quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Sobra talento, falta risco

A esta altura da carreira de Tim Burton, ele já deve ter percebido que enfrenta a bifurcação fundamental: tornar-se grande ou permanecer apenas estabelecido? Perguntassem minha opinião há dez anos, eu apostaria que ele escolheria a primeira. O sujeito criou um estilo cinematográfico seu, se arriscando em obras como Edward Mãos-de-Tesoura, Ed Wood e, em menor grau, até Batman.

Mas hoje eu tenho dúvidas. Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet, deixa bem claro o porquê. Parece que, desde A Lenda do Cavaleiro Sem-Cabeça, Burton não se esforça muito em inventar, ou expandir as barreiras do que já criou. Contenta-se em brincar de reencontrar sempre os mesmos enredos, os mesmos espaços, tudo igual.

A história é conhecida. O barbeiro Benjamin Barker (Johny Depp) é enviado para uma prisão por um juiz inescrupuloso (Alan Rickman) que quer por as mãos em sua mulher. Após 15 anos, ele foge, e parte para vingar-se do vilão, montando uma barbearia sobre a loja de tortas da viúva Lovett (Helena Bonham Carter), que prepara suas receitas com carne do corpo das vítimas.

O maior diferencial sobre tantos outros filmes do cineasta é o fator musical. Aqui os personagens cantam seus feitos e sentimentos. Mas, bem ao tipo Burton, não seguem a cartilha Cantando na Chuva, e sim uma faceta mais operesca, com canções que não soam bonitas nem dão vontade de assoviar. Como musical, o filme não funciona bem, mas as músicas são importantes, sim, para o resultado final.

Depp – indicado ao Oscar – parece no mesmo automático que o diretor. Não canta bem, é fato, mas também não investe nada diferente do que a história propõe. É como se confiasse demais em Burton, assumindo alguns erros sem filtrá-los. Mas longe do elenco estar mal. Rickman segue sempre competente e Bonham Carter merece mais holofotes por criar a personagem mais cheia de nuances. Chega a dar pena das más escolhas da viúva.

Não é péssimo. A direção de arte, aliás, segue belíssima como em todos os filmes de Burton. Mesmo as cenas mais sanguinárias e violentas são lindas de ver. O único problema é que, por regra, este se tornará apenas mais um em sua filmografia. Mesmo pra escrever esta resenha, tive que abrir a Wikipédia para conferir qual foi mesmo a ordem dos últimos três filmes dele. Eles ficam cada vez mais parecidos – ricos demais no visual, fracos demais no emocional. É fácil notar que ele não corre mais riscos com o que faz. Isso pode ser ótimo do ponto de vista comercial, mas é sempre ruim da perspectiva artística.

Eu sempre sinto um pouco de tristeza ao ver um grande talento se desperdiçando.

2 comentários:

Unknown disse...

sou fã do tim e reconeço que esse nao eh o seu melhor trabalho. eu prefiro o tim burton mais ludico e emotivo como em peixe grande e edward maos de tessoura, essa linha neo gotica que ele usa em sweeney eu acho que fica melhor nas animaçoes. o filme eh bom, mas nao superou minhas expectativas musicalmente e nao falo das cançoes e sim do tema principal que nao enplacou.

Eder Bastos disse...

Como é bom encontrar as palavras certas para falar de uma obra do Tim Burton. Tive a mesma impressão que essa impressa em sua resenha. A primeira palavra que disse ao ser questionado sobre o que achei do filme ao sair da pré-estréia no noitão do Belas Artes foi: Repetitivo.