terça-feira, 25 de setembro de 2007

Eu esqueci de alguma coisa?

Tudo começa sempre com um esquecimento. Alzheimer é uma doença maldita. Um dia se esquece o nome do marido, no outro da filha, no outro como se usa o garfo. E aí, uma fina garoa mental faz manchar os pensamentos e tudo que sobra são borrões. Sei, porque na minha família já teve. E na de Kate, protagonista da peça A Graça da vida, também.

Na história da americana Trish Vradenburg (adaptada por Paulo Autran), a moça é uma roteirista de comédia famosa que aprende a lidar com suas ansiedade e com as de sua mãe Grace, uma dama da
high society americana, que desenvolve a doença.

Os olhares parados e vazios, as frases desconexas e o desespero dos parentes, tudo está lá representado sob direção do inventivo Aimar Labaki. Nathalia Timberg (Grace), veterana que é, está sempre inteirona no palco. Parece conhecer as nuances da doença e criou uma Grace forte e fragilizada ao mesmo tempo. Ponto pra ela.

Em compensação, o bonitinho Marty (Fábio Azevedo) só serve para isso mesmo, ser um gay (daqueles de munheca para cima) bem bonitinho. Só. O elenco, que ainda conta com o correto Emílio Orciollo Netto, a estridente Clara Carvalho e o casal terceira idade Ênio Gonçalves e Eliana Rocha, cumprem a que vieram sem novidades.

Guardo este parágrafo para a protagonista Kate. Acompanho Graziella Moretto, porque acho que ela se destaca nos trabalhos que faz. Mas naquele dia se cumpriu uma das leis do teatro: atores tem sim dias ruins. A sensação de vazio proposital da doente de Nathalia, parecia ecoar no não proposital de Graziella. Ela, sempre com timing de comédia, estava no piloto automático. Uma pena, mas compreensível. Tem dias que a gente não tá bem, né?

Agora o que não é perdoável é a cenografia mal disposta – sofás, cadeiras e afins jogados no palco- e os contra-regras entrando para mudar uma poltrana de lugar. Perdão, mas os atores não poderiam fazer isso? O figurino, fantástico e funcional até a metade da peça, perde um pouco da força porque pede uns consertos nas barras dos vestidos e dos casacos.

Apesar de tudo, vale sim a pena assistir. Piadinhas à parte, não vá esperando nada muito memorável, porque afinal algumas vezes tudo termina também em um grande esquecimento.


Obs: agora, se o tema da doença te interessa mesmo, veja o filme argentino O Filho da Noiva (2001). De chorar.

5 comentários:

Beto disse...

você gostou tudo isso, mesmo?
eu acho que assisti outra peça...

Fernanda Tsuji disse...

quem disse que eu gostei?

Unknown disse...

Só pra constar, eu não sou gay.
Obrigado.

Fernanda Tsuji disse...

Olá Fábio,

O que eu quis dizer era que o personagem era limitado. Em nenhum momento afirmei que você era gay. Desculpe se me fiz entender errado

Unknown disse...

Ah, tudo bem. Obrigado por escrever sobre o espetáculo. Um grande abraço.