sexta-feira, 20 de julho de 2007

"Quando a morte decide contar uma história, você deve parar para lê-la"

Esta é a frase estampada na contra-capa da Menina que roubava livros, do australiano Markus Zusak. Confesso, por espontânea vontade eu não teria comprado o livro. Não sou adepta dos best-sellers e tenha plena consciência de que é por puro preconceito. Simplesmente não confio no gosto de milhões de leitores, sempre tão ávidos por um novo Paulo Coelho ou um exemplar fresquinho do Diário de Brigdet Jones (aliás, por favor Helen Fielding, pare de contar a história dessa gorda!). Na lista dos mais vendidos da New York Times há 43 semanas, eu o ganhei de um grande amigo e resolvi encarar.

No começo, a impressão que eu tinha era de que o autor, todo cheio de recursos supostamente criativos e engraçadinhos, escrevia cada linha pensando: "Cara, eu sou foda. Falar fingindo que sou a morte é genial! Vou ganhar milhões!". Será que ele não tinha ouvido falar de um livririnho chamado Intermitências da Morte, de um tal de José Saramago? E um tal de Jonathan Safran Foer, que ficou notoriamente conhecido por usar recursos geniais em seus livros? Pois sim, de fato, Zusak ficou famoso e rico, mas seu livro não tem metade da criatividade dos outros dois.

Sei, nem todos os livros precisam ser geniais para serem bons de ler. E esse é o caso da Menina. De fato, a história de Liesel Meminger, uma menina alemã abandonada pela mãe, que viu o irmão morrer e é adotada por um casal pobretão, envolve o leitor sim. Os personagens secundários vão sendo apresentados com simpatia e todos, até os piores, como Hitler ganham um carisma extra.

Dos judeus escondidos no porão aos alemães mais irracionalmente patrióticos, todos ganham a mesma coloração. Todos são vítimas do ambiente, todos tem justificativas mil, mas poucos fazem escolhas ou são corajosos o bastante para mudar o que acontece nas suas vidas miseráveis. Eles ensaiam, mas caminham com a inércia das coisas ao seu redor.

Egocêntrico, o autor achou tão triste a história que iria contar, que acabou fazendo ela ficar suave até demais. E previsível. Até mesmo o final, supostamente violento, acaba tendo ares de cena de sexo em novela: mostra a cena, mas tampa o que realmente interessa. No caso do livro, a dor .

Seria bacana se o autor não parecesse estar o tempo todo ensaiando para entrar em sua melhor parte. Fora o tom dramático e completamente humano que A Morte, narradora da história, tem. Ela fica se lamuriando pelos cantos por ter que ceifar a vida das pessoas, tal qual você reclama de ter que ir trabalhar todos os dias. E o pior: Dona Morte fica o tempo todo revelando o que vem a seguir, e quando finalmente chega o episódio, você já sabe tudo. Aí cadê a graça?

A Morte é uma grande estraga-prazeres.

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