terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Cloverfield

Eu gostei de A Bruxa de Blair, principalmente pelo ponto-de-vista da câmera. Espécie de "cinema-verité", legal. No estranho caso dos jovens que filmam florestas, se perdem e encontram a casa da bruxa, o componente terror é o que movia o filme. Mas era um terror sem CGI, "das antigas", diriam alguns. Ainda não havia visto esse mesmo "gênero subjetivo"- se é que podemos chamá-lo assim - numa perspectiva mais emocionante, até que vi Cloverfield.

O longa traz a experiência de filmes de monstro sem esbarrar em Godzilla (graças a Deus). A catástrofe de Roland Emmerich trazia o monstro japonês destruindo a cidade de Nova York numa trama pastiche com um Matthew Broderick pateta (sempre, não?) e Jean Reno repetindo pela quadragésima vez o papel do policial francês com sotaque arrastado. Lembra dos ovos no Madison Square Garden e as aparições absurdamente "mágicas" do gigantesco monstro de dentro de prédios? Melhor esquecer...

E é o que Matt Reeves, o diretor, nos propõe. Esquecer de Godzilla. Produzido por J. J. Abrams (produtor de Lost), Cloverfield é bem objetivo: somos apresentados a esta filmagem, dizendo que foi encontrada no lugar que antes fora conhecido como Central Park. O que se segue é a "apresentação" dos personagens: Rob (Michael Stahl-David) está num dia maravilhoso com Beth (Odette Yustman), em abril. Ele curte bastante o dia com a "ficante". Corte. É maio e Lily (Jessica Lucas), namorada do irmão de Rob, Jason (Mike Vogel), prepara a festa de despedida de Rob, pois ele vai morar no Japão. Talvez Beth venha. Quem fica a cargo de "documentar" as despedidas de cada um é Hud (T. J. Miller), que é o personagem que leva a câmera por todo o filme a partir de então.

E é aí que tudo acontece: sem maiores truques, as luzes se vão, todos se apavoram, uma grande explosão envia fragmentos pelo ar e há correria no maior estilo "11 de Setembro". A impressão é de que tudo está se repetindo. Subitamente, cai a cabeça da Estátua da Liberdade na rua do apartamento de Rob. Mais correria e um vulto gigantesco é visto derrubando prédios. E todos decidem pegar a ponte do Brooklyn para fugir de NY. E é essa a nossa história. Reeves conduz a história a partir do registro seco e direto de uma camcorder, sem delongas, mostrando uma perspectiva realista de um ataque de um monstro a uma cidade grande como a Big Apple.

A sensação de quem assiste, obviamente, é de participar do caos instaurado por toda a parte. Não obstante, a ameaça imposta pelo bicho é muito grande. Ele parece invulnerável e ainda expele pequenas "partes" (chamemos assim). No meio de tudo isso, os amigos decidem salvar a Beth-amada-de-Rob, que liga desesperada em seu celular. E estamos tão tomados por tudo aquilo que não pensamos no mais óbvio: não rola salvar. Não rola ir pelos túneis do metrô. O filme absorve o espectador de tal forma que só vamos pensar nisso depois.

Reeves utiliza a parafernália toda para ajudar a contar a sua história: perda de foco, câmera deixada em algum lugar, visão noturna, tremores... O ponto-de-vista em primeira pessoa é eficiente ao instalar o terror das situações e pega o espectador pela garganta. A tensão é a de viver aquele momento. De ir junto com os personagens sem ter a chance de fugir. Não há como. O filme propõe a jornada e o espectador vai.

Agora, não vá esperar por reflexões e tensões dramáticas. Também você, que gosta de fotografia apurada e inteligente, esqueça. Aqui não se trata de ângulo, mas da falta de. E é maravilhoso ver que temos câmeras indestrutíveis e com um poder de captação de som e ruídos extremamente equiparáveis às aparelhagens de cinema. Mas não devemos levar isso em conta. É filme de entretenimento, bem-feito e, ainda bem, não quer a todo instante abusar da inteligência do espectador. E temos a sensação de que, se fosse verdade, não seria nada além daquilo. Ninguém teria uma grande visão da vida ou faria uma alegoria sobre a condição humana. No final, é caos e sobrevivência.

Um comentário:

Unknown disse...

cloverfield eh o tipo de filme chuchu. tanto faz como tanto fez, utiliza uma formula parecida com a de a bruxa de blair que prende o expectador justamente por nao mostrar oq tem que ser mostrado e sim o que os personagens estao vendo. eh um filme otimo, mas nao mudou a minha vida.