terça-feira, 24 de abril de 2007

A trilha sonora

Atualmente, as novelas brasileiras são compostas por canções de artistas convidados vendáveis, que podem ser facilmente tocados nas rádios. Na novela Páginas da Vida, anterior à atual Paraíso Tropical, o hit de Corinne Bailey Rae - Put Your Records On - foi tocado à exaustão.

Em geral, as trilhas servem de tema para determinados personagens. Quando eles aparecem em cena, toca a canção. Outra utilidade é a de junção. Para juntar cenas e pontuar lugares, deixando o espectador ciente de que a próxima cena mudará de lugar, paisagens aparecem, ultimamente o Rio, e o tema do personagem toca.

O problema é que o limite disso é mais do que ultrapassado. Não há trilha sonora na novela brasileira. Há canções de artistas variados que servem ao propósito comercial apenas. A idéia de junção e de tema, na verdade, é o melhor caminho para colar as músicas na cabeça do telespectador, que logo deixa as músicas tamborilarem em sua mente e, conseqüentemente, acaba comprando o CD da novela. Artisticamente falando, é um recurso pobre. Na verdade, um recurso de valor artístico algum. O editor das cenas de telenovelas da Globo (e agora da Record - não citaremos o SBT, pela qualidade) deve seguir uma cartilha elaborada 50 anos atrás.

Já nos Estados Unidos, por exemplo, o soundtrack (cuja tradução perfeita seria exatamente "trilha sonora") engloba composições especiais para suas séries, canções de terceiros e efeitos sonoros até. O que não quer dizer que possam ser utilizadas levianamente. Um exemplo interessante de como uma soundtrack pode ser artística é a do seriado Lost. Preste atenção na primeira coisa: há um compositor. O nome dele é Michael Giacchino. Ele compõe a trilha incidental do seriado, que pode ser recorrente dentro de seus temas, mas busca variações, sutilezas e muitas vezes serve aos propósitos dramáticos da série. Existe também um conceito. Giacchino busca violinos distorcidos e pianos graves para intensificar, pontuar, digredir, aliviar... Tudo casa com o mote da série: as pessoas estão perdidas literalmente e figurativamente e a trilha serve de base para que o espectador se situe no mesmo pé em que as personagens.

Agora, veja como é uma questão de conceituação: as canções de terceiros, quando existem nesse tipo de série norte-americana, são tocadas de forma que sejam inseridas dentro da série organicamente ou então pontuando um momento bonito ou enlevador, ou até mesmo como tema, mas não utilizadas exaustivamente.

Um outro ponto problemático é o ressaltamento de situações. Perceba: na novela Pé na Jaca, quando os personagens Lance (Marcos Pasquim) e Guinevere (Juliana Paes) "puxam" a dor de outras pessoas para si mesmos, a trilha que entra é a mesma utilizada para as aparições do fantasma de Nanda (Fernanda Vasconcelos) em Páginas da Vida. Ou seja, de uma novela para outra, a Rede Globo utiliza a mesma trilha para ressaltar situações similares (no caso, fatos considerados extraordinários). Perceba também em situações de humor, geralmente nas novelas de Sílvio de Abreu, quais são as trilhas utilizadas.

Finalmente, além de trilhas "situacionais" iguais de novela para novela e a trilha sonora puramente comercial, o coroamento se dá pelas novas trilhas "situacionais" que aparecem de vez em quando: na novela O Profeta, quando algum acontecimento grandioso acontece, um coral canta, a la O Fortuna, do espetáculo Carmina Burana, num clichê inequiparável e, de certa forma, brega. Combina com a(s) novela(s).

Um comentário:

Anônimo disse...

Tá vendo bastante tv, hein fio!
Bjs