quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

One woman show

Na mitologia grega, Juno era a esposa de Zeus, símbolo do matrimônio e da fidelidade - e do ciúme. Também era o símbolo da fertilidade. E talvez por isso a roteirista Diablo Cody (que pseudônimo!) tenha pego o gancho e feito a história da adolescente Juno McGuff, uma jovem muito consciente que engravida e decide dar o bebê para que um casal o adote. A história de Juno é essa, simples, ponto.

Fazia muito tempo em que eu não assistia a um filme adolescente com substância. E americano, ainda por cima. Geralmente, os roteiros desses filmes retratam adolescentes com pais desajustados ou ausentes, são problemáticos na escola, nenhum de seus relacionamentos vai para frente, são irresponsáveis e a lista se prolonga. Não é o caso. Juno tem pais presentes e conscientes, é uma ótima aluna e é incerta de seu relacionamento, o que é próprio da adolescência. Mas nada que a desestabilize ao contrário de muita gente considerada "adulta". É neste âmbito em que a garota descobre estar grávida, aos belos e floridos 16 anos. E Diablo Cody é inteligente o bastante para não fazer disso um drama açucarado. Pelo contrário, aqui é a comédia que reina. Comédia inteligente! É demais para o meu cérebro conjugar os conceitos, não pode ser: cérebro + risadas = teen movie, jamais! Mas é o que acontece.

Cody entrega um roteiro com piadas memoráveis sem necessitar do fator "corpo". A única coisa que muda no filme é o tamanho da barriga de Juno. Nada mais. Nenhuma parafernália, gags, trombadas... A diversão vem da situação em que a protagonista se encontra. Seu diálogo é estilizado, sim, mas as garotas de hoje são muitíssimo articuladas, com milhões de idéias e referências a cada frase, portanto, está OK.

Jason Reitman, o diretor, alinhava as cenas sem malabarismos. O estilo de direção é clássico, sem maiores delongas ou pretensões e o ritmo é leve, pois Reitman sabe que uma comédia precisa disso e entrega o timing perfeito para. Seu apuro foi na escolha do elenco, que parece estar em estado de graça. J. K. Simmons (o J. Jonah Jameson de Homem-Aranha) e Allison Janney como os pais de Juno são a personificação dos pais que todos gostaríamos de ter tido. Michael Cera (de Superbad) é o responsável pela sementinha geradora do embaraço todo, o "quero-ser-namorado-de-Juno" contido e engraçado. Olivia Thirlby é a amiga inspirada que solta frases de efeito a cada cinco segundos. O casal que quer adotar o bebê é composto por Jason Bateman (que eu considero passável, não gosto dele) e Jennifer Garner em ótima atuação (acho que foi a primeira vez que a vi tão completa e entregue a um papel).

E, para terminar as honras, Ellen Page, a protagonista. Descontraída, sem poses, de uma leveza absurda e sem nenhum histrionismo nem mesmo quando as cenas são mais dramáticas, Page é o atrativo do filme. Não foi à toa que foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz. Ellen segura todos os 92 minutos de película nas costas. Consegue ser divertida, sem ser apelativa. Consegue ser uma adolescente em crise sem extravagâncias. Consegue construir uma Juno tão palpável que dá vontade de gerar uma igual agora mesmo. De opinião formada (e que opinião!) e consciente de seu mundo ao redor, Ellen consegue passar credibilidade com a menina que está grávida, está apegada ao bebê, mas disposta a doá-lo por saber que tem apenas 16 anos e não tem estrutura psicológica ou financeira para tê-lo.

Em épocas de dramas pesados como Sangue Negro, Onde os Fracos Não Têm Vez e Desejo e Reparação (na corrida pelo Oscar), é uma grata surpresa que este exemplar também concorra com as densas películas na mesma competição com o selo "comédia indie" (o que também aconteceu com o igualmente surpreendente Little Miss Sunshine). Mas ao contrário deste último, é Ellen Page quem deve faturar. Mesmo por cima de Julie Christie. Olho nela!

P.S.: A musiquinha do final do filme se chama Anyone Else But You e é lindinha. Se tiver dúvida em assistir, baixe e ouça. Ou veja no vídeo abaixo.

3 comentários:

Anônimo disse...

Veja se o link não esta quebrado não consegui ver o vídeo.

Anônimo disse...

aqui está abrindo normalmente.
veja se não é algum problema com as suas configurações de flash player.
o link direto pra página do vídeo no youtube é http://www.youtube.com/watch?v=nBDbUVXXp-U
abs!

fjmm disse...

adorei seu resumo.
assisti o filme e fiquei espantada em como o diretor conseguiu deixa-lo simples e autêntico ao mesmo tempo... bem como a protagonista, que encanta qualquer umm!! x)