quinta-feira, 17 de maio de 2007

JGR

"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem." JGR
Pegue ali a faca e segure firme, que o que vem da vida dá apenas duas escolhas: usá-la em outros ou usá-la em si. Claro que há o meio caminho, que é mais desistir do que deixar para lá, largar da faca e manter-se puro. Mas não dura, porque não é de verdade. É acreditar que há uma faca apenas, e você apenas, com a única faca de lutar. Sua faca também é a luta dos outros, também com a escolha do talvez enfrentar. E se ninguém ousa na luta, permanecem de mãos limpas, uma hora a vida alcança, e alguém decide enfrentar. Daí é como dominó em fila, não tem peça ou pessoa que resista. A vida empurra, e você vai lá.

Destino não é ruim ou bom. Destino é um só. E a força do homem não está no enfrentamento, mas no abraçar. Porque todo homem é menor do que a vida, e não perceber isso é o mesmo que não viver.

Guimarães sabia. No sertanejo, o eterno conflito do homem universal, o único conflito de verdade por ser o único que realmente importa. O que já derrubava imperadores na mitologia romana e transformava homens em animais na mitologia oriental, no coração do Brasil acontece diariamente. A pureza é corrompida pela realidade. Há uma força maior. Deus, natureza, instinto, genética, determinismo. O futuro é aquele. O que fazer?

É então que o pequeno homem frente à imensa vida se dá conta: virá. E é de cada um lidar com sua pequena linha na trama do universo. Há quem lute, tente mudar. Há quem se entregue, e vá. Há quem questione, aprenda. Há quem abandone, não compreenda. Há quem cresça, ascenda aos céus. Há quem caia ao inferno, perda-se dos seus. Mas nada muda, afinal, ele ainda é pequeno. É peça no tabuleiro de um jogo que não é seu. Tem que fazer o que fará porque é como é.

E, em meio às questões que o cercam, fica perdido em suas dúvidas do saber. Não se vê envolto pelo turbilhão – pois o tudo é maior – que, ao fim inevitável de sua jornada, o deixa ainda menor. Daí a melancolia, a tristeza. Ficar cada vez mais ínfimo no mundo das inevitáveis certezas. Há de ser forte, enfrentar. Que, no fim da jornada, se não tiver entendido, de nada valeu. Erguer-se. Coragem não se ganha, coragem se toma.

O matador mata, a mãe alimenta, a bruxa enfeitiça, o namorado ama, o tempo passa, o pai trabalha, o juiz pune, a chuva molha, deus sabe, a criança brinca, a viúva chora, o destino escraviza, o dia passa.

Tudo é como tem que ser. Mas perde-se quem se prende ao porquê. A pergunta da vida, a tomada de coragem, é o como.

Um comentário:

Fernanda Tsuji disse...

Fantástico. Não acrescento nem uma vírgula.