sábado, 17 de março de 2007

Movimentos exploratórios

Ontem eu pus os pés no palco do Teatro Municipal. Mas pouco importava isso. Ao entrar, já se via onde a Cia. 2 do Balé da Cidade de São Paulo queria chegar. A proximidade com o público, para eles, era urgente. A imensidão do palco do Municipal é algo que eles queriam vencer. E o ângulo que precisavam do público, o ângulo pessoal e o ângulo cenográfico, pediam uma aproximação. Foram três coreografias: Dois Corpos Que Caem, Óptica e Um Outro Corpo. Poucos intérpretes em cada uma.

Dois Corpos Que Caem trazia dois homens (Aguinaldo Bueno e Osmar Zampieri), numa luta simbólica: um era o que comandava; o outro, o comandado. Cenografia belíssima e limpa. Folhas brancas ao chão formando um mosaico, um paletó, dois banquinhos, um poste móvel de luz, dois apitos e um acordeón. Tocado por um dos intérpretes, inclusive. O homem-ditador impunha ritmo, força, passava na frente do outro, mexia nele como uma marionete. Alguns ecos no conto homônimo de João Silvério Trevisan.

Poderosíssimo. Principalmente pela força dos intérpretes. Rápidos, mexiam-se como gatos, evocando símbolos, como num Esperando Godot misturado com Liberdade, Liberdade. Destaque para a cena do poste móvel de luz, que girava enquanto eles se esquivavam, um jogando o poste contra o outro.

Óptica era o mais fraco. Mas não menos bonito. Um sólo. A marionete (Andréia Maia), novamente, com nariz de palhaço e um vestido que se despedaçava em plumas. Ganhava forma na dança, querendo ser gente. E acabava se apaixonando pelo palhaço de brinquedo, que tocava como uma caixinha de música. Bonito, sim. Mas não entusiasmava.

Por outro lado, a última coreografia, Um Outro Corpo, também trazia um sólo, mas melhor construído. As irritações de uma mulher (Cláudia Palma) desesperada por amor, carinho e companhia. Uma figura desenhada no chão por fitas transfigurava a prisão da qual ela não poderia sair. Espasmos, giros, quedas, tensões, planos alterados, textos fragmentados. A intérprete inclinada quase sempre. E quando em equilíbrio, não se contentava. Uma expressão vivaz, dança-teatro na mais pura energia.

A Cia. 2 é a verve exploratória da dança contemporânea de São Paulo. Vale sempre o ingresso.

* A Cia. 2 segue com apresentações neste final-de-semana, no Teatro Municipal. São apenas 110 lugares. Então a dica é: compre antes.

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