeance (em cartaz no país), batizado no Brasil de Lady Vingança (lei de vingança?).

Depois de Sympathy for Mr. Vengence (2002) e Oldboy (2003), o terceiro filme da trilogia sobre vingança do diretor Park Chon Wook segue a mesma linha dos seus antecessores. Violento sim, surreal sim, lindo sim. Geum-ja (Young-ae Lee) passa 13 anos presa acusada de assassinar um menino de 8 anos. Infanticídio é pecado mortal em qualquer lugar do mundo e ela, problemática, acaba levando a culpa pelo crime que seu amante, um professor de jardim da infância desequilibrado, cometeu, papel do ótimo Choi Min-Sik, o Oh Dae-su de OldBoy. Mais amadurecida, ela sai da cadeia e decidida a matá-lo.

Com seus três atos claramente definidos, o filme começa com um perfil das mulheres presas junto com Geum-ja que acabam ajudando na vingança. Em seguida, ela busca a filha que descobre ter sido adotada na Austrália e a história termina com a vingança propriamente dita. A história casa tão perfeitamente com a trilha sonora e com a fotografia, que mesmo com um furo aqui, um esquecimento ali, o filme consegue dizer claramente a que veio.

Mas não se engane, nada aqui é leve, gostoso, saudável. As situações beiram o absurdo e me fizeram lembrar daquela fase non-sense do cinema europeu. Nuvens com frases, relicários, capas de chuva ensanguentadas e um bolo impecavelmente branco. Isso sem contar a indefectível sombra vermelha que transforma a personagem de uma menina boazinha para uma matadora sanguinária.

Isto não é um spoiler, afinal, você sabe que ela irá matá-lo antes mesmo de sentar na poltrona do cinema. O que está em questão aqui é como irá fazê-lo e como se sentirá nesta busca. A redenção tem seu custo. E diferente da vingadora-padrão, a coreana pode até matar vestindo saltos, mas chora do início ao fim.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Arte Alka-Seltzer

Eu sabia que Dalí era um tremendo capitalista e tinha feito vários comerciais. Mas não tinha visto nenhum, até chegar a era YouTube. Fosse nascido nos dias de hoje, ele teria uma loja de camisetas com estampas descoladas.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

O que nenhum anjo sabe

Hoje os anjos de Berlim fazem anos. De presente, os alemães vão poder revê-los em tela grande. Enquanto que, por aqui, nem mesmo DVD não-remasterizado tem. A única cópia que tenho é pirateada de um VHS que já era copiado de um Mostra de Cinema na Cultura de 94.

Ah, mas é lindo.

JGR

"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem." JGR
Pegue ali a faca e segure firme, que o que vem da vida dá apenas duas escolhas: usá-la em outros ou usá-la em si. Claro que há o meio caminho, que é mais desistir do que deixar para lá, largar da faca e manter-se puro. Mas não dura, porque não é de verdade. É acreditar que há uma faca apenas, e você apenas, com a única faca de lutar. Sua faca também é a luta dos outros, também com a escolha do talvez enfrentar. E se ninguém ousa na luta, permanecem de mãos limpas, uma hora a vida alcança, e alguém decide enfrentar. Daí é como dominó em fila, não tem peça ou pessoa que resista. A vida empurra, e você vai lá.

Destino não é ruim ou bom. Destino é um só. E a força do homem não está no enfrentamento, mas no abraçar. Porque todo homem é menor do que a vida, e não perceber isso é o mesmo que não viver.

Guimarães sabia. No sertanejo, o eterno conflito do homem universal, o único conflito de verdade por ser o único que realmente importa. O que já derrubava imperadores na mitologia romana e transformava homens em animais na mitologia oriental, no coração do Brasil acontece diariamente. A pureza é corrompida pela realidade. Há uma força maior. Deus, natureza, instinto, genética, determinismo. O futuro é aquele. O que fazer?

É então que o pequeno homem frente à imensa vida se dá conta: virá. E é de cada um lidar com sua pequena linha na trama do universo. Há quem lute, tente mudar. Há quem se entregue, e vá. Há quem questione, aprenda. Há quem abandone, não compreenda. Há quem cresça, ascenda aos céus. Há quem caia ao inferno, perda-se dos seus. Mas nada muda, afinal, ele ainda é pequeno. É peça no tabuleiro de um jogo que não é seu. Tem que fazer o que fará porque é como é.

E, em meio às questões que o cercam, fica perdido em suas dúvidas do saber. Não se vê envolto pelo turbilhão – pois o tudo é maior – que, ao fim inevitável de sua jornada, o deixa ainda menor. Daí a melancolia, a tristeza. Ficar cada vez mais ínfimo no mundo das inevitáveis certezas. Há de ser forte, enfrentar. Que, no fim da jornada, se não tiver entendido, de nada valeu. Erguer-se. Coragem não se ganha, coragem se toma.

O matador mata, a mãe alimenta, a bruxa enfeitiça, o namorado ama, o tempo passa, o pai trabalha, o juiz pune, a chuva molha, deus sabe, a criança brinca, a viúva chora, o destino escraviza, o dia passa.

Tudo é como tem que ser. Mas perde-se quem se prende ao porquê. A pergunta da vida, a tomada de coragem, é o como.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Links de teatro

Mais dois links pros seus favoritos (e pro nossos):


- Bacante: a revista eletrônica de teatro e engraçadinha. Bem-humorada, a revista teatral traz resenhas, um blog, matérias e links. Fala do circuito mais "alternativo", mas também se arrisca aos teatrões espalhados pela megalópole paulista. Dirigida por Maurício Alcântara e Fabrício Muriana, a revista tem seus bons momentos no blog e nas resenhas inspiradas, escritas com sarcasmo e pílulas divertidas. Atualiza às terças.

- Na Cena de SP: aí ao lado já estava. Mensal, o Na Cena de SP tem entrevistas interessantes com personalidades do teatro e seções variadas como O Plantão Evoé (com notinhas sobre o que acontecerá naquele mês), Papo de Camarim (entrevista com atores, diretores e outros) e Nos Palcos de Sampa (estréias, relançamentos e destaques).

terça-feira, 15 de maio de 2007

Carência virtual

Eu trabalho o dia todo dentro da redação. A tv fica ligada bem atrás da minha cabeça e sempre em programas ruins. Até tentei gostar do Myspace, podcasts, mas com o tempo enjoa e eu fui parar, junto com todos os meus amigos, no famoso Pandora. Com o perdão do trocadilho, uma caixinha de música.

Se você estava em Marte ou coisa do tipo, trata-se de uma "rádio" onde você pode escutar seus artistas preferidos e outros similares a ele, criando uma setlist só sua. Na minha tocava de Smashing Pumpkins à Roberto Carlos e todos conviviam pacificamente. Só que há três semanas atrás, recebi um comunicado do site.

"Acreditamos que você está no Brasil, e nós estamos muito, muito tristes em dizer que, devido à restrições de licenciamento, nós não podemos mais permitir acesso ao Pandora para a maioria dos ouvintes localizados fora dos EUA."
Great....

Preguiçosa, eu não fui atrás de outro programa do tipo e ficava entediada de ter que voltar a escutar o som da tv chata atrás de mim. Mas como tudo na vida é cíclico, lá vem meu namorado com outra dessas febres de internet: last fm. Eles se intitulam a maior "plataforma social de música". Funciona mais ou menos como aquelas rádios virtuais que você escolhe o que quer que toque e descobre artistas similares ao que você gosta. Ou seja, mais ou menos como o Pandora.

E como tudo na minha vida e acredito que na sua também, vira mania, parte do cotidiano. Quando você menos espera, está lá, escutando musiquinha na internet, tomando café e trabalhando mais de 10 horas por dia. Ê vidinha besta!

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Degladiando

Post breve para falar do duelo de críticas entre Inácio Araújo, crítico da Folha de São Paulo, e Helvécio Ratton, diretor de Batismo de Sangue, em cartaz nos cinemas.

Inácio, resumindo, fala que a tortura de Batismo de Sangue é deveras a atração em um filme em que não devia ser e Ratton depois termina dizendo que a tortura devia ser como está e que Batismo de Sangue é um filme corajoso em mostrar o que se sucedeu.

Tudo isso no mesmo blog. O do Inácio Araújo. Então quer dizer que Inácio Araújo deixou Ratton contra-argumentar em seu blog? É o que deduzimos. Vale conferir o duelo no blog de Araújo e também aproveitar para ler a crítica do ex-cineasta sobre a situação atual do nosso cinema (alguns dizem que ele faz a tabula rasa do cinema brasileiro).

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Whose Line Is It Anyway?

Antes de voar para os ensaios do Insano ao sábados, eu almoço quase sempre assistindo tv. Se dou sorte é 12h em ponto e eu tenho chance de assistir meu programa favorito e talvez aquele que passa mais rápido.
"Whose Line Is It Anyway?" do Sony Entertainment Television é um programa de humor baseado na improvisação seguindo propostas da platéia e de Drew Carey (do "The Drew Carey Show") que comanda os amigos Colin Mochrie, Ryan Stiles e Wayne Brady e mais um convidado a cada show.

As propostas são as mais inimagináveis possíveis que vão de fazer uma letra para uma melodia improvisada pela banda à jogos de improvisação usando objetos estranhos (espumas coloridas cortadas em formatos aleatórios) que é a minha parte favorita.

Os jogos podem ser de dupla, individual ou com todos, Drew elege um vencedor e lhe dá pontos abstratos. O vencedor no final ganha alguns minutos sentado no lugar de Drew comandando sua campainha que finaliza cada performasse ou prolonga a mesma.

É como uma brincadeira de teatro de tão natural e, interagindo com a platéia, a criatividade dos comediantes rola solta, as risadas também e o programa parece durar menos de dez minutos.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Homem-Aranha 3

Eu assisti. Gostei. Pra caramba. As cenas de ação, impecáveis. A edição, super. Efeitos especiais, 10 (11, 12 até). Trilha sonora boa. Roteiro com uma premissa interessante. Aí começam as falhas.

O que poderia ser uma super história de um super herói, dá lugar a uma história com buracos. Alguns grandes, viu? Harry Osborn (James Franco), por exemplo. Para quê a personagem ficar subitamente sem memória? Pra ganhar tempo. Pra utilizá-la quando o roteiro precisar. E James Franco se deu bem com o que deram nas mãos. Ainda bem. Mas depois, lá pelo final, a súbita virada da personagem... Discutível. Uma falinha só pode mudar o objetivo de um homem? E uma fala dada pelo mordomo? Tsc, tsc...


O Homem-Areia (Thomas Haden Church, de Sideways)? Dispensável, apesar de ser o efeito especial mais incrível do filme. Subtrama sem sentido... Para agradar fãs. Da parte feminina, Gwen Stacy (Bryce Dallas Howard), em participação desimportante, e Mary Jane (Kirsten Dunst), apesar da história dela ter sido pouco explorada. Mas as carinhas da Kirsten Dunst já me foram o suficiente nos dois filmes. Como disse a crítica da Time, é um filme de homens, dos sentimento dos homens. Mas ainda tem J. Jonah Jameson (J.K. Simmons), como sempre, o melhor apoio em termos de humor. Aparece pouco, pena...

Eis então que temos Venom. Tá bom, todo mundo já viu aquele trailer em que o Eddie Brock (Topher Grace, do That 70's Show) pega a gosma e... Bom, ele vai virar o Venom. Dispensável também, apesar de Grace também dar conta do recado. Mas o que importa é o que vem antes. Peter Parker (Tobey Maguire) tomado pela gosma negra, exacerbando seus traços malignos. Engraçado, legal, o lado negro da Força, a nossa natureza animal à flor da pele. Muito melhor. Se fosse só isso e o Duende "Filho" (o New Goblin, como falam por aí), com uma história decente, bem, aí sim... O filme traz a melhor parte, o que mais interessa, no conflito interno do Aranha.

Tudo bem, não é essa a história. Resta só assistir a esse mesmo. E a gente gosta. Os dois outros filmes deram conta do recado e o diretor Sam Raimi seguiu o seu rumo, com sua receita kitsch de fazer cinema, com enquadramentos nos figurantes que gritam, correm e aplaudem, nas câmeras lentas em quedas, no humor descarado dentro do drama melódico e nas mensagens moralistas espargidas em conselhos de vovós, digo, da Tia May (Rosemary Harris, também impecável). Cinema autoral em escala blockbuster, como disse Luiz Carlos Merten aqui, tirando uma bandeirinha americana aqui e acolá, sangue externado em planos americanos e retirado em closes (porque é um filme for family fun, right?) e sua recente fixação por musicais (assistam e entendam, heheheh...).

Gostei. Recomendo. Mas os outros são melhores. Neste, muitas subtramas pra desenvolver e acaba que quase nenhuma se desenvolve legal. Vale pelos efeitos, pelo Aranha, pela ação, pelo humor, pelo quase-desenvolvimento da história do lado negro do Aranha (ou então de seu flerte com a fama, com a celebridade). Mas, pelo menos, o final mostra aquilo que tinha que ser. Nada de "felizes para sempre". Mas um legal "a vida continua".

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Confira a crítica de Renato Silveira no Cinematório. Ele diz exatamente o que eu penso.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Do que eu entendi do que ele disse


A tarefa é das mais ingratas: do que eu entendi do que Guimarães Rosa disse. Ok, é só um norte a seguir, mas ainda assim, decifrá-lo não é coisa simples de se fazer. E no meio de neologismos e realismos mágicos, acabamos nos encontrando. Podemos dizer que moramos ao seu lado, mas não na mesma casa. Somos vizinhos de um sertão gigante e sem limites imagináveis. E aos poucos vamos nos despindo do Amor, que nos seguia até então e entramos endurecidos e sem jeito num terreno nunca antes trilhado pos nossos pés tão pouco calejados. Nós, seres cosmopolitas que nada entendem da sinceridade do sertão, chegamos cheios de estereótipos.

As cenas foram surgindo, o fantástico comendo pelas beiradas. E naturalmente vem a sensação de que deve ter música própria, figurino especial, ousadias simplórias e BAM! Um começo de enredo surgido de uma cena. E de repente a calmaria invade a Insanidade.

Os cânticos populares desenferrujam as nossas gargantas ralas. A correria dá lugar aos gestos curtos. As cenas caóticas começam a ser descartadas para dar lugar à vastidão. Estamos no começo da estrada de nosso novo trabalho. Ainda falta muito caminho a trilhar, pés para calejar, água pra secar, mas estamos começando a entender. Nos deseje sorte.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Sobre Joãos e Hermilas

Minha recém-adquirida falta de crença nas pessoas até que está me servindo bem. Por achar tudo um saco, um exagero e de uma mediocridade gritante, por alguma razão certas coisas banais me saltam aos olhos. Afasto o que me parece pretensioso e dou atenção ao simples.

Depois de ver recentemente e super atrasada o Céu de Suely, de Karin Äinouz, reparei o quanto as interpretações simplórias me conquistam. Confesso, não gostei do filme, ele cumpre seu papel, mas não é um expoente. O engraçado foi ter achado dois exemplos tão opostos e por isso tão perfeitos da simplicidade que aprendi a admirar.


A protagonista Hermila Guedes é perfeita pro papel. Traz o frescor de quem ainda é tábua sem forma, prontinha para ser "moldada". Mas é só. Quando a vi de novo, no papel de Elis Regina, no especial da Globo, me dei conta de que ela é uma daquelas atrizes ótimas de um papel só: o dela mesma. Ou seja, Hermila só sabe ser Hermila. Não a peça para ser Elis, Maria, Patrícia...não dá. Não é de se espantar que o diretor também tenha sacado.

Mas aí vem o outro lado da moeda: João Miguel. Seguindo a mesma linha de Hermila, o ator prima pela naturalidade. A diferença é que o ator baiano guarda milhões de Joãos, Franciscos, Pedros, Josés dentro de si. É só comparar o cômico-trágico Ranulpho de Cinemas, Aspirinas e Urubus com o tímido João de Céu de Suely. E as poucas entrevistas que concede, dá para perceber que a mansidão que passa esconde um conteúdo revoltoso . E não é preciso colocá-lo para fora, a gente percebe pelos olhos, pelo movimento das mãos...

E olha só: ambos são atores de teatro, com experiência em cinema e alguma coisinha em tv. Mas um só é bom sendo ele mesmo e o outro é bom sendo quem ele quiser ser. E não é preciso mudar cabelo, roupa, música... Isso me inspira. No Teatro Insano, estamos trabalhando num projeto novo e acho que este é um caminho que gostaria de seguir. Poucos objetos em cena, pouca pirotecnia, muito mais por dentro.

O simples é sincero. Quero me manter no palpável.

Atenção para Rifa-me, o curta que deu origem ao longa faz parte dos extras do DVD

Todo mundo vai ver

Na era dos filmes maiores que o próprio cinema, nasceu esse fenômeno estranho do "filme que eu vou assistir de qualquer jeito". Acontece todo ano, entre maio e julho, por conta do verão norte-americano. Dezenas de filmes milionários chegam aos cinemas nacionais e, não importa o quão ruins ou mal-recomendados eles sejam, todo mundo vai ver.


Isso fica evidente quando as grandes produções são quase todas continuações. Piratas do Caribe 3, Shrek 3, Homem-Aranha 3. Este último é exemplo máximo. Com os anteriores entre as maiores bilheterias de todos os tempos, a série parece ser maior que qualquer crítica, qualquer opinião, qualquer um. A coisa é tão ousada que eles nem usam o nome do filme na divulgação, só o número: 3. Acredite, eles não fariam isso se não tivessem certeza que você vai vê-lo. Só querem que você lembre qual você viu antes, era o 2.

Esse fenômeno se dá principalmente por duas razões: Todo mundo fala sobre o lançamento, seja seu amigo na faculdade, a revista Veja ou o cara que senta na sua frente no ônibus (sem contar a campanha de marketing). A outra é a saturação. Tenha certeza, nove em cada 10 cinemas da sua cidade estarão exibindo Homem-Aranha 3. Nos casos de cinemas grandes, em cinco de cada 10 salas.

Incrível é a quantidade de pessoas que costumam sair da exibição sem qualquer impacto causado pelo filme. Gostaram, mas não muito. Saem com aquela sensação de quem não assistiu ainda. A opinião formada antes de assistí-lo é mais forte do que a que vem depois. Estranha essa era dos blockbusters. Filmes que a gente quer ver, mas esquece porquê viu.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Pra ver um grande amor

A Máquina, dirigido por Joaõ Falcão, de 2005, tem Paulo Autran, Lázaro Ramos, Wagner Moura, Gustavo Falcão e Mariana Ximenes. A história é baseada num livro de Adriana Falcão (tuuudo em família) que depois virou uma peça de teatro pelo mesmo diretor. Em 2005 foi adaptado para o cinema de maneira espetacular.

"Vivia em Nordestina uma moça que apertava os olhos quando olhava por quem Antônio era completamente apaixonado". Karina (Mariana Ximenes) sonha em ser atriz e ir pro Rio de Janeiro.

"Por isso que Nordestina não vai pra frente, o povo vai embora e esquece ela pra trás", Antônio diz uma hora logo após afirmar que ele, único, não queria sair dali: "quem foi que disse que eu quero sair daqui, eu não quero sair daqui, porque que eu ia querer sair daqui se eu não quero sair daqui". Misturando humor com declarações intensas a cidadezinha de Nordestina, cujo cenário se resume á quatro ou cinco casas, vai ganhando graça e você vai se apaixonando pelo lugar e pela história.

Lógico que a história, sendo narrada por Autran, não poderia ser fraca. Mas é ainda melhor reforçada a idéia de que Autran (Antônio envelhecido) está num hospício, contando a seus amigos do local a história de sua juventude e daquele amor por Karina que o fez prometer o mundo. ("É o mundo que você quer? Pois então eu trago ele pra você!").

Mais do que a aventura de tentar ir para um tempo futuro pra verificar a validade do mundo que ele promete a Karina, a trama se segura no amor dos dois e na graça singela de Antônio:

"Esse tal amor é somente de ficção, e é muito diferente desse negócio aqui que eu sinto, esse negócio de doido! Que eu não encontro nome, e nem em todas as palavras existentes e que não tem som e nem letra escrita que explique como ele é exagerado! (...) Porque simplesmente, esse tipo de verdade não carece de ser documentado em papel, ou romance e nem filme de cinema, pois não é da conta de ninguém a não ser da pessoa que sente , além da outra responsável pelo afeto causado! A conversa aqui é somente entre tu e eu, eu e tu, Karina. Finge somente uma vez que tu é tu que é pra ver se tu descobre o que tu sente."

É diferente, especial no gênero de comédia romântico oferecendo um drama não clichê, com uma produção artisticamente cuidadosa. Dá pra ver em dia quente ou frio, acompanhando ou não, mas oque dá mesmo pra ver é intensidade.

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Trailer do filme