terça-feira, 17 de abril de 2007

Time daqui, time de lá

Panelinha é uma coisa feia. Na escola já sofríamos com isso, na faculdade era quase ridículo, no trabalho sempre existiu. Mas quando a coisa toma rumos gigantescos e envolve R$ 1,2 milhão, aí você começa a se questionar de verdade.

O assunto já está rodando há algum tempo. Tudo começou com uma idéia chamada Amores Expressos. Nela, 16 escritores brasileiros iriam (COM TUDO PAGO) para dezesseis diferentes países atrás de uma boa história de amor. Na volta, os digníssimos escreveriam sua historieta, a Cia. Das Letras publicaria e quiçá, os contos renderiam um filme. Tava na cara que ia dar polêmica. Os escolhidos eram todos amigos. "Os critérios de seleção foram de afinidade literária, interesse editorial e química com as cidades de destino", declarou à Folha João Paulo Cuenca, escritor carioca que organizou a festa e fez a listinha dos convidados vips: Antônio Prata (Xangai), Daniel Galera (Buenos Aires), Chico Mattoso (Havana), Lourenço Mutarelli (Nova York), Antonia Pellegrino (Bombaim), Bernardo Carvalho (São Petersburgo), Marçal Aquino (Roma) e Sérgio Sant’Anna (Praga), só para citar os mais famosos. Ou para quem gosta dos escritos brasileiros contemporâneos, é a turminha de sempre.

Eles são bons? São. Eles precisam viajar para escrever um romance? Não, necessariamente.

E para agravar, os escritores que ficaram de fora da boquinha resolveram abrir o maior berreiro, movido à dor mais sincera do ser humano: dor de cotovelo. Em entrevista na Folha de S.Paulo, os dois lados se bombardearam de acusações e todas me pareceram extremamente dissimuladas. Porque no fundo, no fundo, é a mesma situação da panelinha da escola. Quem tá dentro se acha especial, quem está fora se acha um merda. Simples assim.

E fico tristonha com isso. Porque são escritores que eu realmente gostava. O povinho que começou escrevendo em blog, se esforçando para publicar livros, dando um sopro de modernidade na literatura. Decepciona, porque no fundo, são um bando de filhinhos de papai, que bem poderiam ter pego o dinheiro do bolso e ido viajar o mundo em busca de vivências extraordinárias, não precisavam meter a mão no dinheiro público (esclarecidamente captado pela Lei Rouanet).

E aí, no exterior, você vê um fantástico Jonathan Safran Foer. Com dois livros extremamente ricos e inovadores, você se pergunta se ele precisou de toda essa parafernália para ter uma idéia que realmente modificou a cena literária atual. Tá certo, não podemos ficar comparando, mas também não te soa um tanto mesquinho? Nós realmente não mudamos, crescemos mas continuamos as mesmas crianças pirracentas de sempre.


Sei, essa é uma notícia atrasada, mas é que só agora, fiquei sabendo por fontes, que o primeiro lote de escritores "expressos" já embarcou para seus destinos glamourosos.

Ê, a vida é boa, né, gente?

* Detalhe, que eu estou lendo O Sol se Põe em São Paulo, exatamente do "enturmado" Bernardo Carvalho.

Um comentário:

Anônimo disse...

queria ver investir essa quantia em bibliotecas, ou contratando professores para cursos livres de escrita.
com essa grana, dava para criar mais mil novos autores. triste.