A gente sempre precisa de amor
Um desejo quase infantil me move a assistir musicais. É aquela vontade de acreditar que as pessoas podem realmente estar andando na rua mau-humorados com suas pastas executivas e de repente começar a cantar canções em uníssono, rodopiar e dançar coreografias extremamente complexas como se isso fosse o caminho natural da vida. É inocente.
Entretanto, quando abandono meus desejos primários, percebo que um bom musical precisa mais do que passinhos ensaiados e gente com voz bonitinha cantando. Também vai além do videoclipe e das canções-tristes-para-momentos-tristes e das felizes-para-momentos-felizes. Dá sim para fugir disso, brincar muito com as imagens e até experimentar novas maneiras de transpor a vivacidade do parágrafo acima sem cair na mesmice. O problema é que poucos diretores tem colhões para tal.
Julie Taymor, diretora de Across the Universe, parece ter inicialmente tentado provar que um musical bem feito poderia ter muita experimentação visual, porém, o resultado final parece provar que os estúdios sempre tem a palavra final. O que é triste, porque potencial o filme tem. Mas vamos começar pelo mote: Beatles.
A trilha sonora é inteirinha composta por músicas do quarteto e cantadas (mal) pelos atores. Agora tente imaginar este samba do criolo doido: o longa tenta acompanhar a discografia, a trajetória pessoal, o posicionamento deles no contexto da época, as situações memoráveis pelas quais eles passaram, mas sem representá-los fisicamente. Linke tudo isso a uma história de amor fictícia, cujo os personagens levam o nome das canções mais famosas. Um trabalhão do cacete e o filme ainda tenta enfiar Jimi Hendrix e Janis Joplin, como um casal pseudo-fofo. Over.
Não se pode esperar veracidade de um musical, mas também não dá para ficar forçando situações só para poder encaixar as canções e seus respectivos temas. Não gostei de Strawberry Fields Forever e odiei muito Dear Prudence. Hey Jude é óbvia, assim como Revolution, Across The Universe e All You Need Is Love, que não poderia deixar de ser fofa e edificante. Porém, I Want You (She's So Heavy) e I’ve Just Seen a Face são ótimas. Fora as participações especiais. Bono, tão envelhecido que eu quase não reconheci, Joe Cocker, caracterizado de mendigo e Salma Hayek, amiga da diretora, como uma enfermeira sexy.

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