quarta-feira, 7 de março de 2007

Teatro não é instrumento a serviço da literatura

Anatol Rosenfeld é um judeu que deixou a Europa durante o nazismo e estabeleceu-se no Brasil; estudou filosofia e aqui lecionou palestras e escreveu ensaios teatrais influenciando muitos teatrólogos. O texto que eu li é de uma palestra onde Anatol fala da essência do teatro e do personagem e como esta essência nasce justamente quando o ator se transforma em personagem.


"A essência do teatro é, portanto, o ator transformado em personagem. O texto é um bloco de pedra que será enformado pelo ator (diretor). O texto contém apenas virtualmente o que precisa ser atualizado e concretizado pela idéia e forma teatrais. A atualização é a encarnação, a passagem de palavras abstratas e descontínuas para a continuidade sensível, existencial, da presença humana".

É uma questão que a gente costuma se perder. Falar da cena é fundamental inclusive para encontrar argumentos que a fundamente mais, porém existe um abismo entre "falar cena" e "fazer cena". Ouvi milhares de vezes "é teatro, e teatro não fica só na fala, tem que ir pro palco, tem que ir pra cena, tem que fazer pra ver". E é puramente real, é aí que mora a diferença de teatro e literatura.

O teatro e a literatura serão simplesmente literatura até a hora que passarem a ser encenados, a partir daí existem escolhas feitas especialmente para aquele texto e a responsabilidade é muito do ator que, dentro daquele contexto, preenche as lacunas que a história deixa em branco. "O texto deixa indeterminada uma infinidade de momentos" e é neste momento precioso que vale mais que um diamante que a arte teatral se estabelece como viva e pulsa, caso contrário a identificação do público com esse personagem não acontece. E não acontecer faz o canal que é o teatro falhar, se este é troca e "o homem, de fato, só se torna homem graças à sua capacidade de separar-se de si mesmo e identificar-se com o outro".

2 comentários:

Anônimo disse...

Simples: pintura é pintar, literatura é escrever, cinema é imagem. Teatro é ação. Sempre foi, é e sempre vai ser.

Anônimo disse...

Concordo com o Valmir. E não tem melhor ou pior, pois tudo é arte e tem seu lugar...além disso...adoro quando tudo isso dialoga.