terça-feira, 22 de maio de 2007

Prato frio

Vingança é compreensível, porém condenável. Faz parte do hall dos sentimentos feios e inglórios, mas que todo mundo entende. Que diga Charles Bronson e suas aventuras para vingar os inúmeros parceiros policiais e filhos mortos de sua filmografia. Matar alguém que lhe fez mal é justificável. Quando tratado com sutileza e inteligência então, fica ainda ainda mais difícil não ficar do lado do justiceiro. E caímos como patinhos na lagoa de sangue que se forma em Sympathy for Lady Vengeance (em cartaz no país), batizado no Brasil de Lady Vingança (lei de vingança?).

Depois de Sympathy for Mr. Vengence (2002) e Oldboy (2003), o terceiro filme da trilogia sobre vingança do diretor Park Chon Wook segue a mesma linha dos seus antecessores. Violento sim, surreal sim, lindo sim. Geum-ja (Young-ae Lee) passa 13 anos presa acusada de assassinar um menino de 8 anos. Infanticídio é pecado mortal em qualquer lugar do mundo e ela, problemática, acaba levando a culpa pelo crime que seu amante, um professor de jardim da infância desequilibrado, cometeu, papel do ótimo Choi Min-Sik, o Oh Dae-su de OldBoy. Mais amadurecida, ela sai da cadeia e decidida a matá-lo.

Com seus três atos claramente definidos, o filme começa com um perfil das mulheres presas junto com Geum-ja que acabam ajudando na vingança. Em seguida, ela busca a filha que descobre ter sido adotada na Austrália e a história termina com a vingança propriamente dita. A história casa tão perfeitamente com a trilha sonora e com a fotografia, que mesmo com um furo aqui, um esquecimento ali, o filme consegue dizer claramente a que veio.

Mas não se engane, nada aqui é leve, gostoso, saudável. As situações beiram o absurdo e me fizeram lembrar daquela fase non-sense do cinema europeu. Nuvens com frases, relicários, capas de chuva ensanguentadas e um bolo impecavelmente branco. Isso sem contar a indefectível sombra vermelha que transforma a personagem de uma menina boazinha para uma matadora sanguinária.

Isto não é um spoiler, afinal, você sabe que ela irá matá-lo antes mesmo de sentar na poltrona do cinema. O que está em questão aqui é como irá fazê-lo e como se sentirá nesta busca. A redenção tem seu custo. E diferente da vingadora-padrão, a coreana pode até matar vestindo saltos, mas chora do início ao fim.

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