quinta-feira, 21 de junho de 2007

O outono do Patriarca

crédito: William Fernando Martinez/AP
Minutos antes de ir embora pela última vez de Aracataca, ele prometeu a um amigo que só voltaria a cidade quando sentisse a morte lamber o pescoço. Vinte anos se passaram e ele não ficou mais jovem. Talvez nem mais velho. No mundo onde vive, o fantástico acontece sem a pressa do tempo e afinal, Macondo nunca envelhece. Há 20 dias atrás, Gabo voltou à cidade natal.

A locomotiva que o levava a pequena cidade no interior do Caribe Colombiano saiu com atraso da estação de trem. Percebendo a importância da data e talvez a nebulosidade que envolveria a volta de Gabriel García Márquez a sua origem, os fãs criaram tumulto e cercaram o escritor de suas ansiedades. Brincalhão, ele se sentou ao lado de sua esposa Mercedes e acenava da janelinha.

No meio da viagem porém, uma ponta de tristeza o invadiu. Olhava as árvores ficando para trás inseguro e melancólico. "Gabito sempre evitou voltar ao seu povoado natal por medo. Embora não o diga publicamente, para ele retonar a lugares onde cresceu é como refazer seus passos e isto o faz refletir sobre a morte", declarou à Folha, Guillermo Valencia, um de seus amigos de infância do colégio Montessori de Aracataca.

Para quem leu Memória de Minhas Putas Tristes sabe que Gabo anda se preparando para o porvir. Aos 80 anos, ele vê a vida com fantasia, é fato, mas com uma pitadela de angústia de quem não se sente mais tão ligado ao agora. Pode não ser o anúncio da morte, mas ao pisar na cidadezinha, uma onda de borboletas amarelas seguiu seus passos e iluminou o caminho. E se for mesmo o fim, foi do jeito que deveria ser: Surreal.

*Oportunismo à parte, sai a edição comemorativa de Cem Anos de Solidão em espanhol. Outra boa dica são os pokets, também em espanhol, de todos os livros de Gabo a meno de 25 reais. Nunca é demais.

Um comentário:

Kéroly Gritti disse...

Essas coisas de velhice me pegam no coração.



Ver como gabriel sente as borboletas da morte chegando, então...