segunda-feira, 30 de julho de 2007

Posso abrir?

"Eu tenho tanto pra te falar....", e os primeiros versos da canção do Rei vieram cortantes, direto no peito. Amor pode não doer, mas terminar a temporada de Amores Dissecados doeu. Muito. Como nunca antes. Ontem foi o último dia. A gente se apega, depois fica difícil ir embora.


A cada troca de roupa eu sentia uma pontadinha, a cada BO, um pedacinho indo embora. A cada levantar da cadeira, um pesar que ficava enterrado pra sempre naquele porão. A cada grito, um pouco de mim perdendo-se ali. Deve ser por isso que os fantasmas não vão embora. É aquela vontade de se agarrar ao que você gosta muito.

Tantas coisas deram erradas. Calça e camisa esquecidas, vestido perdido, foto que desaparecia, garrafa derrubada. Flores entregues em cena, gritos, muito gritos. Carros quebrados, guinchos, baratas, espinhos de rosa cravados na palma da mão. Dias ruins (que ninguém é de ferro), incensos queimados, público frio, atores frios, erros, gaguejadas, Claras trocadas por Fernandas. Dor de barriga, luzes acesas quando se buscava a escuridão. Escuridão quando se buscava luz interna.

Muita coisa acontece em dois meses. De nascer a morrer, a gente viveu. E pra um grupo novo como o Teatro Insano, tudo é aprendizado. No final, depois que o desespero passa, tudo vira piada. E orgulho também. Que a gente sabe que não é fácil. Sair do ABC, ir pra festival, fazer nome, conquistar....é quase desbravar! Mas sonhamos grande. O Satyros foi a conquista merecida, a vontade de ir além, a certeza de que trabalho de verdade traz retorno.

Encrustradas. Cada uma das 18 apresentações grudadas na memória. E todas as dificuldades do terceiro parágrafo, viram só lembrança boa, que me custa muito deixar pra trás. Combinada com as conversas se maquiando, se aquecer dividindo canções, a cumplicidade de cena (e fora dela), o depois do espetáculo, as mãos apertadas no escuro. O último abraço na cochia. Apertado, choroso.

Quando a luz acendeu, as palmas carregavam uma certeza cega de que dá para ir mais longe se a gente quiser. Depois de dois anos fazendo essa peça, eu sei que não foi a última temporada, mas algo mudou.

Hoje sobra a ressaca artística. Que venham as próximas temporadas, as próximas peças, as próximas, as próximas...Mas agora, me dá licença, que vou ali vivenciar o luto.

"Lua vai..."

2 comentários:

Kéroly Gritti disse...

"posso tá abrindo?"




dói em cada suspiro de alívio pelo fim de temporada de DOIS MESES. era tanto né?


amei. every singly day.

Valmir Junior disse...

Porra, tô mal. Malzaço. Demais. Demais. Demais. Sem palavras.