quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Não há como parar o que está por vir

Javier BardemÉ difícil não sair desesperançado do cinema após a sessão de Onde Os Fracos Não Têm Vez. Isso porque o título se faz regra. O mundo, cada vez mais, não é para fracos. Pior ainda se você levar em conta que o oposto dessa fraqueza é personificada por Chigurh, personagem de Javier Bardem. Um assassino frio, louco e indiferente ao sofrimento. O mal encarnado que, cada vez mais, projetamos nas histórias que ouvimos por aí.

A premissa é simples como qualquer mola motora dos filmes dos irmãos Coen. Llewelyn Moss, um pacato veterano do Vietnã vivido por Josh Brolin (seu segundo grande papel deste ano), encontra uma mala com dois milhões de dólares em meio a uma mal-sucedida negociação de drogas. Ele decide ficar com o dinheiro, o que sela seu destino – pois Chigurh já tinha tomado a mesma decisão. É o xerife Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones) quem tenta dar um fim a trilha de cadáveres que só aumenta.
Josh Brolin
Chigurh é determinado como um pesadelo. Sua primeira cena – sufocando um policial até a morte – deixa bem claro quem é o sujeito e do que ele é capaz. E também já garantiu o Oscar de ator coadjuvante neste ano, certamente. Seu contraste com Llewelyn nos faz até ter pena por este último. Que chance ele tem? Talvez se Ed Tom conseguir salvá-lo a tempo... Mas este, tão reticente e assustado com o mundo, nós dá a face de homem comum frente ao horror. Ele parece evitar o confronto o tempo todo, ciente de que é muito pequeno para parar “o que está por vir”. Ainda assim, não consegue deixar de sofrer.

A direção nada menos do que genial dos irmãos Coen cede um ritmo brilhante à narrativa. Eles entregam uma tensão cavalar ao longo de toda a projeção e, ao contrário de qualquer expectativa, nunca a liberam. O filme termina tão tenso quanto pode, sem oferecer qualquer alívio. Isso não apenas ao negar o clímax da história, mas construindo tudo através de ações abruptas e realistas, abrindo mão até de música na trilha sonora. O espectador fica à mercê, assim como os personagens. Nada pode ser feito.

Tommy Lee JonesA síntese do genial está na última cena. Quero rever o filme apenas para prestar maior atenção ao discurso de Ed Tom, que, ao descrever um sonho, também descreve o sentimento de todo homem frente a um mundo fora de controle. Lee Jones, perfeito em sua entonação e ritmo, parece querer fugir pra algum lugar distante. É difícil para o público não querer ir com ele. Onde está o final feliz? Onde está a paz? Estava ali, tão próxima. Dava até para sentí-la. Mas ai... ai eu acordei.

2 comentários:

Anônimo disse...

Amei esse filme. E a platéia saiu resmungando no final. "Ai, tão abrupto"...

Anônimo disse...

Nada como um filme que não seja óbvio...