quinta-feira, 29 de março de 2007

O avarento Autran

Se tivéssemos que denominar o rei do teatro brasileiro (como fizemos com a dama aqui) esse rei seria o grande Paulo Autran. Na quinta-feira, fui assistí-lo no Teatro Cultura Artística, em O Avarento. Ele, como sempre, esplêndido. Dispensa comentários.

O Avarento é uma peça escrita pelo francês Moliére, em 1668. Grande conhecedor da aristocracia francesa da época, por onde transitava com sua companhia, o dramaturgo pincelava retratos cáusticos muito precisos dos "nobres", utilizando a comédia como instrumento principal. Fazendo do riso sua arma, Moliére atraía platéias e ainda conquistava amizade com os nobres retratados que, vistos através da comicidade, não se davam conta da crítica contida nas entrelinhas.

Hoje, O Avarento é uma peça que demonstra a mesma acidez. Sua simplicidade reside no fato de retratar algo que seja muito ligado à época em que foi escrita, mas que revela como a avareza não mudou nada desde aqueles tempos. Baseado nisso, Felipe Hirsch, diretor da Sutil Companhia de Teatro ficou incumbido de dirigir Autran como o avarento Harpagon. Felipe, com um time ótimo de atores - entre eles, estavam Elias Andreato, Gustavo Machado e Cláudia Missura- consegue o efeito cômico e o público se afeiçoa ao espetáculo muito rápido. Autran oferece grandes momentos de riso e segura tudo, ponta a ponta.

A peça funciona. Sim. Mas artisticamente, faltam coisas. A cenografia de Daniela Thomas é apenas cenário, utilizado na peça apenas no início. De resto, funciona como porta de entrada e saída de personagens. Desperdício. Ainda porque come o espaço de um grande palco, reduzindo a uma boca de cena estendida. A trilha sonora, nem se ouve direito. A iluminação: pobre. Alguns sobe-e-desce de luz e uns focos aqui e acolá em solilóquios de Autran. E, além disso, o texto é seguido do início ao fim, sem nenhuma vírgula trocada. É L'Avare da época de Moliére, apenas. Há certo destaque para a personagem que destoa: o filho de Harpagon, que usa um tênis All-Star, provavelmente uma dica do próprio ator.

Hirsch, um diretor com grande inventividade, prendeu-se ao feijão-com-arroz. Mas não estava de todo errado. Pois parece que colocou-se à serviço do grande ator. Ao menos. E a platéia é levada por ele. Quem tem tantos anos de teatro, com tanto esmero e técnica, coloca fácil o público nas palmas das mãos. São 84 anos. Bem vividos. Bem encenados. Até agora, não me livrei do encanto de ver Paulo Autran em cena. Toda vez que o vejo, me orgulho da arte de ser ator.

3 comentários:

Fernanda Tsuji disse...

Rá! No filme Maria Antonieta um dos personagens também usa all-star. Será uma tendência? Esse povo adora uma metáfora fácil.

Le Pardí disse...

eu quero ver o Paulão ainda? alguem sabe até quando ta em cartaz?

Fe! sobre Maria Antonieta... foi só um comentario ou vc teve a audacia de não gostar do filme? rsrs bjooo

Kéroly Gritti disse...

ainda tá em cartaz, Lê. Lá onde o Vj viu.



Parece que a temporada por estendida e ele fica até junho ou julho.

Eu vou. O Paulo é muito legal.