segunda-feira, 25 de junho de 2007

Para ver de longe

Dalton Trevisan é dos meus queridos. Sou muito desconfiado de ditas adaptações e inspirações sobre sua obra. Fato é, muita gente não o entende. Pensam que ele é mais sobre uma coisa, quando na verdade é sobre outra.

Educação Sentimental do Vampiro, da Sutil Companhia de Teatro, pensa que é sobre uma coisa, mas na verdade é sobre outra. Trataram a obra de Trevisan como uma coisa banal, uma observação suja e simplista sobre a vida secreta de cada um. Não é. Não há traços da observação cínica do autor, nem seu cuidadoso esmero em retratar tanto com tão pouto. O Trevisan capaz de novelas de apenas um parágrafo não aparece no palco, pelo contrário, tudo é meio exaerado, existe em escala descomunal. Dos gestos às músicas, tudo é tão maior do que deveria... A narração, por exemplo, recurso constante, enche tanto o palco de palavras que faz o autor soar como um homem verborrágico e acelerado. Falsamente.

Na minha arrogância de sujeito desconhecido, digo que Felipe Hirsch não entendeu a obra de Trevisan. Adaptou qualquer coisa que lhe fosse interessante, pinçou na maioria bizarrices sexuais e foi lá, montar uma versão para Jerry Lewis da obra do vampiro de Curitiba.

É peça para ver de longe, porque, de perto (ali, na primeira fila) além de ser difícil captar tudo o que ocorre no palco sem se distrair pela amplitude, é possível notar detalhezinhos que incomodam, as joelheiras dos atores, a produção que entra durante o blackout pra mover o cenário, os atores se movimentando impacientes na cochia.

Incontáveis blackouts. Tudo numa tentativa de pontuar e diferenciar histórias que, no final das contas, são todas a mesma. Educação Sentimental é um grande espetáculo de 2 horas que conta a mesma coisa achando serem várias diferentes. E o riso fácil, claro, das escatologias e gestos desengonçados. Porque não deixam a comédia para quem é do ramo, meu deus?

Não posso nem dizer que fiquei decepcionado, não sinto que um dos meus autores preferidos foi manchado. Nem era ele lá, mesmo. Estava mais para um Nelson Rodrigues gótico adolescente, fazendo intercâmbio em Londres para falar mal da "burguesia" lá do Brasil.

Para quem quiser arriscar, está em cartaz no Teatro Popular do SESI, na Av. Paulista, por 3,00 mangos.

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