sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Querido e raro leitor,

Desculpe ficar tanto tempo sem escrever-te. Estava ocupada me deixando levar pela logística ilógica da vida. Mas achei urgente, muito urgente, vir aqui te dizer sobre um livro que acabei de ler. Amós Oz é o escritor do pertinente, dolorido e cruel A Caixa Preta, que não tem nada a ver com desastres aéreos, mas com últimas palavras. E sabe, não consigo lidar muito bem com o derradeiro. O escritor israelense é um daqueles autores que você precisa ler antes de....bem, você tem que ler. Vencedor do Príncipe das Astúrias de Letras 2007, o homem é fera. Escreve sobre palestinos e israelenses como ninguém, afinal é co-fundador do movimento pacifista Peace Now.

O livro é um baú de cartas antigas, cheirando mofo. Eu me senti invadindo a intimidade de Ilana, Alex, Michel e Boaz que trocam mensagens, telegramas e longas longas cartas entre si e com outros personagens. Pelo o que cada um conta, você vai remontando a personalidade deles e percebendo os joguetes e intrigas que permeiam todas as relações humanas. Ora revelendo mais do que querem, ora escondendo o que já é óbvio, os personagens se consomem. E todos são tão imensamente complexos e miseráveis, que você começa a se identificar com as maldades e felicidades furtivas de cada um. Não somos nós também seres tristes, leitor?


E você percebe durante o relato desesperado dos personagens, que cada um só pensa em si mesmo. As relações - árabes-judeus, esposa-marido, filho-pai, família-sociedade- todas elas, acredite, são iguais. Afinal, a base é sempre a mesma: homens. Somos a destruição de nós mesmos e dos outros, mas também a resposta de todas as nossas angústias. Depois de ler A Caixa Preta, você tem aflição de estar viva.

Mas e você? Me conte o que tem visto por aí! Mas por favor, não me ligue, escreva, porque as letras já dizem o bastante. Quero ficar um bom tempo longe de ti. E de mim.

Sinceramente Sua,

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