segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Heroísmos

O maior problema e o maior mérito de Tropa de Elite são o mesmo: é um filme perigoso. Uma narrativa muito inteligente e convincente, mas sobre uma postura condenável. A história sobre a guerra (como é descrita) do BOPE contra o crime e o tráfico no Rio de Janeiro é contada do ponto de vista do batalhão. Logo, tortura, mortes e abuso de poder são maus necessários.

Até aí, não seria motivo para acusar o filme de panfletário. O que realmente pega é que ele é muito bom. Um título de ação bem construído, com personagens e ações se amarrando em uma trama elaborada a caminho de um desfecho à altura da expectativa que cria. É difícil a platéia desatenta perceber que o ponto de vista apresentado é um só.

Tudo é feito para que o capitão Nascimento seja o herói que é. Ele narra o filme com uma bússula moral rígida em um mundo onde a corrupção é de praxe. Suas ações são sempre amparadas por um desejo de retornar ao lar, em uma vida de paz com sua família. Ele até salva dois rapazes da morte certa e oferece abrigo em uma instituição acima de qualquer suspeita.

A genialidade se mostra, mesmo, no terceiro ato. A narrativa de luta contra o crime ganha a faceta de filme de vingança. Os vilões são estabelecidos, os heróis assumem a responsabilidade de fazer a limpeza e a platéia, claro, embarca. Terrivelmente convincente.

Tecnicamente, o filme tem falhas. Soa quase monocórdio com sua câmera estilo documental durante toda a narrativa. Não há alívio e, por isso, a impressão é que nem mesmo a casa de Nascimento é o refúgio que ele diz ser. A narração do capitão é excessiva e circula em repetições já no segundo ato, mas se torna importante para pontuar a opinião de quem realmente está contando a história.

Wagner Moura, no que pode ser o seu melhor papel, convence do sotaque carioca às crises de pânico. Suas afrontas aos moradores na favela, com olhar fixo e voz acusatória, são típicas de um psicopata e, ainda assim, conseguem fazer seu discurso moral parecer correto.


Mas o destaque cai sobre André Ramiro (Matias). Seu personagem se transforma de maneira sutil ao longo da história. Somente quando chega ao lado oposto do espectro é que notamos a transfiguração drástica pela qual passou. E, vendo sua chegada ao lado considerado “seguro” da lei, quando finalmente é exposto à prova que definirá seu caráter dentro da sociedade, Matias não hesita muito na escolha. E o resultado é o que se vê: o cano de uma arma calibre 12 engatilhada e apontada sem remorso para a cara de cada um na platéia.

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