terça-feira, 28 de agosto de 2007

Caminhos Tropicais

Hoje estreou Caminhos do Coração, da Rede Record, com a promessa de ser uma novela diferente das outras, por trazer como mote jovens mutantes a la X-Men ou Heroes. Bem, tenho ressalvas. Acabei de assistir. Estava curioso. E o que vi mostra um pouco dos problemas que toda telenovela brasileira tem.

A abertura é uma cópia descarada do filme X-Men. Tudo bem, vai. Damos um desconto. Daí vem o problema de explicar tudinho. No primeiro capítulo sabemos que a tal clínica Progênese é a que deu início à mutação de todos os jovens e há até algumas famílias que encaram normalmente o filho enxergar como uma águia ou ler pensamentos. Angelina Muniz chegou a soltar um "Ai, meu filho, você sempre lê os pensamentos de todo mundo". Nada normal, não? Como assim? Foram constrangedoras essas situações... E pra quê explicar tudinho? Porque o público é burro? Vai parar de assistir a novela se não explicar como os jovens chegaram ao estado de mutantes? Nas entrelinhas, é o que eles acham. O didatismo deve aparecer, senão o IBOPE debanda. Besteira.

Por enquanto, nenhum conflito estabelecido, mas só a apresentação dos personagens. Alguns efeitos muito bons para o padrão da TV brasileira, como a corrida "a la Flash" do menino Aquiles, mas outros um pouco ruins como o menino Vavá, que pula de um lugar para outro sem fluidez, como que alçado por um arame que foi depois apagado com computação gráfica. Vamos ver o que a Record nos reserva em termos de efeito especiais, me parece promissor (se melhorarem), mas o que se diz sobre a história? Vai seguir o mesmo esquema de telenovelas, como sempre. Vilões, bonzinhos, cômicos, bem contra o mal, coisas assim. Falo mais de Caminhos do Coração quando tiver mais. Mas criou um comichão para ver o que está por vir. Record, vamos fazer uma novela diferente, vamos? Não só pegar um tema diferente, mas fazer diferente, vamos? Vocês têm como. E têm iniciativa. Coisa que a novela da concorrente não tem.

Falo de Paraíso Tropical, da Rede Globo, que vem sendo aclamada como uma novela que há muito tempo não se via na TV, com uma história (dizem) inventiva que se afasta do tom folhetinesco de sempre. Eu não concordo. Que Gilberto Braga criou uma novela interessante, pode-se até dizer, mas daí a afirmar que é um produto novelesco de qualidade e "catiguria", que estabelece bases para uma nova teledramaturgia no país e blá-blá-blá, eu sou OBRIGADO a discordar. O que Paraíso Tropical fez: introduziu alguns pequenos pitacos nas mocinhas e nos vilões, um cheirinho de imoralidade e uma pitadinha de subversão nas personagens, transformando-as em criações um tonzinho só mais complexas. E logicamente que a Globo fez isso depois de descobrir, via pesquisa com suas fiéis donas-de-casa (provavelmente desesperadas), que ver a mocinha(o) passiva(o) não dava IBOPE.

Tá bom, e a maldita história de amor? Está lá. Vide Paula e Fábio Assunção, digo, Daniel. E os vilões? Olavo, Marion, Taís, Bebel, Jáder... Tá. E o núcleo cômico? Lá também, vide Marco Ricca, Isabella Garcia e a síndica. E o núcleo de apelo jovem? Gustavo Leão, Paulo Vilhena, Patrícia Werneck e co-co-co-"estrelas"... O casal fica junto no final? Lógico. Com direito a casamento e bebê. Quem matou a gêmea Paula, digo, Taís? Nada demais. Deve ser a Marion, o Bruno Gagl-, digo Ivan, ou o vilãosíssimo Olavo.

Então, o que precisam essas novelas? Precisam esquecer dos maniqueísmos de vez. Esquecer, limpar, excluir. Botão DELETE, por favor. Criar histórias um pouco mais interessantes e que visem, de verdade, falar da interioridade humana, de versar sobre as relações sem esse tom melodramático. Transformar as novelas em dramas. Explorar enredos que não se coloquem somente à margem do IBOPE. Não deu IBOPE? Encurte e tire do ar, assim como as séries norte-americanas. Aliás, seguindo o exemplo ianque também, fazer temporadas é uma boa. Nada de seis meses de enrolação. Isso é um começo. Difícil, né? As donas-de-casa podem não gostar. Pena que as emissoras ainda não perceberam que falam mais com um público que quer ver coisa nova e que esse é o público "dona-de-casa" de amanhã. Pena.

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