quinta-feira, 4 de outubro de 2007

O Circo se arma (novamente)

Eu fico pensando: entra novela, sai novela e é sempre a mesma coisa. As mesmas histórias e coisa e tal. Entrou agora Duas Caras no ar e eu pergunto: qual é a diferença dessa pras outras? Ah, claro. O cenário mudou, tem que ser mais realista porque é gravado em digital. É isso? Porque de resto...

Tem uma pensata na Folha Online, do Sérgio Malbergier, que discute isso. Malbergier fala da longevidade e influência da TV a partir da troca de bastão entre Duas Caras e Paraíso Tropical (com direito a final xoxo). Inclui ainda como exemplo a entrevista de Lima Duarte à FSP, em março de 2006, e eu vou ctrl+c/ctrl+v na fala do Lima:

"É duro fazer novela. Está cada vez mais cansativo. Estão escrevendo a mesma história há 40 anos. Faço o mesmo personagem, e o público chora a mesma lágrima, no mesmo horário. Mas o povo não deixa mudar."
Exatamente, o povo não deixa mudar, mas a TV também não arrisca. São dois problemas. O povo não deixa mudar porque a sociedade brasileira funciona à base de hipocrisia. Quer ver a mocinha, o vilão, porque sabem que na vida normal não é assim, mas é melhor fazer de conta. Vivem metendo o bedelho na vida alheia, então melhor meter o bedelho no fuxico nacional e discutir no outro dia no trabalho ou com a vizinha. Não gosta de ver retratada gente com personalidade dúbia, porque tem que ter um representante do bem e uma personificação do mal. E sai da frente da TV se o programa trazer dramas mais consistentes, porque brasileiro "sofre no dia-a-dia". Já a TV mexe com dinheiro e não é uma arte, é um produto, o que dispensa comentários, já que não vou explicar a sistemática capitalista.

Daí a gente vê essas coisas aí. E Malbergier dá o tom com uma coisa que eu falo há muito tempo:

"A TV Globo orbita em torno do drama das oito. Se a novela vai bem, a emissora vai bem. E, ao contrário das sitcoms semanais que dominam a audiência nos EUA, a telenovela é diária. Enquanto CBS, NBC e ABC têm cinco seriados por semana para cativar o público americano e, com ele, os anunciantes, a Globo só tem um tiro, a novela das oito. Ele tem de ser certeiro, e para isso vale tudo, com pressão enorme sobre seus autores e diretores, boa parte enfartada."
Eu adendo que a CBS, a NBC, a ABC, o Showtime, o CW e outros também se preocupam em trazer novidades e apostar em coisas mais consistentes, por mais que tenhamos sempre as "sitcoms" e suas piadas e os dramecos por filão, tipo "drama familiar", mas ainda assim há coisas pro público pensar, como Desperate Housewives, Lost, 30 Rock, The Sopranos, Dexter, Big Love e os CSIs, enfim...

Fato é: a telenovela tem que mudar. E chamar o público jovem de hoje com coisas mais consistentes do que Malhação e Dance, Dance, Dance. E também pensar em incutir mais inteligência e senso artístico em suas produções e deixar isso transparecer para o público. E não tratá-los como um bando de burros.

2 comentários:

Fernanda Tsuji disse...

Quer trabalhar na Minha Novela, bem? Ultimamente você está adorando falar de novela, né? Acho que tpa na revista errada, beeee....

Anônimo disse...

Um fato é claro, a minha mãe não vai gostar de parar de vê o bonzinho vencer no final e o vilão ser penalizado e nem vai querer assistir algo que a faça pensar e refletir a fundo. Tudo precisa ser superficial ao extremo para satisfazer àqueles que se acomodam em frente a tv. E o resto que continue a reclamar...