sexta-feira, 4 de maio de 2007

Sobre Joãos e Hermilas

Minha recém-adquirida falta de crença nas pessoas até que está me servindo bem. Por achar tudo um saco, um exagero e de uma mediocridade gritante, por alguma razão certas coisas banais me saltam aos olhos. Afasto o que me parece pretensioso e dou atenção ao simples.

Depois de ver recentemente e super atrasada o Céu de Suely, de Karin Äinouz, reparei o quanto as interpretações simplórias me conquistam. Confesso, não gostei do filme, ele cumpre seu papel, mas não é um expoente. O engraçado foi ter achado dois exemplos tão opostos e por isso tão perfeitos da simplicidade que aprendi a admirar.


A protagonista Hermila Guedes é perfeita pro papel. Traz o frescor de quem ainda é tábua sem forma, prontinha para ser "moldada". Mas é só. Quando a vi de novo, no papel de Elis Regina, no especial da Globo, me dei conta de que ela é uma daquelas atrizes ótimas de um papel só: o dela mesma. Ou seja, Hermila só sabe ser Hermila. Não a peça para ser Elis, Maria, Patrícia...não dá. Não é de se espantar que o diretor também tenha sacado.

Mas aí vem o outro lado da moeda: João Miguel. Seguindo a mesma linha de Hermila, o ator prima pela naturalidade. A diferença é que o ator baiano guarda milhões de Joãos, Franciscos, Pedros, Josés dentro de si. É só comparar o cômico-trágico Ranulpho de Cinemas, Aspirinas e Urubus com o tímido João de Céu de Suely. E as poucas entrevistas que concede, dá para perceber que a mansidão que passa esconde um conteúdo revoltoso . E não é preciso colocá-lo para fora, a gente percebe pelos olhos, pelo movimento das mãos...

E olha só: ambos são atores de teatro, com experiência em cinema e alguma coisinha em tv. Mas um só é bom sendo ele mesmo e o outro é bom sendo quem ele quiser ser. E não é preciso mudar cabelo, roupa, música... Isso me inspira. No Teatro Insano, estamos trabalhando num projeto novo e acho que este é um caminho que gostaria de seguir. Poucos objetos em cena, pouca pirotecnia, muito mais por dentro.

O simples é sincero. Quero me manter no palpável.

Atenção para Rifa-me, o curta que deu origem ao longa faz parte dos extras do DVD

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